Por Bruna
Piccazio
Tudo que há
de Paulo Leminski me interessa. Principalmente seus poemas. E me chamou a
atenção o fato de um livro dele, Catatau, estar inserido na programação da Casa
das Rosas, durante a Virada Cultural.
Saber que ele seria lido na integra, durante algumas horas,me causou inquietação.
Às vezes,
dentro de um poema inteiro de Leminski, uma ou duas palavras saltam do texto,
libertam-se do conteúdo poético abordado e tornam- se significativas para mim.
Estas poucas palavras realmente são transferíveis para os conteúdos de minha
própria existência e reflexão.
Assim penso
a leitura de um livro seu, usufruído lentamente, da maneira como algumas
expressões e frases são organizadas por ele.

Ele que,
também, e antes de mais nada, é um consagrado poeta, deu risada, e disse que o Catatau é um livro
especial e bem poético. Disse ainda que
não esperava mesmo que alguém ficasse do começo até o final. Imaginei, então,
que, o propósito fosse proporcionar pequenos momentos de fruição para quem lá
resolvesse assentar o traseiro.

Resolvi me
entregar, pesquei os micro enredos que me importavam e viajei nas portas que se
abriam para minha imaginação.
Na
programação, o show do compositor e
produtor musical Cid Campos, filho do grande poeta Augusto de Campos, e sua
banda. Segundo a descrição do evento: “A poesia concreta comparece com destaque
através da musicalização e/ou oralização de poemas de Augusto e Haroldo de
Campos, José Grunewald e Ronaldo Azeredo”.

O trabalho
do quarteto lembra muito as músicas de Tom Zé que têm essa relação com a
poesia. Aliás, Cid Campos também trabalhou com Tom Zé, e, entre outros: Adriana
Calcanhoto, Walter Franco, Péricles Cavalcanti.

Os
passantes da Casa das Rosas e o público sentado nas cadeiras, dentre eles,
crianças e velhos, ouviam de Cid Campos,de repente: “estuprou o meu hímem” e muitas outras sinceridades poéticas dos grandes poetas.Que,aliás, deveriam ser consideradas
palavras e conteúdos normais e usualmente abordados. Mas, não. Infelizmente.
A
irreverência dos músicos é, na verdade, a irreverência da poesia e de suas
críticas e denúncias. O que faz Cid Campos é dar voz à poesia, através da
música, que, das artes, é uma das menos periféricas e uma das mais consumidas.
A
apresentação foi um sucesso, na medida em que a poesia aflorou através da
oralização e conexão de sons com palavras. O mais impactante e significativo
que havia ali eram as palavras. O show foi feito a partir dos três Cds de Cid
Campos: Poesia é Risco, No Lago do Olho e Fala da Palavra. O músico participou,
também, dos grupos: Papa Poluição, Sexo dos Anjos, Zipertensão.
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