30.11.06

Transposições – Instituto Cervantes – 30/11/2006

Transpor culturas


Os elos entre a cultura brasileira e espanhola são facilmente perceptíveis em nosso país. Porém, também é inegável que há diferenças fundamentais, o que dificulta uma união artística, muitas vezes buscada em diferentes áreas, desde a música até a literatura. O Instituto Cervantes de São Paulo é uma instituição que trabalha com essa ligação hispânico-brasileira e traz a exposição Transposições com este objetivo. Através das obras de quatro artistas que vivem no Brasil, mas de origem e descendência espanhola, a mostra busca a provar a integração de influências existentes em quadros e esculturas feitas com técnicas diferentes.


Os quatro artistas que participam da exposição são: Margarita Farré, Luis Bayón, Pascualet e Paulino Lazur. A história de vida de cada um está diretamente relacionada com o Brasil. Margarita, por exemplo, só iniciou sua formação artística neste país. Ela trabalha com bronze patinado e trata de temas cotidianos e onipresentes na rotina de qualquer brasileiro. A obra “fila”, por exemplo, reproduz com fidelidade o sufoco que passamos rotineiramente em busca de qualquer serviço ou produto. Porém, a escultura “Decisão por pênaltis” foi a que mais me chamou a atenção, uma vez que os “bonecos” de Margarita passam uma emoção digna deste momento clássico e tão marcante na memória de qualquer pessoa que acompanha futebol mesmo a distância.

No lado esquerdo do espaço cultural do Instituto estão os quadros de Paulino Lazur. Com pequenas descrições manuscritas pelo próprio autor, a abstração aparente se torna cheia de simbolismo e incorpora leituras interessantes e até bem humoradas em alguns casos. Há referências curiosas em todas as obras: desde o lugar em que viveu no Brasil, Guarulhos, até o poeta pernambucano Manuel Bandeira. São pinturas com ligações entre si e que caracterizam a produção deste artista espanhol.


Os maiores e melhores quadros são de Pascualet. Apesar de ter nascido no Brasil, é quem mais inclui menções à cultura hispânica e latina em geral em suas obras. Ricas em detalhes e cheias de cores vivas e alegres, as telas apresentam uma beleza curiosa e única. Com “Mandala brasilis”, Pascualet retrata com lealdade sua paixão pelo Brasil em uma combinação de cores impressionante. Penas de animais são incluídas em algumas obras para dar mais valor e encanto a cada quadro.

Já as peças de Luis Bayón são interessantes, porém considero um erro colocá-las nessa exposição, já que é pouco perceptível a ligação de culturas. Ou seja, o objetivo da exposição não é conquistado completamente e perde um pouco de sentido. Entretanto, no fim é possível captar a variedade de ligações entre as duas culturas tão próximas e tão distantes, mas que conseguem unir-se através do talento. As transposições, objetivo dos curadores, são facilmente vistas e sentidas através da arte.
Custos
Transporte: R$0,00 (fui e voltei a pé)

Total: R$0,00

Nota – 8

Imagens de divulgação

28.11.06

Boris Gaquere e Renato Martins – Sesc Avenida Paulista – 28/11/2006

Obrigado por essa hora feliz

A mistura excêntrica de um violonista belga com um percussionista brasileiro seria, no mínimo, interessante. Com esta expectativa me dirigi até o Sesc da Avenida Paulista, afinal aquela variedade de influências e melodias atraia meu ouvido curioso. Após passarem pela Europa, Japão, Taiwan e Coréia, Boris Gaquere - o belga - e Renato Martins chegaram ao Brasil para lançarem seu CD “Tempo Feliz”, com composições próprias e de autores consagrados como Baden Powell e Paulo Balineti.

O auditório estava lotado quando o show começou pontualmente às 19 horas. Poucos instrumentos, mas um som complexo: notas rápidas e percussões que encaixavam na melodia. Boris Gaquere apresentava uma técnica magnífica: por vezes a impressão era que havia mais dois ou três violões no palco ou que ele tinha mais que cinco dedos, tamanha era sua velocidade. O entrosamento entre os dois músicos era evidente e inspirava segurança em todos os presentes. O público era formada em sua maioria por adultos e idosos, naturalmente fãs de música clássica e freqüentadores assíduos do programa “Instrumental Sesc Brasil”, que traz convidados cada vez mais célebres.


Renato Martins possui uma técnica singular e que realmente deixa qualquer pessoa atônita: em um simples vaso de barro ele cria diversos sons. Com a palma aberta ou fechada, nas pontas dos dedos ou ao tampar e abrir a saída de ar, o percussionista brasileiro encaixa efeitos essenciais para as musicas bem escolhidas para o show. Não há mais palavra para definir o talento ali apresentado que não seja: chocante. Apesar de alguns solos ultrapassarem o limite de cansaço, todo o público correspondia com aplausos que se tornaram cada vez mais fortes após grandes destaques, como “Baile Funk”, “Sai do Chão” e “Pulo do Gato”.



Boris nem parecia belga, se não fosse o sotaque apresentado entre cada canção: com arranjos tradicionalmente brasileiros ao extremo e o complemento perfeito de Renato, o violonista assemelhava-se mais a um experiente integrante da Bossa Nova. A brasilidade ali apresentada era evidente, atraindo sorrisos, pés batucantes e gritos ensandecidos. A simpatia e carisma apresentado por piadas e diálogos diretos faziam com que não quiséssemos nos retirar do auditório. Porém, após mais uma bela música intitulada “Obrigado”, e alguns bis, o show acabou. Mas eles nem precisava agradecer. Obrigado, dizemos nós, aos dois!

Custos:

Total: R$ 0,00

Nota - 8,5

26.11.06

Causos - Beijo Beat

Beijo Beat
por Carol Bataier

Sabe Geração Beat? Drogas, poesia, jazz e sexo livre? Jack Kerouac? Pois é, nós tínhamos um trabalho pra fazer sobre os caras. Teríamos que apresentar algo muito bom e que de alguma forma resumisse em, no máximo 30 minutos, o que foi a Beat Generation.

O trabalho era pra faculdade, mas a galera do grupo fazia teatro. E, atores narcisistas que somos, não nos contentamos em fazer somente um filminho no movie maker sobre o movimento e a vida dos caras. Resolvemos fazer uma apresentaçãozinha meio assim teatral. Cenário de bar, vinhos e cigarros sobre a mesa, e nós em meio a fumaça e luz vermelha lendo poesias beatniks.

O auge da loucura seria o poema “O Uivo”, de Allen Ginsberg.

É um poema escancarado, louco, erótico, tudo. Uma viagem.

E foi ai que tivemos a idéia: seria legal se, no meio do poema, dois caras se beijassem. A intenção não era exagerar ou apelar. Somente mostrar o que realmente foi o movimento e talvez causar em alguns o espanto, assim como os beats causaram com toda a sociedade norte-americana dos anos 50/60.

E a idéia evoluiu. Decidimos chamar dois caras aleatórios, desconhecidos da turma (já que seria apresentado na faculdade), e deixá-los no “bar”. Todos imaginariam que eles fossem meros figurantes, somente acentuando o climinha de boteco. Então, no auge do poema, quando um dos atores gritasse: “que transaram pela manhã e ao cair da tarde em roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livremente seu sêmem para quem quisesse ver”, os garotos se beijariam.

Mas tínhamos que arranjar os garotos. Depois de mil telefones e de ouvir “nãos”, “não dá”, “tenho vergonha”, tivemos uma idéia mais prática: ir até uma outra Universidade e procurar alunos do curso de artes cênicas que estivessem dispostos a nos ajudar. Encontramos um rapaz muito legal. Faltava o segundo. Procuramos, procuramos e nada. Fomos dormir e a apresentação seria na noite seguinte. .

Acordamos já pensando no segundo ator. E o encontramos assim, bem por acaso, recrutando pessoas na faculdade: “Oi, nós temos uma trabalho e blabla...”

Explicamos tudo e os garotos só se encontraram na hora da apresentação e pouco puderam conversar a respeito da cena. Nós, do grupo, explicamos assim: “Vocês ficam livres para conduzirem da maneira que acharem melhor. Podem somente insinuar um beijo, um selinho, se quiserem...”

Chegou a hora. Fumaça, jazz e luz vermelha. Mesinhas de bar, tudo como o planejado. Eu na mesa ao lado, fumando. Um dos atores se levanta, recita, grita, dá a deixa enquanto direciona seu olhar para os garotos, conduzindo assim o olhar do público. Os garotos se abraçam, mãos na nuca, se puxam, se pegam, se beijam, quase caem da cadeira. A cena comove até nós do grupo, que esperávamos leves carícias.

Olhares espantados por todos os lados. A poesia continua no ritmo do jazz. Aplausos. No final o professor, um ser quase inatingível, desses que a gente nunca vê pelos corredores da faculdade, diz, emocionado, que foi maravilhoso. E assim, meio que no susto, todo mundo sentiu bem o clima beat, esse desbunde escancarado, essa loucura inebriante.


Carol Bataier é estudante de jornalismo

Artistas no Telhado - Filarmônica de Berlim


"A gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte"

Não basta só haver arte de graça. Os preços dos ingressos para shows como o do U2 ou Filarmônica de Berlim são uma prova de que muitos não têm o mínimo senso de realidade. Ninguém tem dinheiro, o país está falido e, mesmo assim, cobram 200 reais no ingresso mais barato. Cirque du Soleil que o diga. E os fãs e interessados sofrem; vêm alguns de seus maiores ídolos chegarem ao Brasil e não têm dinheiro para assistir. No caso dos músicos é ainda pior: trabalham com música, dedicam uma vida a isso, e não tem dinheiro para assistir a um show mais caro.

Helena Piccazio, violinista, está juntando histórias de músicos brasileiros que conseguiram furar esse esquema e assistir à apresentação da Filarmônica de Berlim (melhor do mundo!) de graça, quando esta veio para São Paulo.

Essa é a idéia. Arte é pra todo mundo!!!

Nessa semana, Helena nos traz a história do trompista André Gonçalves:

Quando a Berliner Philharmoniker Orchester esteve em São Paulo, eu tinha acabado de entrar na Orquestra Sinfônica de São Caetano do Sul, emprego que tinha conquistado com muito suor, que era muito importante para mim. Então eu ganhei um convite pro concerto (!), e no meu 1º ensaio da orquestra pedi licença para faltar, e assistir a BPO, já que tive a sorte de ser premiado com um convite.

No dia seguinte à tarde teve uma masterclass na cúpula do Theatro Municipal de São Paulo que foi muito interessante. Quando ela acabou, resolvi me esconder e fiquei por ali até um funcionário do Theatro chegar e perguntar o que nós (eu e mais uns ratos como eu) estávamos fazendo lá. Dissemos que a aula tinha acabado tarde, e que já estávamos indo embora...

É claro que desci eu fui direto para um banheiro do foyer. Eu poderia simular que estava passando mal e precisava ficar no vaso muito tempo ou algo assim. Fiquei lá das 17h até 21h, então mantive a pose, lavei minhas mãos e dei uma arrumada no cabelo. Saí do banheiro e assisti de novo o concerto da melhor orquestra do mundo. E acabei faltando no ensaio da Orquestra de São Caetano de novo...

A essa altura eu estava tão empolgado que já tinha esquecido da Orquestra de São Caetano, e resolvi chamar a galera da BPO pra tomar um choppinho. A galera gostou da idéia e a gente foi parar no Bar Continental. Tomamos uns 258 chopps e a conta foi paga em marco alemão, essa parte também foi boa!

Dia seguinte eu tive uma ressaca enorme, mas estava muito feliz, ainda mais porque até hoje eu tenho a gravação da 9a sinfonia de Mahler que eles tocaram no Teatro Municipal, hehehe...

No outro ano fui a Berlin e o Stefan Dohr (primeira trompa da BPO) lembrou de mim, do barzinho, e me deu uma aula de 2 horas de graça!"

André Gonçalves toca trompa na Orquestra Sinfônica do Estado De São Paulo.

Legenda:

Berliner Philarmoniker Orchester (BPO) é o nome original da Orquestra Filarmônica de Berlin em alemão.

Masterclass é o nome dado a uma aula de instrumento musical aberta a ouvintes, geralmente são várias pessoas que t em aula numa mesma masterclass, uma de cada vez.

19.11.06

Sérgio Milliet e as Bienais - CCSP - 19/11/06

Moderno, sempre

Andar pela exposição Sérgio Milliet e As Bienais é resgatar a história da arte moderna no Brasil. Sérgio foi diretor da Biblioteca Municipal e do Museu de Arte Moderna de 1952 a 1957, e lutou para que esse tipo de arte fosse bem aceita por aqui. A exposição reúne algumas obras expostas nas primeiras Bienais, realizadas no MAM quando Sérgio era diretor.

Entrei na sala onde estão expostos os quadros, e começei, cronologicamente, pela parte esquerda. Rascunhos e pinturas de Tarsila do Amaral, Lasar Segall, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e outros. Alguns quadros impressionam pela simplicidade, outros pela forma complexa de se transmitir uma mensagem simples.

Um dos quadros mais belos é de Oswaldo Goeldi, intitulado Tubarão. Um tubarão posto numa liteira, num dia calmo qualquer. O quadro é todo traçado com linhas horizontais, e nelas o céu, o mar e o chão fazem parte da mesma substância. Goeldi usa tons de amarelo, laranja e marrom para compor um quadro que não nos dá certeza de que se está admirando um pôr ou um nascer do sol.

Outro de babar é um quadro do polonês Jacob Steinhardt. Uma cidade decadente vê uma mulher levando dois baldes amarrados um em cada ponta de uma vara que leva às costas; possivelmente foi buscar água no poço. Cores tensas, carregadas de intencionalidade ao descrever aquele mundo como prestes a ruir. Ou já em ruínas.

Milton Dacosta também está representado, e muito bem. Seu quadro Namorados (fig. 1) é bem ao estilo Pablo Picasso. Um rosto dividido ao meio, e cada metade representa um dos dois namorados, como se fossem uma pessoa só, mas mantendo as devidas individualidades. Usa cores fortes, como o azul e o amarelo.

As obras vão ficando mais e mais abstratas, até chegar a um abstrato total, nos quais títulos pouco ou nada importam. Obras de Geraldo de Barros, Rubem Valentim e Anatol Wladylaw (ao lado) compõe parte deste cenário de negação da negação, que compôs o cenário artístico brasileiro e mundial principalmente nos anos cinqüenta e início dos sessenta.

Vale a pena visitar o antigo Centro Cultural Vergueiro, atual CCSP. Além dessa exposição, há algumas outras mostras rolando no lugar que, se não são igualmente boas, valem a visita.

Nota – 9

Custos
Café – R$1,00
Pão-de-queijo – R$1,20
Transporte (fui e voltei a pé)
Total – R$2,20

18.11.06

Da meia-noite às seis – Casa das Rosas – 18/11/2006

Fotomontagens

Inúmeras vezes acordamos assustados com nossos sonhos, sem entender quais podem ser seus significados. Grandes mistérios, sustos e revelações são apresentados, mas na maioria das vezes sem coerência nem nexo. Estas impressões formam a preocupação da fotógrafa e artista plástica Flávia Gomes na mostra “Da meia-noite às seis” que retrata este período em que acreditamos estar durmindo profundamente.

Através da técnica “Light Painting” - pintura de luz – 22 trabalhos estão expostos em um leve tecido, na reformada Casa das Rosas. São fotos distorcidas e alteradas para criar ambientes chocantes, fortes e impressionantes. Poesias também são acrescentadas para ilustrar aquelas ilusões e simbolismo.

Muitas imagens passam um ar assustador. É o caso em que há um auto-retrato de Flavia Gomes em posições distintas numa mesma sala. Com tons diferentes de cores, cria-se um destaque para o fundo do espaço, como se houvesse um fantasma predominante sobre a realidade apresentada. É preciso muita atenção e poder de observação para reparar nos detalhes que permeiam cada obra. Em um jogo de luzes fascinante e fotos ainda mais completas e reveladoras, relembramos sonhos que já nos incomodaram em passados distantes. Com metáforas sensíveis, a artista cria profundas sensações em cada um que observa os quadros com atenção.

As poesias são diretamente relacionadas ao tema. Em certos momentos, parecem completar-se umas as outras - assim como as fotos, que aparecem em uma seqüência bem escolhida. A simplicidade em que as obras estão dispostas cria um ambiente de pureza e leveza, quase nos transportando para dentro de um sonho, atingindo em cheio o ponto em que a autora provavelmente queria chegar.

Durante o curto passeio pela pequena sala de exposição, as antigas perguntas sobre sonhos e ilusões da mente vem à tona: estamos realmente dormindo quando aqueles histórias passeiam pela nossa cabeça? são sinais que aparecem para nós e devem ser estudados e interpretados cuidadosamente? ou são apenas delírios de descanso? Apesar do pouco espaço e da ausência total de interação, a reflexão provinda das idéias inteligentes de Flávia Gomes superam os problemas e criam identidade própria, o que provoca boas lembranças, conversas e longas histórias.

Custos
R$ 0,00 (fui e voltei a pé)

Nota 8

Por Allan Brito

11.11.06

Primeira pessoa – Itaú Cultural – 11/11/2006

Viva a vida, viva a interação

A nossa existência e intimidade é um tema freqüente nas diversas linguagens da arte e pode ser abordada em inúmeros aspectos. Pensando nessa variedade de idéias em torno de um tema tão recorrente e fundamental, a mostra Primeira Pessoa foi desenvolvida para abranger a maior quantidade de informações a esse respeito. Traz obras de 13 artistas como José Rufino e Albano Afonso, todos unidos pela linha narrativa da autobiografia e memória. É apresentado o paradoxo entre individualismo e interação.

Em qualquer exposição que vou sempre gosto de ver a capacidade que os autores tiveram em criar meios de interação com quem vai observar sua obra. E neste ponto a exposição do Itaú Cultural está perfeita. A grande maioria das obras não é apenas observada. Nos quatro andares do local sempre há som, contato e liberdade. Desde quadros e objetos até projetores e televisões, a criatividade transborda, o que nos brinda com uma sensação permanente de movimento e fluxo.

Difícil é escolher o que mais chamou minha atenção. Logo na entrada, Emil Forman faz uma instalação fotográfica sobre a sua mãe, retratando as recordações que sentimos. Ao subir para o mezanino vemos mais objetos dispostos para atiçar lembranças e saudades. O grupo Lume de teatro expôs, com ajuda da curadora Christine Greiner, souvenirs coletados em suas viagens pelo mundo. Neste mesmo andar, ainda temos a surpreendente obra de Albano Afonso, que apresenta a série Como Me Vejo/Como Eles Se Viam, em que mistura genialmente a sua imagem com as imagens de grandes artistas, como Rembrandt, Velįzquez e Courbet. Neste momento percebemos como refletir é viver, a partir da descoberta de novas visões e leituras em cada quadro.

Descendo para os subsolos era difícil prever quais eram as outras surpresas nos aguardavam, mas a certeza de que não haveria decepção era absoluta. Então vejo projetores. São documentários de Cão Guimarães, retratando o que acontece quando nossa intimidade é observada por pessoas que não nos conhecem. A vontade é de assistir a todos filmes, porém a curiosidade com o que está à nossa frente é ainda maior. Parece um lago, há alguma galochas e objetos pendurados no teto. É possível pisar naquela superfície para descobrir um novo mundo artístico com o Teatro de Vertigem.

Em meio a tantos artistas geniais, Hermeto Pascoal também marca presença. Partituras de seu projeto, em que escreveu uma música para cada dia do ano, são montadas para a exposição em que mergulhamos em um mundo de belas composições, como um trecho que inspira o título dessa resenha: “Viva a vida, viva o som”. Descendo mais um andar, temos televisões e obras menos interativas, mas não menos interesantes. Os autores também aparecem nas telas para comentar a própria obra neste projeto grandioso.
Ao final, ainda mais interação: cada visitante pode criar seu próprio catálogo com resumos sobre os espaços vistos. Diversos textos e fotos estão disponíveis para a montagem de uma recordação valiosa. Impossível esquecer tamanha qualidade artística e criativa.


Custos:
Transporte – R$ 0,00 (ida e volta a pé)
Salgado e refrigerante - R$ 4,00
Total – R$ 4,00

Nota – 10


por Allan Brito

Causos - Criança tem cada uma...

Criança tem cada uma...
por Carol Bataier

Trabalhar com criança dá trabalho. Trabalhar com teatro dá trabalhos. Ambos exigem dedicação e paixão. E juntar os dois exige além disso, paciência.

Mas eu, na minha situação de paciente apaixonada, resolvi ensinar teatro a um grupo de crianças. E formei um bom grupo, com crianças dedicadas, expressivas e, claro, serelepes!

Resolvi ensiná-las tudo, não somente a interpretação. Entreguei-lhes livros. Pedi que escrevessem histórias, que usassem a imaginação. A intenção era fazer com que eles ensaiassem e representassem uma peça escritas por eles mesmos. Queria envolvê-los em tudo e assim fiz.

E eles usaram toda a imensa imaginação infantil e a peça ficou pronta. Tinha princesa, cavalos, dragões, príncipe. Sim, as crianças de hoje em dia ainda lêem contos de fadas!

Depois fizeram o cenário. O castelo, as pedras, as árvores. Tudo de papelão.

No dia da distribuição dos papéis houve um problema: sobravam meninos e faltam príncipes e bobos-da-corte. E todos queriam estar no palco. A solução encontrada em conjunto foi que alguns meninos seriam as árvores. Dois deles concordaram, mas o terceiro fez cara feia. Era um menino muito expressivo, que não se contentou com uma simples e muda árvore. Sobrava expressividade e faltava papel naquele grupo.

Depois de ensaios, risadas e choros chegou o dia da primeira apresentação. Tudo parecia tranqüilo, mas eu sentia que o garotinho da árvore estava planejando alguma coisa. “Quando a criança está muito quieta, é porque está fazendo algo errado”. Ah! A velha sabedoria popular. Sempre com razão!

O espetáculo começou e as árvores estavam em seu lugar. E assim a peça decorreu, até certo momento. Havia uma cena em que o príncipe procurava sua princesinha em todo canto, sem saber que a pequena estava presa no castelo. O príncipe parava para descansar embaixo das árvores, onde, depois de muito questionar-se, tinha a idéia de ir até o castelo. Mas o principezinho desavisado não sabia que havia um terrível dragão guardando as portas da frente do castelo e ao chegar lá os dois brigavam e depois da árdua batalha o príncipe saía vitorioso, claro.

E lá estava o principezinho descansando à sombra. O garoto olha para a platéia, usa sua melhor expressão de desespero e diz: “E agora? O que eu faço? Onde ela pode estar?”. E foi então que uma das árvores se mexeu e, dando um pulo à frente do príncipe, exclamou: “Tá no castelo, tenho certeza! Passa lá, mas vai pelos fundos que na frente tem um dragão!”.

O príncipe, sem alternativa, aceitou o conselho, salvou a princezinha e foi feliz pra sempre, sem nenhum cansaço.

Carol Bataier é estudante de jornalismo

7.11.06

Galope - CineSesc – 06/11/2006

Refletindo a galope

Não havia mais de vinte pessoas na sala de cinema do Sesc quando o filme começou a ser rodado. Definitivamente o cinema polonês não é algo que atraia um público realmente grande, e o horário, no meio da tarde, também não favorecia. Porém, minha recente paixão por cinema e uma enorme curiosidade típica de jornalista me levaram animado ao local.

A mostra faz parte de uma iniciativa da Embaixada da Polônia para divulgar a cultura de seu país. O foco é a produção do diretor Krzystof Zanussi, que na verdade, não tem ligação direta com nenhuma corrente do cinema polonês. Porém, trata-se de um premiado e prestigiado diretor europeu. Serão exibidas durante toda a semana diversas produções, desde as mais antigas, de 1980 (Constans), até a mais recente, de 2005 (Persona non grata).

O filme daquela tarde era “O Galope”, rodado em 1995, mas com a história situada em um passado não muito distante em que a Polônia ainda vivia sob o regime socialista imposto pela extinta União Soviética. Dentro deste momento político, Hurbert, um jovem garoto do interior da Polônia, tem que se mudar para Varsóvia e morar com uma tia distante. Tudo isso visando driblar problemas com o governo. Chegando na capital ele encontra a sua tia, que foi criada na roça e nutre a mesma paixão por ele: os cavalos.

O que mais impressiona no filme desde o seu início é a direção de fotografia. Luzes bem trabalhadas e cores bem escolhidas dão um traço leve e sensível durante todo o filme. Além da atuação responsável e envolvida da maioria dos atores, que demonstravam em suas atitudes o conhecimento total do sofrimento vivido naquela época de transição do país. Apesar das legendas em inglês que ainda apareciam na tela e de algumas cenas desnecessárias, a produção faz com que a obra não perca seu valor durante todos os cem minutos.

O problema de adaptação enfrentado por Hurbert a um novo mundo mais cruel e malicioso faz com que reflitamos sobre questões simples e importantes que nem sempre reparamos na nossa vida. O contexto histórico é a marca principal deste trabalho, mas a busca pela reflexão é provada em cada cena. Sem que se perceba, já estamos envolvidos nos conflitos do jovem garoto e todas as suas dúvidas e confusões.

A surpresa diferente e interessante no final do filme retrata a genialidade do diretor e explica o envolvimento do elenco e da produção que foram sentidos durante toda a obra. Voltando para casa não consegui parar de refletir sobre aquelas questões levantadas durante o filme. E essa é a beleza do cinema!

Nota – 8

Custo
Transporte – R$ 0,00 (ida e volta a pé)

por Allan Brito

4.11.06

Gabriel Sater – Sesc Vila Mariana – 04/11/06

O Tangadeiro

Antes de chegar no Hall do Sesc Vila Mariana já ouvia o chorinho. Não, o duo de violões ainda não havia começado a tocar, era só um som ambiente, prelúdio do que viria.

Ajeitando as coisas e esperando a hora para começar, os músicos e produção estavam já por ali, conversando, olhando. E ninguém precisava de indicação para saber quem era Gabriel Sater. Gabriel é quase que a fotografia do pai, Almir Sater.

Uma platéia na faixa dos cinqüenta anos esquentava os bancos do lugar, que cheio, viu Gabriel e Negão dos Santos sentarem em suas cadeiras e começarem a tocar. A primeira música foi de seu pai, para a alegria da platéia presente.

O que mais impressiona na técnica de Gabriel é o ataque de sua mão direita às cordas. Soa como uma mistura da pegada de música de raiz com algo mais erudito. Por vezes virtuose, dedilha e puxa as cordas, brincando com o violão sem grandes problemas.

O jovem violonista apresentou músicas notadamente nostálgicas. A maioria das notas que buscava em seus solos, enquanto Negão fazia as bases, eram agudas. Talvez seja influência da música de raiz, que tem a tristeza como um dos temas principais.

De tango a chorinho, de flamenco a blues, o set list escolhido foi bem eclético, e impediu que as toadas de violão caíssem na mesmice daquele sábado à tarde. Ao final, a platéia aplaudiu de pé pedindo bis e os 10 cds que lá estavam à venda acabaram. Valeu a tarde.

Nota – 9

Custos
R$ 0,30 – Doce
R$ 0,00 – (fui e voltei a pé)

Dia 18 estará novamente no Sesc Vila Mariana (confira nossa programação), e prometeu um show diferente, com uma surpresa...

Artistas no Telhado - Filarmônica de Berlim

Berlim Superstars!
Por Helena Piccazio


Pra quem pensa que música clássica é sinônimo de música relaxante, pra dormir, de gente mais velha, mais metido a refinado, tenho que dizer: não é bem assim...

Musica clássica é algo que exige dos músicos muito estudo, mas muito mesmo! Ela pode provocar nos ouvintes sensações de todo tipo: dúvida, nervosismo, tranqüilidade, paixão, eletricidade, alegria e mais uma infinidade que só a musica pode provocar! Imagine que fazer isso da melhor forma possível é muito difícil, e fica ainda mais complexo se juntar 100 músicos, cada um tocando um instrumento diferente, mas todos a mesma musica, como nas orquestras.

Em São Paulo existem muitos estudantes de música clássica (muito mais do que se imagina!) e um dia de 1999 veio para o Brasil pela primeira vez a Orquestra Filarmônica de Berlim. Convenhamos: estudante no Brasil não pode pagar 200 reais por um ingresso! E a Filarmônica de Berlin é simplesmente considerada a melhor orquestra do mundo! Resolvi escrever pra meus amigos e perguntar o que fizeram pra ouvir a Filarmônica de graça.
A violoncelista Marta Carmo do Espírito Santo, natural da Bahia, estava morando em São Paulo para estudar nessa época e conta:
- "Oi!
Artistas no telhado??? Tudo a ver com a minha historia!!!
Você nem acredita, mas eu, a Claudia da flauta, e outra flautista que estudava com a gente na Unesp, fomos parar no telhado no Teatro Municipal, perto da máquina do ar condicionado. Um cellista da Filarmônica de Berlim, que eu conheci no lançamento do cd do grupo de cellos um dia antes, foi super simpático e colocou a gente pra dentro do teatro dizendo: a partir daqui vocês se viram, né? E tentamos subir pra ter acesso a platéia quando um segurança nos viu. Saímos fugindo correndo, entramos no elevador, fomos ate o ultimo andar pensando que estaríamos salvas ali, mas um tempo depois la estava ele de novo.

Então corremos e subimos umas escadinhas, já no teto mesmo, onde tinha uma máquina barulhenta gigante (era o ar condicionado) e nos agachamos ali, bem apertadas, por alguns minutos... eu e a Claudia tivemos a idéia de orar, e assim fizemos, quando de repente o cara abre a porta, acende a luz e nos pega sem saída, hahaha! ate hoje me lembro... Nós dissemos a ele que dali dava pra ouvir a orquestra, e era tudo o que queríamos, só ouvir, já que éramos estudantes sem grana pra comprar um ingresso - que era absurdo na época, uns duzentos e pouco... Então, com a maior cara de serio e bravo, nos chamou para acompanha-lo e mostrou a entrada para a galeria, aquela perto do teto que pra ver a orquestra você não pode ter medo de altura, hehehe... E alem de ouvir, assistimos! Com gosto de vitória ainda!".

Mais histórias dos músicos brasileiros na Filarmônica de Berlim? Na próxima Artistas no Telhado!
Helena Piccazio é violinista

3.11.06

Artistas no Telhado - Filarmônica de Berlim

Berlim Superstars!
Por Helena Piccazio


Pra quem pensa que música clássica é sinônimo de música relaxante, pra dormir, de gente mais velha, mais metido a refinado, tenho que dizer: não é bem assim...

Musica clássica é algo que exige dos músicos muito estudo, mas muito mesmo! Ela pode provocar nos ouvintes sensações de todo tipo: dúvida, nervosismo, tranqüilidade, paixão, eletricidade, alegria e mais uma infinidade que só a musica pode provocar! Imagine que fazer isso da melhor forma possível é muito difícil, e fica ainda mais complexo se juntar 100 músicos, cada um tocando um instrumento diferente, mas todos a mesma musica, como nas orquestras.

Em São Paulo existem muitos estudantes de música clássica (muito mais do que se imagina!) e um dia de 1999 veio para o Brasil pela primeira vez a Orquestra Filarmônica de Berlim. Convenhamos: estudante no Brasil não pode pagar 200 reais por um ingresso! E a Filarmônica de Berlin é simplesmente considerada a melhor orquestra do mundo! Resolvi escrever pra meus amigos e perguntar o que fizeram pra ouvir a Filarmônica de graça.
A violoncelista Marta Carmo do Espírito Santo, natural da Bahia, estava morando em São Paulo para estudar nessa época e conta:
- "Oi!
Artistas no telhado??? Tudo a ver com a minha historia!!!
Você nem acredita, mas eu, a Claudia da flauta, e outra flautista que estudava com a gente na Unesp, fomos parar no telhado no Teatro Municipal, perto da máquina do ar condicionado. Um cellista da Filarmônica de Berlim, que eu conheci no lançamento do cd do grupo de cellos um dia antes, foi super simpático e colocou a gente pra dentro do teatro dizendo: a partir daqui vocês se viram, né? E tentamos subir pra ter acesso a platéia quando um segurança nos viu. Saímos fugindo correndo, entramos no elevador, fomos ate o ultimo andar pensando que estaríamos salvas ali, mas um tempo depois la estava ele de novo.

Então corremos e subimos umas escadinhas, já no teto mesmo, onde tinha uma máquina barulhenta gigante (era o ar condicionado) e nos agachamos ali, bem apertadas, por alguns minutos... eu e a Claudia tivemos a idéia de orar, e assim fizemos, quando de repente o cara abre a porta, acende a luz e nos pega sem saída, hahaha! ate hoje me lembro... Nós dissemos a ele que dali dava pra ouvir a orquestra, e era tudo o que queríamos, só ouvir, já que éramos estudantes sem grana pra comprar um ingresso - que era absurdo na época, uns duzentos e pouco... Então, com a maior cara de serio e bravo, nos chamou para acompanha-lo e mostrou a entrada para a galeria, aquela perto do teto que pra ver a orquestra você não pode ter medo de altura, hehehe... E alem de ouvir, assistimos! Com gosto de vitória ainda!".

Mais histórias dos músicos brasileiros na Filarmônica de Berlim? Na próxima Artistas no Telhado!
Helena Piccazio é violinista

2.11.06

Petit Música - Beatles

Por quê Beatles?
por Luciano Piccazio Ornelas

Quatro moleques doidos por Elvis, que gostavam de comer frango no palco enquanto tocavam, e ganhavam uns tostões tocando, basicamente, música cover. Fizeram uma viagem à Alemanha para se apresentarem em bares e lá ficavam acordados à base de drogas estimulantes. Num destes bares, seu guitarrista foi preso: tinha apenas 17 anos (era contra lei menores tocarem em bares).

Quatro meninos que acabaram se tornando o acontecimento musical mais importante do século XX. Nada influenciou tanto a música popular quanto os Beatles, nada influenciou tanto a moda quanto os Beatles, nada influenciou tanto a indústria artística quanto os Beatles.

Interessante pensar que o século que acabou passou por mais transformações neste curto período do que qualquer outra época da humanidade. Foram duas guerras mundiais, inversões de poder mundial, quebradeiras em bolsas que quase levaram o mundo a caminhos mais escusos do que este em que vivemos. Mas, principalmente, foi o século em que a individualidade surgiu em sua forma mais plena e mais bela.

As mulheres queimavam sutiãs nas ruas, adolescentes colocavam flores em canos de fuzis. E jovens cantavam rock ´n roll.

Beatles começaram cantando músicas simples, de quatro acordes (quando muito). Mas mesmo nestas músicas que muitos consideram não tão importantes, vemos mudanças significativas. Já não se falava daquele amor distante, de um rapaz que idolatra uma mulher inalcançável. Falavam de amores palpáveis, desilusões reais, homens que deixavam mulheres; deixaram de lado o platonismo poético tão comum até hoje.

Depois veio o álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, marco da música ocidental. Para começar, a produção ficou a cargo de Karlheinz Stockhousen, músico erudito contemporâneo considerado por muitos o Beethoven do século XX. As músicas e a concepção do disco retratam uma história que se desdobra ao longo das canções, de uma linearidade genial. Mistura música erudita com popular; e tem a última música feita em conjunto pela dupla Lennon e Mccarney: She´s Leaving Home.

Depois de Sgt. Peppers, um ótimo disco que teve uma péssima recepção do público, Magical Mistery Tour, dá início a fase individualista da banda. Não eram mais aqueles quatro bonitinhos de Liverpool, mas seres imersos em sua introspecção, barbas e drogas, cuja percepção sobre o tamanho de sua fama começava a ficar mais clara.

Não nos iludamos. Nenhum dos quatro Beatles era grande instrumentista. Quando a banda começou, Lennon pensava que guitarra se tocava com quatro cordas (Harrison o ensinou o certo). Paul, o mais musicalmente versado, teve praticamente que descobrir como se tocava baixo, já que baixo elétrico começou a ser fabricado na época em que os Beatles se juntaram.

O que fazia a banda ter essa magia que impressiona até hoje é a junção de quatro elementos. Um grande poeta, um compositor fantástico, um guitarrista perfeccionista e um baterista que criou praticamente todos os grandes riffs populares de seu instrumento.

Beatles é um assombro comercial. O que dizer de uma banda que acabou em 1970 e ficou em primeiro lugar do ranking dos cds mais vendidos em 2001? É a banda com mais músicas regravadas por outros artistas. Paul McCartney foi o primeiro (e até agora único) músico da história a tocar ao vivo para o espaço! Sim, o músico, no meio de um show na Califórnia em 2005, parou de tocar. Abaixaram um telão que mostrou um vídeo ao vivo com os astronautas Bill McArthur e Valery Tokarev, que estavam acordando. Então Paul deu bom dia e começou a tocar Good Day, Sunshine.

A última fase, que acompanhou os quatro em suas respectivas carreiras solo, foi a fase política, engajada. Perceberam o tamanho de sua fama e o poder que teriam em mãos e passaram a usá-la em defesa de outros. All you need is love, Give piece a chance e How Many Peaple são algumas das canções dessa fase.

Aqueles quatro moleques doidos por Elvis, a essas alturas, já tinham músicas suas regravadas por Elvis. Já tinham o mundo em mãos, e um deles, o poeta, chegou a ser morto por isso. Não há como pensar a música popular atual sem pensar em Beatles, sem pensar em Lennon, sem pensar em McCartney, sem pensar em Harrison e sem pensar em Ringo.

Entender o fenômeno Beatles é entender a nossa geração e a de nossos pais. É entender a história e o histórico de atitudes que guiaram estes quatro músicos e seus milhares de fãs pelo mundo. As novas bandas de rock, que hoje não passam de conjuntos de adolescentes mimados e extremamente chatos, poderiam ouvir um pouco mais dessa banda que ainda vende tanto, e que ainda fala tanto.

Luciano Piccazio Ornelas é editor do Blog Arte Free