26.1.12

DOMÍNIO PÚBLICO E A PIRATARIA





Lia de Itamaraca
por Bruna Piccazio












Seu avanço:incontrolável. Sua aplicação: controlável, se considerarmos a conformidade dos usuários. A questão da pirataria é delicada. Artistas consagrados dizem que a pirataria é um fenômeno natural, e que, portanto, os músicos devem se adequar à nova fase. Os usuários defendem logicamente a sua posição. E o design da resposta do FBI à nova investida para baixar música na internet não assusta tanto. Pelo menos não após a segunda tentativa de download. 


De qualquer maneira, os verdadeiros incomodados com a pirataria podem saber mais a respeito do termo domínio público. Ora, muitos estudiosos de cultura popular sabem que músicas autorais populares são confortavelmente repassadas de público à público, como músicas de domínio coletivo. Uma senhora que mora em Pernambuco, pobre e que dedica sua música à empreitadas de apresentações artísticas - mesmo que sua intenção primeira seja religiosa, por exemplo - não recebe a mesma dedicação oficial que um músico que participa das grandes gravadoras.


Sabemos disso, infelizmente e é bom lembrar. Mas, mais do que isso: a música popular individualizada usa e abusa da riqueza artística de figuras muito especiais que emanam talento dentro das grandes e pequenas manifestações populares. São canções, danças, figurinos...A saber que a Lia de Itamaracá existe e desvendando a dúvida se as trocas são justas: Paulinho 7 Flechas (que é pequenininho, magro e que, durante uma conversa é capaz de apontar marcas de balas que têm incrustadas pelo corpo, sem qualquer sinal de fraqueza; e, de repente, até contar a estória de cada uma), mestre do Caboclinho 7 Flechas de Recife, foi chamado para dar oficinas à cia que foi da Pina Bausch, em Paris, há alguns anos. Tudo super pago e, ainda, com matéria publicada em que o título era: “Paulinho: O Deus da dança”. Dançarinos conheceram o trabalho de Pina, a deusa da dança-teatro. Mas, e o Paulinho que é um exemplo de superação humana do meio artístico brasileiro? Como despiratiar seu merecido trabalho? É preciso? Fazer com que ele recebesse apoio financeiro seria o mínimo. Temos muita discussão pela frente. E acredito que seja uma boa oportunidade para repensarmos muitas questões a respeito das diversas organizações do trabalho artístico brasileiro. Uma boa oportunidade para refletir sobre a cultura popular, inclusive.


Bruna Piccazio é formada em dança pela Unicamp e pesquisa manifestações populares há doze anos.

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