11.11.06

Causos - Criança tem cada uma...

Criança tem cada uma...
por Carol Bataier

Trabalhar com criança dá trabalho. Trabalhar com teatro dá trabalhos. Ambos exigem dedicação e paixão. E juntar os dois exige além disso, paciência.

Mas eu, na minha situação de paciente apaixonada, resolvi ensinar teatro a um grupo de crianças. E formei um bom grupo, com crianças dedicadas, expressivas e, claro, serelepes!

Resolvi ensiná-las tudo, não somente a interpretação. Entreguei-lhes livros. Pedi que escrevessem histórias, que usassem a imaginação. A intenção era fazer com que eles ensaiassem e representassem uma peça escritas por eles mesmos. Queria envolvê-los em tudo e assim fiz.

E eles usaram toda a imensa imaginação infantil e a peça ficou pronta. Tinha princesa, cavalos, dragões, príncipe. Sim, as crianças de hoje em dia ainda lêem contos de fadas!

Depois fizeram o cenário. O castelo, as pedras, as árvores. Tudo de papelão.

No dia da distribuição dos papéis houve um problema: sobravam meninos e faltam príncipes e bobos-da-corte. E todos queriam estar no palco. A solução encontrada em conjunto foi que alguns meninos seriam as árvores. Dois deles concordaram, mas o terceiro fez cara feia. Era um menino muito expressivo, que não se contentou com uma simples e muda árvore. Sobrava expressividade e faltava papel naquele grupo.

Depois de ensaios, risadas e choros chegou o dia da primeira apresentação. Tudo parecia tranqüilo, mas eu sentia que o garotinho da árvore estava planejando alguma coisa. “Quando a criança está muito quieta, é porque está fazendo algo errado”. Ah! A velha sabedoria popular. Sempre com razão!

O espetáculo começou e as árvores estavam em seu lugar. E assim a peça decorreu, até certo momento. Havia uma cena em que o príncipe procurava sua princesinha em todo canto, sem saber que a pequena estava presa no castelo. O príncipe parava para descansar embaixo das árvores, onde, depois de muito questionar-se, tinha a idéia de ir até o castelo. Mas o principezinho desavisado não sabia que havia um terrível dragão guardando as portas da frente do castelo e ao chegar lá os dois brigavam e depois da árdua batalha o príncipe saía vitorioso, claro.

E lá estava o principezinho descansando à sombra. O garoto olha para a platéia, usa sua melhor expressão de desespero e diz: “E agora? O que eu faço? Onde ela pode estar?”. E foi então que uma das árvores se mexeu e, dando um pulo à frente do príncipe, exclamou: “Tá no castelo, tenho certeza! Passa lá, mas vai pelos fundos que na frente tem um dragão!”.

O príncipe, sem alternativa, aceitou o conselho, salvou a princezinha e foi feliz pra sempre, sem nenhum cansaço.

Carol Bataier é estudante de jornalismo

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