3.8.11

Jazz exemplar

Wagner Souza é definitivamente um mineiro. De camisa xadrez, meio gordinho e cabisbaixo, falante experiente do dialeto de Minas – com seus t’s mudos e plurais esquisitos. Mas, o mineiro clássico nascido em Juiz de Fora é também um proeminente trompetista brasileiro. Venceu o XI Prêmio BDMG Instrumental e participou do Savassi Festival 2010, tocou ao lado de Elza Soares, Biquini Cavadão e Emmerson Nogueira.



Cheguei ao SESC Consolação meia hora antes do show e me surpreendi com o público: havia bastante gente para uma segunda-feira à noite. Observei um pequeno grupo de meninas, na faixa de 13 ou 14 anos, e a presença de alguns idosos. Fiquei ainda mais surpreso ao entrar no Teatro Anchieta e ver o palco preparado para o show, bastante colorido e bem produzido. O jazz parecia promissor.


Eis que sobem ao palco Wagner Souza no trompete (e flugelhorn também); Guilherme Stephan na bateria, o argentino Pablo Passini (cujas feições lembravam um psiquiatra freudiano da Belle Époque) na guitarra, Pedro Ivo e o seu imponente contrabaixo acústico e o convidado Walmer Carvalho, no sax tenor.


O show iniciou com “Naquela Época”, de Wagner Souza, e seguiu com a maioria das composições dos próprios músicos. Todas com arranjos muito bem feitos, recheadas de improvisos (os instrumentistas tinham espaço para solar e improvisar pelo menos uma vez, em todas as músicas) e a qualidade do som permitiu que apreciássemos cada nota. Aos poucos, o saxofonista Walmer Carvalho conquistou o público com sua performance carismática e virtuosa, estrela da grandeza de Wagner Souza. Os dois, por sinal, são irmãos!


A apresentação não durou muito e foi fortemente aplaudida. Jazz de primeira linha. Quando os músicos se retiraram, o público pediu “bis”, e eles repetiram “Naquela Época”. Uma boa oportunidade para percebermos, na reincidência dos temas principais, as nuances dos novos improvisos, diferentes dos que haviam sido tocados na primeira versão da música, improvisos que são a alma de qualquer boa apresentação de jazz. Nas palavras de Wagner: “O improviso é liberdade. Cada músico improvisa – fica falando – até acabar o assunto”.


Ao final da apresentação, uma entrevista com os músicos de um pouco mais de meia hora, conduzida por uma apresentadora do SESC. O ponto alto da entrevista foi quando os irmãos Wagner e Walmer contaram sobre suas infâncias musicais em marchas de procissão e bandas de “coreto” do interior das Minas Gerais. Os músicos, durante as marchas sempre repetitivas, ensaiavam alguns improvisos à revelia dos condutores das bandas; histórias relatadas com bastante charme nostálgico.


No final, destaque para a transmissão que o SESC realizou do show e da entrevista pelo SESCTV. Durante a entrevista muitos internautas participaram enviando suas perguntas.


Foi uma noite de jazz exemplar!

Por Bruno Romano

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