30.8.06

17º Festival de Curtas-Metragens de São Paulo - Cinusp - 30/08/06

Curta Curtas


Nessa semana o circuito paulistano foi invadido por inúmeros curtas-metragens dos mais diversos gêneros, tendências e diretores, que, separados em blocos temáticos, compõem o 17º Festival de curtas da cidade.

Fui ao Cinusp nessa quarta-feira às 16 horas assistir a um bloco de seis curtas entitulado “Cinema em Curso 3”. Escolhi por ser o melhor lugar e horário durante a semana, apesar de entre os filmes selecionados não estar nenhum dos mais aclamados pela crítica devido às inovações nas técnicas ou na narrativa. Enfim, lá fui eu novamente, sem saber ao certo o que esperar.

Cheguei após dez minutos do início da sessão, o que me fez perder uma parte do início do primeiro filme, “Berenice”. Sentei-me na primeira fileira, a única onde consegui enxergar os assentos, e comecei a me esforçar para entender o curta, rodado em preto e branco com uma textura granulada. O que mais me chamou a atenção foram as poesias (que na hora me lembraram um pouco Arnaldo Antunes) que o ator principal falava no decorrer do curta: “Amortecido, Amor tecido, A morte cedo”. Quando os créditos subiram, entendi que era uma produção universitária livremente baseada no conto homônimo de Edgar Alan Poe e na poesia de Augusto dos Anjos.

O segundo filme foi “A Vingança da Bibliotecária” (foto 1), no melhor estilo trash de terror, e arrancou boas gargalhadas do público. Também uma produção universitária (Assim como todos os outros que vieram depois).

“Transtorno” é um pouco mais bem produzido, e narra em tom sarcástico, como numa tragicomédia, a história de um jovem paranóico (ou transtornado) que mata a velhinha que mora com ele. Lembrou “Durval Discos”, mas menos intenso e atormentador.

O filme seguinte, “O Vôo”, é quase pueril, mas com um toque psicodélico. Bonitinho. Depois veio “O Mensageiro de Arben”, que soou como uma tentativa frustrada de mistura de três filmes conhecidos no cinema norte-americano: “Jogos Mortais”, “O Cubo” e “Matrix”. Muitíssimo engraçado devido ao amadorismo e a péssima atuação dos atores, serviu para o público descontrair e dar boas gargalhadas.

O último foi “Um Mundo Secreto”, o único que conta com a presença de um ator famoso, o global Eduardo Moscovis. Interessante, intrigante, mas ficou a sensação de não ter muito propósito, meio “sem pé nem cabeça”.

Apesar de não ter assistidos aos filmes mais comentados e elogiados, foi uma oportunidade bacana ver filmes de caráter quase experimental, produzidos por diretores-estudantes. Mais bacana ainda a iniciativa de tê-los incluído em um festival que conta com filmes de diretores consagrados e produções internacionais.

O Festival vai até essa quinta-feira 31 no Cinusp, MIS, Unibanco Arteplex, Espaço Unibanco, CCSP, Faap e na Sala Cinemateca.
Mais informações: www.kinoforum.org.br/curtas/2006.

Nota - 7
Custos - nada

(imagens de divulgação)

28.8.06

Cobertura do Bourbon Street Fest - 27/08/06

Cobertura do último dia do Bourbon Street Fest 2006

Cerca de quinze mil pessoas passaram pelo Bourbon Street Fest neste domingo. Tinha muita gente mesmo, bebida era vendida por toda parte e havia a evidente dificuldade de locomoção. Quanto mais perto do palco se estivesse, mais difícil respirar.

A rua dos Chanés foi fechada, e nela montada o palco. A festa começava, na verdade, na Alameda dos Pamaris, virava a esquerda na esquina do Bourbon Street e acabava no palco.

O Festival que trouxe bandas de New Orleans começou domingo passado com shows no Parque do Ibirapuera. Alguns shows foram pagos durante a semana no Bourbon Street e o evento acabou neste domingo, com a já tradicional festa de rua.

Fernanda, Carol e Luciano conferiram de perto cada um dos três shows dessa tarde musical, e contam o que aconteceu.

LITTLE FREDDIE KING
por Fernanda Almeida Silva

Quase quatro horas da tarde e uma Rua dos Chanés já relativamente cheia. Tarde de sol bastante agradável: as pessoas estavam descontraídas, conversando, algumas sentadas pelas calçadas, antes que o primeiro show começasse.

Os poucos minutos de atraso foram compensados pelos quatro componentes que ocuparam o palco trazendo o espírito marcante do blues. Little Freddie King, com seus mais de sessenta anos, contagiou o público. Nada mais natural para um artista que já participou de inúmeros festivais em países como Canadá, França, Suíça, Holanda, Inglaterra e Hungria. Em seu próprio país, os Estados Unidos, participou trinta e cinco vezes dos festivais de Nova Orleans, cidade onde o artista cresceu e apurou o estilo musical herdado do pai, Jessie James Martin, guitarrista de blues.

Um dos pontos altos foi a música “Bad Chicken”, quase ao final do show, em que as guitarras imitavam sons de galinha, enquanto Little Freddie King divertia os espectadores com seus gritos. A apresentação teve animação crescente e cada vez mais pessoas chegavam ao Festival.

Enquanto a tarde caía, Little Freddie King ia se despedindo, bastante agradecido, do público que o aplaudia satisfeito. Com pouco mais de uma hora de show, os músicos de Nova Orleans não deixaram a desejar e esquentaram muito bem o palco para “Bonerama”, atração seguinte.

CUSTO
Transporte – R$ 0,00 (fui e voltei a pé)
Comes e bebes – R$ 6,00

Nota – 9,0

BONERAMA
por Carolina Splendore Cameron

Cinco e meia da tarde. Pessoas não paravam de chegar. Muitas pessoas. O Blues e R&B do Little Freddie King havia terminado há pouco e no palco já
preparavam as coisas para a apresentação da próxima banda.

Seis horas da tarde. Aplausos. Os quatro trombones subiam ao palco, era o ponto alto da noite: na formação original, a banda de Bass Funk & Soul criada em 1998, foi anunciada: Bonerama!

Nesta hora eu ainda estava no longo percurso em direção ao palco, “com licença”, “opa, desculpe”, “moço, me deixa passar por favor”. Até que algum tempo depois consegui chegar na grade. Quase em frente ao palco! Quase, porque não havia jeito de transpor o grande espaço – este sim, em frente ao palco - de área vip.

Cada um dos trombones estava em um timbre, harmonizados com a guitarra e a bateria que também integravam a banda, além de uma tuba, usada como baixo. Impossível ficar parada.

O som dos trompetes lembrava em muitas horas o de guitarras. Com trombones distorcidos, fizeram a alegria tanto dos fãs rock – como quando tocaram Jimi Hendrix – quanto dos fãs de jazz.

Ovacionados, saíram do palco à sete e vinte da noite.

Custos
3,00 comes e bebes (carona de ida e volta - obrigada amigos)

nota - 9,00

ROCKIN’ DOPSIE, JR & THE ZYDECO TWISTERS
por Luciano Piccazio Ornelas

“Get up ahhhh”. James Brown na veia e começa o derradeiro show da noite, último do festival. A banda traria o único saxofone do dia, e confesso que estava sentindo falta deste instrumento nos shows anteriores. Não que ele tenha feito muita diferença, não fez, mas é sempre bom para os olhos.

A banda tem uma pegada forte e um repertório de músicas conhecidas. Musicalmente não trazem nenhuma informação nova, mas o objetivo primeiro eles conseguiram: fizeram quinze mil pessoas pularem ininterruptamente durante uma hora e meia.

Apresentaram uma música funkeada, com o performático vocalista Rockin’ Dopsie, Jr fazendo gracinhas o tempo inteiro. Com calças justas, pulava, rebolava, dançava e animava a galera presente.

Canções como Purple Rain e Superstiction se misturaram com Fever e No Woman no cry, além de duas do James Brown – Get Up e I feel good. Nesta última, o cantor nem se atreveu a tentar dar os agudos de Brown.

A formação tem realmente alguns instrumentos inusitados para uma banda cover de rock e funk, como acordeon e um washboard, instrumento percussivo que Dopsie levava ao peito. A diferença que estes faziam era mínima, mas dava um toque visual a mais.

Como resultado final da banda o público teve um excelente começo de noite para aquela festa que ainda seguiu noite adentro. Uma banda cover que reproduziu com qualidade alguns clássicos musicais.

Custos
Transporte - R$ 2,00 (ida e volta no bilhete único)
Nota - 7

27.8.06

IX Mostra de dança clássica - CCSP - 26/08/06


Petit ballet

Algumas semanas atrás a leitora Carol Reis me mandou um email com a dica: vai ter mostra de dança no Centro Cultural São Paulo (Vergueiro)! Gostei da programação e fui ver a IX mostra de dança clássica. Bom programa, num bom horário (19h) e perto de casa.

Cheguei seis e meia, sem saber ao certo o tamanho da fila que encontraria. Enorme, atravessava a parte da frente do lugar, mas ainda havia ingressos. Pouco a pouco, as pessoas foram se acomodando nas cadeiras. Nem todas foram ocupadas, apesar do bom público.

Pequenas apresentações de dança dos mais variados estilos marcaram a noite. Para começar, ballet clássico com dançarinos vestidos à espanhola. O clássico foi se transformando, e já na vez da 7 dançam era jazz. Com uma música marcada com palmas, bem ao estilo Bjork em Dançando no escuro, sete meninas mostraram uma coreografia pulsada e contemporânea.

Uma apresentação interessante foi a The Big Run. Vestidos de estudantes colegiais, os dançarinos vagavam num sem rumo, em todos os sentidos. Mas seus passos desencontrados sempre achavam saída, conexão.

Os estilos se misturaram, ponto alto da Mostra. Houve músicas clássicas dançadas de maneira contemporânea, músicas eruditas contemporâneas com passos tradicionais, assim como o clássico puro e contemporâneo puro. Uma forma de dizer que tudo é dança.

Hebert Caetano (foto1), o último bailarino a se apresentar, roubou a cena. Com um solo que lembrou muito as apresentações masculinas de ginástica olímpica, Hebert entusiasmou a já animada platéia; o público aplaudia-o várias vezes durante uma mesma música.

A impressão ao final da Mostra foi a de que o que houve naquela sala foi um pequeno aperitivo para aqueles que gostam de dança. Um pouco de cada estilo, misturas inusitadas e belas dos mais variados estilos, para satisfazer a Gregos e Troianos.

As músicas curtas, grande circulação de dançarinos e mudanças bruscas de estilo fizeram com que o tempo passasse depressa. Era preciso ficar atento para não perder os movimentos dos bailarinos.
(clique nas fotos para ampliá-las)

Nota – 9

Custos
Café e salgado – R$ 1,70
Transporte (fui e voltei a pé)
Total – R$ 1,70

Programa:
Ayres D’España (conjunto)
Chamas de Paris (pas de deux)
7 dançam (conjunto)
Quebra Nozes (grand pas de deux)
Vortex (solo)
The Big Run (conjunto)
Diana e Acteon (grand pas de deux)

26.8.06

Circuladô de Fulô - Fnac - 25/08/06

Circuladô

Sete horas em ponto a fila que há muito já se formava na entrada lateral direita da Fnac foi liberada. Adolescentes chegavam ao lugar em frente ao palco rindo, conversando; uma leveza interessante. Mal entravam já começavam a fazer festa, bater palmas. O show começou ali.

Pouco tempo depois entrou em cena o Circuladô de Fulô. A banda, composta por cinco integrantes, chegou e logo tocou a primeira música, Águas Mansas. O olhar de deslumbramento do vocalista André, que tinha estampado no rosto um sorriso meio tímido, era interessante. No palco, a banda se divertia como o público se divertira a pouco.

A música é bem tocada. Todos cantam, e o vocal principal não exagera nos agudos nem tenta inventar caras e bocas. É simples e direto. O som mistura um violão pop, guitarra, percussão e sanfona, tudo em estilo forró – universitário.

Com versões de músicas conhecidas como Magamalabares, o pequeno espaço da Fnac teve de ser pista de dança. As pessoas, mesmo esmagadas, arranjavam um jeito de abraçar um amigo e ensaiar alguns passos. Difícil dançar, mas muito difícil não dançar também.

Na terceira música, André parou:

- Então, a galera que tá aqui na frente tá beleza, né? Todo mundo vendo a gente, e coisa e tal! (comemorações efusivas do pessoal da frente) Então, mas quem tá no fundo não tá vendo nada. Vamos fazer assim: a gente levanta e todo mundo pode ver a banda, que tal? (comemorações efusivas de toda platéia)

Pegos meio que de surpresa, o outros integrantes da banda começaram a se levantar e a reajustar os microfones. Daí pra frente, o show tomou outro pique: de pocket, passou para mega show de pequenas proporções, numa apresentação que durou cerca de uma hora e meia.

Apesar do péssimo som da casa – abafado, confuso – a apresentação seguiu livremente. “O que importa é que a galera goste. Eles curtindo, a gente curte”, me disse o percussionista Gustavo depois do show. Para ele, não há diferença alguma entre tocar para aquelas cem pessoas na Fnac ou para milhares num carnaval.

E, por sinal, carnaval tomou grande parte do repertório. Uma saidera que durou metade do show teve músicas de carnaval de A a Z. Começou leve e foi turbinando; passou por Ivete Sangalo, Chiclete com Banana e caiu em... Xuxa! Isso mesmo, o Ilariê que povoou o imaginário infantil de muitos de nós. Como grand finale, Balão Mágico – “sou feliz, por isso estou aqui”.

Nota – 8,5

Custos
Café – R$ 0,80
Transporte (nada, fui e voltei a pé)
Total – R$ 0,80
Banda
Eduzinho (guitarra), Junior (triângulo e percussão), Juscelino (sanfona), André (voz e violão) e Gustavo (foto ao lado - zabumba)

Set List – (não estão em ordem)
Águas Mansas – Sol, a Lis e o Beija-Flor – Magamalabares – Olha pra mim – Sonho lindo – Nosso amor é lindo – Esperando você, Linda menina – Medley (1. Levitar – 2.Bola de sabão – 3.Pescador de ilusões – 4.Ê saudade – 5.Casamento não – 6.Quero Chiclete – 7.Empurra o tempo todo – 8.Ilariê – 9.Tindolelê – 10.Superfantástico

25.8.06

Planta e Raiz – Fnac Paulista – 24/08/06

Perdida no Reggae

A enorme fila formada na frente da Fnac Paulista me desanimou. Havia muito mais do que as cem pessoas para as quais a segurança distribuiu senhas duas horas antes do início do show. Alguns se mostravam preocupados, tentando achar um jeito de ultrapassar o limite de pessoas estipulado.

Não fiquei na fila; fui até o café da Fnac na esperança de conseguir uma última senha, mas descobri que já estavam esgotadas - apesar disso, quem quisesse entrar no espaço do Fran’s Café tinha passagem livre. Entrei e fiquei logo atrás da faixa que separava os dois ambientes, a banda estava se preparando no pequeno palco improvisado.

A faixa etária ia dos 15 aos 30; muitos alunos do Objetivo, que fica ali em frente, e muitos fãs. Alguns se mostravam preocupados, talvez não conseguirem entrar para ver seus ídolos, outros com suas senhas garantidas bebiam vinho na entrada lateral da Fnac.

Pessoas ficaram de fora, pois até mesmo a entrada para o Fran’s foi bloqueada após o início do show. O desespero de quem não arranjou um lugar aumentava enquanto o show progredia. Quando a banda tocou seu maior sucesso: “Com certeza, você já se banhou na queda de uma cachoeira”, os seguranças não conseguiram mais conter os fãs e acabaram liberando a entrada.

O espaço então se tornou uma grande pista de dança. Ainda estavam lá dentro alguns perdidos, como eu, que tentavam conversar em meio àquele pequeno tumulto e ao som alto. No entanto, a grande maioria acompanhava as letras das músicas e dançava ao ritmo do reggae da banda. Logo depois tocaram “Te ver”, releitura com toques de reggae de uma famosa música da banda mineira Skank. Foi o auge do show (e as únicas músicas que eu já havia ouvido antes). As 250 pessoas que se encontravam no espaço ainda curtiram o show até umas 20h20.

Nota: 8,0

Custos
Nada (fui e voltei a pé)

matéria por Paula Bernardi

24.8.06

Longe do Paraíso – Cinusp – 23/08/06

Sobre Mulheres


O Cinusp organiza mensalmente mostras temáticas de cinema, sempre gratuitas. O tema que abrange o metade do mês de agosto e de setembro é o Cinema Feminino Intimista; todos os filmes da programação tentam explicar um pouco do complicado universo feminino através da abordagem dos conflitos internos das personagens principais dos filmes (sempre mulheres, obviamente), nas mais variadas épocas e situações.


Ao chegar na sala, a maioria do público era composto por mulheres. Talvez por coincidência, talvez por interesse no tema da mostra, ou pela sensação de ver seus próprios conflitos refletidos numa tela de cinema.


Longe do Paraíso se passa em meados dos anos 50 numa cidade provinciana dos EUA, e narra a história de uma típica família-comercial-de-margarina, que tem a sua reputação e felicidade ruídas pelos desencontros amorosos entre o marido que se descobre homossexual e a mulher apaixonada pelo jardineiro negro que trabalha em sua casa.


Através dos conflitos da esposa Cathy, a imagem da família perfeita é desconstruída, mostrando o caráter falso da tal “beleza americana”. O mundo de Cathy e Frank é permeado por intrigas, fofocas, aparências e amizades falsas, mostrando os preconceitos e ranços da sociedade americana da década de 50. Cathy apanha do marido, sofre sem o apoio das “amigas” e é colocada de fato bem longe do paraíso onde fingia viver.


Além de ser um drama interessante e envolvente, o diretor Todd Haynes também acerta na produção e caracterização visual das personagens: Cathy lembra uma daquelas pin-ups dos anos 50 (em versão comportada, é claro).


Apesar do tema denso, Longe do Paraíso se desenvolve de maneira mais leve e agradável (ou menos incômoda) ao espectador do que dois outros filmes que fazem parte da mostra: Dançando no Escuro – onde é quase impossível não chorar - e As Horas. O primeiro é um musical do diretor Lars Von Trier (o mesmo de Dogville), onde uma mulher, brilhantemente interpretada por Björk, luta para salvar a vida de seu filho; e o segundo é um drama estrelado por Nicole Kidman que fala sobre a vida e obra da escritora Virginia Woolf através de três marcantes protagonistas.


Vale a pena conferir os filmes em cartaz no Cinusp, sempre muito bem selecionados, e o mais importante, exibidos de forma gratuita para todos.


Nota – 9

Custos – nada (fui e voltei à pé)

(foto de divulgação)

Agnès Varda - CCBB - 23/08/06

Como vagar docemente pela miséria humana

Desço as escadas do CCBB em busca de Agnès Varda. Interessa-me muito pensar que verei em breve o olhar fotográfico de uma cineasta; ver como alguém que trabalha com o movimento da imagem decide cristalizar um instante. É interessante ver qual segundo decide paralisar. Por este motivo decidi levar-me até esta exposição.

Agnès Varda parece sempre procurar algo. Suas fotos têm uma semelhança visível umas com as outras; seja na China, seja em Cuba ou em São Francisco (EUA), o olhar desta cineasta captura uma emoção só.

O flaneur, caminhar despreocupado pelas ruas tentando enxergar o mundo de maneira nova, prestando atenção nos detalhes que passariam desapercebidos por pessoas que já entraram na rotina da cidade, é presente de forma clara nas fotos. Mas também há nelas a mistura deste flaneur com um tipo de vício. Varda busca em todos aquilo que ainda não encontrou resposta.

No vídeo explicativo da sala que fica logo na entrada da exposição, a cineasta explica que nunca pretendeu dizer nada com as fotos que tirava. Apesar disso, vemos fotos de Cuba e, em todas, há imagens de Fidel Castro. Numa delas, há o próprio com pedras atrás, que lembram asas de chumbo. Na China comunista, pergunta no título de uma das fotos se as pessoas daquele lugar seriam trabalhadoras ou servas. Há sempre uma pergunta a ser respondida nas fotos de Agnès Varda, e normalmente temos de engolir a seco antes de responder.

Os primeiros trabalhos de Varda foram como fotógrafa, mas o que a imortalizou foi o cinema. Considerada por muitos como uma das cineastas mais importantes do século passado, pertenceu ao time dos precursores do Nouvelle Vague, nos quais se encontram Godard e Truffaut.

Além da exposição de fotos, há também uma mostra (paga) dos filmes de Varda. Um dos mais interessantes é Cléo das 5 às 7, um longa-metragem em tempo real que conta a saga de uma mulher que espera pelo resultado de um exame de câncer. São duas horas de agonia.

As imagens de Agnès Varda são impactantes ao mesmo tempo em que são doces. Consegue misturar a beleza humana com a crueldade da miséria.

Custos
Ônibus - R$ 2,00
Lanche - R$ 3,00
Total - R$ 5,00
Nota - 8,5
Concepção da mostra: Agnès Varda

21.8.06

The Mists of Avalon - Cultura Inglesa Higienópolis- 20/08/06

Entre as Brumas e Avalon

Não sabia ao certo o que esperar da peça “The Mists of Avalon”, adaptação do romance homônimo de Marion Zimmer Bradley que reconta as lendas do Rei Arthur sob a ótica das mulheres personagens da mesma, como Morgana e Guinevere. Já havia visto o filme (As Brumas de Avalon, título em português) e ficado absolutamente encantada, diferente dos fãs mais xiitas das lendas do Rei Arthur, que criticam o filme por ser superficial. Resolvi ir à peça, mas não com tantas expectativas, sabia apenas alguma coisa do enredo e que seria encenada em inglês.

Cheguei na Cultura Inglesa com uma hora de antecedência, às 18, imaginando que o ingresso deveria ser retirado antes, como é de praxe em shows e teatros gratuitos. Errado. Os ingressos foram distribuídos dez minutos antes do inicio da peça, que começou com uns quinze de atraso.

Todos acomodados e a peça finalmente começa. São muitos atores em cena e o entendimento das falas das personagens às vezes é dificultado pela pronuncia dos atores. A peça é um musical, são exibidas coreografias bem elaboradas e os artistas que cantam, o fazem muito bem. Esses momentos são os que realmente prendem a atenção do público no espetáculo e o envolvem mais na história.

Os outros momentos da peça deixam um pouco a desejar. Um problema da adaptação do romance para o teatro é que a história é de fato muito longa e complexa – o filme tem três horas de duração e o livro é composto de quatro volumes. No teatro, a narrativa acaba se perdendo nos intervenções musicais e é claramente apressada no final da peça de forma que o espectador não entende como ocorrem algumas mortes ou de onde vieram determinados personagens.

A peça durou mais de duas horas, e cansou. Os atores não conseguem segurar a atenção do público durante tanto tempo, e acredito que muitos que não leram o livro ou não viram o filme não conseguiram entender a peça muito bem ou caracterizar os personagens-chave do modo como deveriam ser compreendidos.

Não foi decepcionante, pois não fui esperando algo que me encantasse do mesmo modo que o filme. Fica a boa impressão da voz e coreografias, mas também a não-tão-boa impressão de ter assistido a algo próximo de um teatro-amador.

Custos - nada para ir (carona) + 1 real para voltar de ônibus
Nota - 6

Processo Macário - CadoPo - 19/08/06

O diabo é a cidade

A CadoPo (Casa do Politécnico) passaria despercebida como mais um prédio antigo e mal cuidado, mas, ao entrar, já foi possível identificar as modificações decorativas de autoria dos próprios atores que lá trabalham: paredes grafitadas, quadros pitorescos, móveis antigos e outros detalhes que criam uma sensação de aconchego e curiosidade.

Após subir alguns lances da escada estreita, cheguei à sala onde a peça seria apresentada às 20h. As cadeiras estavam dispostas lado a lado em duas fileiras paralelas formando um corredor forrado por um tapete vermelho, que viria a ser o palco. Acima das duas fileiras de acentos, bastante confortáveis, havia varais ocupados por cabides e roupas que seriam utilizadas na troca de figurino dos atores durante a encenação. Ao fundo, uma placa de trânsito “Pare” e, no chão, quatro aparelhos de televisão completavam o cenário.

Jovens atores formam o grupo teatral: Bruna Amado, Cristiane Avelar, Danilo Minharro e Marcos Cruz. A trama é construída a partir da obra “Macário”, de Álvares de Azevedo, e permeada por outras histórias cuja autoria é do diretor, José Fernando. A temática que liga todas as histórias é sempre relacionada ao comportamento do jovem na cidade. O grupo expõe aspectos e visões críticas bastante interessantes a respeito. Faltou um pouco de dinâmica nas cenas em que recitaram textos de outros autores, tornando-as menos envolventes. No entanto, é justamente a utilização de histórias e citações que enriquece o conteúdo da peça.

O grupo mostrou entrosamento e criatividade. Uma mesa de som atrás de uma das fileiras de cadeiras intercalou o fundo musical com um piano infantil e um violino (tocados por Cristiane Avelar durante a encenação), um violão (tocado por Marcelo Cruz, que permaneceu fora do palco e participou apenas de algumas cenas) e a voz dos atores, acompanhada por danças.

Em alguns momentos o público foi incluído na encenação (fosse para acender um cigarro ou para segurar um documento de identidade). Um dos momentos mais interessantes contou com tal inclusão: os atores sentaram-se, cada um de frente para um grupo diferente de pessoas, e simultaneamente narraram histórias de sua adolescência, tão delicadas e curiosas, que deixaram a dúvida se ouvíamos um personagem ou o próprio ator.

Aplaudidos de pé, os atores ainda permaneceram no palco cumprimentando os dezenove espectadores e agradecendo o apoio. Em seguida, recolheram as roupas espalhadas pelo chão, retiraram os televisores e desceram as escadas comentando animados a apresentação.

A dedicação e engajamento do grupo ficam evidentes na luta para que o CadoPo se torne um pólo cultural. Para isso dependem do apoio da prefeitura e de seu público para que dêem continuidade à arte que produzem. Vale a pena prestigiá-los!

Custos
Transporte: R$ 2,00 reais de ônibus com Bilhete Único de Estudante
Total – R$ 2,00

Nota – 8,0

Quando: aos sábados e domingos às 20h.
Onde: CadoPo, na Rua Afonso Pena, nº 272, Jardim da Luz– Próximo ao metrô Tiradentes.

matéria por Fernanda de Almeida Silva

19.8.06

Curta Petrobrás às seis - Espaço Unibanco - 18/08/06

Curta!

A mostra de curtas Curta Petrobrás às Seis inicia-se solitária.

A 15 minutos para as seis hora da tarde, chego ofegante ao Espaço Unibanco que, juntamente com o espaço Unibanco Arteplex e o Cinemark shopping Santa Cruz, exibem a mostra. Esperançosa em encontrar uma enorme fila que me levaria aos últimos lugares da sala – neste caso, os últimos lugares seriam, com certeza, os primeiros, que rendem até torcicolo – me decepciono ao entrar no Espaço. Nenhuma filazinha sequer. Porém, ainda com esperanças em ver a abertura de uma mostra gratuita lotada, deduzi que não vi filas porque todos os presentes já haviam se acomodado nas poltronas da sala 3 (189 lugares), afinal, estava quase atrasada. Entrego meu bilhete, passo a catraca, avanço à sala e... Deparo-me com 180 opções de escolha!

Não verei os pixels do filme, não herdarei torcicolos e outras dores por sentar na primeira fila, mas, ainda assim, me é quase impossível não ficar chateada e pensar que a cultura, embora muitas vezes gratuita, não é acessível a todos. Seria falta de interesse? Falta de divulgação? O horário seria limitante?

Enfim, a mostra de curtas Petrobrás inicia-se. Apenas.

O primeiro curta foi praticamente uma reconstituição do enterro de Glauber Rocha, com imagens feitas por cineastas e admiradores, “no enterro que reuniu o maior número de câmeras”, segundo o filme de 2005, batizado de A Degola Fatal. O segundo, Mademoiselle Cinema, uma animação que data de 1994, foi bonitinho. O terceiro, O Som da Luz do Trovão, de 2005, foi interessante. O tema: o “inventador”, como se autodenomina, Evangelista Ignácio de Oliveira, habitante da cidade de Serra Talhada, PE, e famoso por suas inteligentes e providenciais invenções. O quarto e último curta exibido, foi O Artista Contra o Caba do Mal, que tem como máxima, a frase: “o artista nunca é assassino, o cabra é que é morredor”.

É assim a abertura: com qualidade, porém, sem aplausos.
Nota: 7,5
Custos: 0,00 ida e 0,00 volta (fui a pé) + pão de queijo 2,00 + ice tea 2,00
Total: R$ 4,00

18.8.06

Zé do Caixão - Sesc Pinheiros - 17/08/06


Os 2 Josés

Andava pelos corredores escuros do Sesc Pinheiros, mas não o encontrava. Era uma noite estranha de agosto quando, de repente, as luzes se apagam. Tento achar algum interruptor, alguém que possa me ajudar, mas nada. A escuridão é completa. Começo a perceber passos e corro na direção contrária. Cada vez mais rápido, mais rápido.
Saio, de súbito, no pouco iluminado palco do teatro do Sesc, e não há ninguém lá, até que ouço uma música sóbria que me faz pular de susto. Subo meu olhar para uma plataforma e vejo pessoas conversando. São eles!, penso. Depois de muito procurar, eu consigo vencer meus medos e chegar até o local onde estava Zé do Caixão.

José Mojica Marins não tem absolutamente nada a ver com seu personagem, Zé do Caixão. Senhor pacato, caminha de forma tranqüila enquanto pita seu cigarro. Não fosse pelas unhas, ninguém na rua saberia dizer que ele é e foi uma das personagens mais importantes do cinema brasileiro. Único, até os dias de hoje, a fazer filmes de terror.

Desço com o diretor/roterista/ator e sua noiva até o camarim para podermos conversar tranqüilamente. Aos poucos, ele explica como eram as coisas em seu início de carreira. Teve inúmeros filmes podados pela ditadura militar e outros cuja circulação foi proibida. Uma das instituições que mais o censurou foi a igreja: “os padres me odiavam”. Segundo Zé, ele chegou a ser preso e a sofrer torturas psicológicas.

A grande felicidade de Mojica neste momento é a gravação de um filme que deveria ter sido rodado em 1976, mas que foi caçado pela ditadura. Graças à ajuda de dois jovens fãs, o cineasta conseguiu material e patrocínio para realizar Encarnação do Demônio, último da trilogia (outros foram À Meia-Noite Levarei sua Alma e Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver). Ao falar do filme, ele parece uma criança: “e aí a mulher vai ser aberta ao meio...”.

Arte Free? Para ele é importante que a cidade ofereça o máximo de atividades artísticas gratuitas, pois arte é essencial na educação das pessoas.

A apresentação desta quinta-feira no Sesc Pinheiros foi uma contação de histórias de medo. Entrou em cena Zé do Caixão, e as cerca de cinqüenta pessoas presentes puderam ter, em menos de uma hora, um pouco do que foi e é José Mojica Marins.

Imagine-se ao pé de uma fogueira em um acampamento a milhas e milhas de qualquer lugar. Nesta fogueira, uma das crianças pega uma lanterna e começa a contar histórias que farão com que as crianças menores não consigam dormir naquela noite, de tanto medo.

Zé do Caixão leu dois contos, falou um pouco sobre sua história e até fez críticas muito bem colocadas. Disse que, com tanta coisa acontecendo na cidade de São Paulo ultimamente, nem precisaria agosto ser o “mês do cachorro louco”.

- Quando cai um ônibus e as pessoas morrem, todos os outros na estrada querem parar para ver. Agora, se os mortos deste ônibus forem pessoas das famílias dos que estão lá só olhando, eles ficam preocupados, começam a telefonar, a chorar. Afinal, nós somos todos irmãos. Isso tem que parar!


Custos
Ônibus – R$ 2,00 (ida e volta no bilhete único)
Cafezinho – R$ 0,90
Total – R$ 2,90

Nota - 8

17.8.06

Gó do Trombone e Três no Choro - Sesc - 16/08/06

Gafieira no gogó do trombone

Bati o olho em uma das mesas do hall de conveniência do Sesc Consolação e vi um grupo que, à primeira vista, parecia de amigos em casual e descontraído encontro. Seria simples se a mesa da qual eu estou falando não fosse a das estrelas da noite, o pessoal do "Gó do Trombone e Três no Choro". E foi esse mesmo clima da pré-apresentação que migrou para o palco, quando o quarteto, formado por Douglas Alonso na percussão, Dino Barione na guitarra, Paulo da Costa no violão e Gó no trombone, não só mostrou domínio musical como nos transportou para os velhos tempos da gafieira.

O entrosamento explícito dos músicos era exibido com satisfação e com sorrisos que eles trocavam entre si. O repertório, cuja maioria das músicas era escolhida na hora, veio recheado de Pixinguinha, Noel Rosa , Dorival Caymi, Astor Silva, Moacyr Santos - a quem os músicos prestaram homenagem pelo seu recente falecimento - e Simone, entre outros.

De choro mesmo, só o nome, e de grupo mesmo, só a denominação, pois cada um dos músicos brilhou individualmente em belíssimos solos de seus respectivos instrumentos.
O clima, o espaço, os sorrisos e as notas musicais criaram uma atmosfera envolvente bem propícia para que todos cantassem junto com a banda clássicos como Apesar de Você e Carinhoso. A gafieira eternizada nas noites cariocas encontrou nestes quatro instrumentistas representantes de qualidade.

Aplausos, sempre. E a satisfação do público veio à tona no final do show com os cumprimentos e a procura por cds.

Com sessenta minutos de duração, como é de costume nos projetos das quartas-feiras deste Sesc, a apresentação foi completa, por conter diversidade de compositores, solos, entrosamento e por despertar sorrisos e aplausos nos que ali estavam confortavelmente acomodados nas cadeiras da lanchonete e nas que estavam mais próximas ao palco.

Custos
Transporte: R$ 4,00 reais de ônibus e 4,20 de metrô
Total – R$ 8,20

Nota - 8,5

Matéria por Naiana Leone
Fotos por Luciano Piccazio Ornelas

16.8.06

Degas - Masp - 15/08/06

Um movimento inesperado...

Terça-feira, metrô parado, Avenida Paulista, também parada, com o trânsito parado. As pessoas, paradas, ficam irritadas dentro de seus automóveis parados, provavelmente ofendendo os funcionários do metrô, que pararam de trabalhar por não concordarem com medidas governamentais - que não vem ao caso explicar aqui, já que greve, infelizmente, não é considerada arte pela maioria.


É neste parado dia que o Masp exibiu a exposição de um dos precursores do estudo do movimento na pintura, Edgar Degas. Gratuita pela última terça-feira.

Ao chegar à Paulista, depois de comer no McDonalds (que, comentário à parte, também podia ser gratuito), fui ver a exposição. Nunca tinha entrado no MASP, e confesso que gostei da primeira impressão; e de todas as outras que estavam por vir.

A montagem da exposição foi feita de acordo com a cronologia de Degas, sendo que no primeiro sub-solo estavam os quadros de sua formação. Ali, viam-se remontagens de temas clássicos, seguindo características de pintores considerados mestres do artista francês.

Em meio aos quadros, explicações a respeito da vida do autor, da obra, ou peças contemporâneas ajudavam os leigos (como eu) a entender melhor as pinturas. Dois quadros me chamaram atenção, um de Émile Zola, escritor naturalista francês, e outro de Toulouse-Lautrec.

No segundo sub-solo estava a melhor parte da obra do autor. Ali, via-se o “impressionista” Degas: as bailarinas, o nu, as corridas de cavalo, os recortes e ângulos inesperados e as cenas de bordel – que eram as melhores por serem retratadas, primeiro com uma naturalidade e espontaneidade, segundo por lembrarem uma fotografia (uma novidade da época do pintor).

Deu vontade de viver nessa época. O movimento dado por Degas passava a impressão de que estávamos dentro do quadro, acompanhando a cena.

Enquanto via as pinturas das prostitutas francesas, notei algo curioso: meninas de quinze anos passavam por estas obras com um medo esquisito, um certo tipo de nojo. Notei também, além das donzelas com pudores, que havia um grande número de estrangeiros no museu.

Por fim, saímos, eu e minha amiga, da exposição - mas não por isso paramos de comentar sobre os quadros que, graças à forma de cotidiano simples e movimentos retratados, ficam tão familiares. E o melhor disso tudo é que tínhamos bastante assunto pra falarmos durante a demorada volta, com o transito parado.

Custos
Lanche - R$ 8,90
Ônibus - R$ 2,00
Total -
R$ 10,90

Nota 8,5

Matéria de Paulinho Bastos
(Imagens retiradas do site do Masp)

15.8.06

Ana Costa - Sesc Consolação - 14/08/06

A menina que cantou o Rio

Sabe aqueles dias em que você não quer sair de casa? Tem programações culturais ótimas rolando pela cidade, mas bate aquela preguiça... Estava assim, e por pouco não deixei tudo de lado para me atirar ao “cama e televisão”, mas decidi levantar e ir para o Sesc Consolação assistir a um show, de Ana Costa.

Não sabia quem era Ana, nem que estilo de música tocaria. Sentei em uma das mesas da lanchonete (o palco fica em frente à lanchonete) e esperei para ver no que ia dar.

Fiz bem em sair de casa, e isso eu notei logo de cara. O samba de Ana Costa é o do tipo mais tradicional: carioca, gingado e bom - e trazia no repertório músicas de Aldir Blanc, Noel Rosa e outros. Cantava o morro; músicas que lembram quase sempre a boemia do Rio e a malandragem branca dos reis do carnaval. O som me deixou, de repente, feliz.

Cantando com um belo sorriso no rosto, Ana tem uma voz que parece a de Paulinho da Viola – versão feminina, claro. Composta por quatro integrantes - violão, cavaquinho, percussão e voz – a banda perfaz o samba de raiz com arranjos simples, de com poucos solos e sem virtuosismos. Um show que te deixa numa espécie de torpor.

Quando começou a apresentação, o local estava quase vazio. Aos poucos, pessoas de todos os lados foram chegando e se aproximando. Sentava, ouviam e ficavam. A reação era quase sempre essa. Enquanto isso, o público ia se empolgando mais e mais, batendo palmas ritmadas no meio das canções e cantando junto com Ana as mais famosas. A vocalista aproveitava todo o embalo e interagia com o público, pedindo para cantarem junto.

Então Ana pegou o violão de Wallace Peres. O violonista ficou parado na primeira canção. Na segunda, pegou um discreto instrumento de percussão. Na terceira, roubou o cavaco de Alceu Maia, que, por sua vez tomou emprestado o pandeiro de Bianca Calcagni, que teve de trocar de instrumento. Uma festa! Ou, como disse o Alceu: “provando e comprovando nossa versatilidade”, parafraseando Bezerra da Silva.

Uma hora de show, como é de costume nesse espaço do Sesc Consolação. Levemente, o público começou a se levantar e logo não se via mais ninguém, além de algumas pessoas que queriam adquirir o cd novo de Ana, Meu Carnaval.

Banda
Ana Costa – cantora
Bianca Calgagni – percussão e voz
Alceu Maia (cavaquinho)
Wallace Peres (violão)

Set List: 1.Raças do Brasil – 2.Semente do samba – 3.Brasileiro da gema – 4.Supremo e divinal – 5.Pra que pedir perdão? – 6.Feitiço da vila/Palpite infeliz – 7.Ex amor – 8.Olhos felizes – 9.Não importa mais o dia – 10.Senhora liberdade – 11.Meu carnaval

Nota – 8,5

Custos
Ônibus – R$ 2,00 (ida e volta no bilhete único de estudante)
Sanduíche e refrigerante – R$ 3,10
Total – R$ 5,10