21.11.13

A MADRINHA EMBRIAGOU!

fotos/divulgação
Por Claudia Piccazio
Não resisti,confesso. Fui a duas apresentações do musical A Madrinha Embriagada, em cartaz desde agosto, no teatro do Sesi. A primeira, logo na estreia e a segunda, dias mais tarde, com a boa e velha desculpa de que havia esquecido de pegar o programa. Uma delícia! Duvido que alguém saia de lá sem cantarolar ou arriscar algum sapateado pelo caminho.  Como declarou em entrevista o ator Frederico Reuter("Roberto Marcos")“Mesmo quem não é fã de musicais, vai gostar da Madrinha”. E é a mais pura verdade.

Na primeira vez, assisti o musical totalmente por acaso. Vinha de uma andança pela av. Paulista em busca de algo que valesse a pena quando bati o olho em um cartaz bem na entrada do prédio do SESI. Um dos funcionários rapidamente me abordou “A senhora veio para o teatro?“. Perguntei a que horas começava. “Agora, as quatro, é estreia. Ainda tem lugar é só passar na bilheteria”. Entrei na sala, com seus 456 lugares praticamente ocupados e assim que me acomodei, as luzes se apagaram e a plateia pode ouvir a voz do homem da poltrona, personagem que narra a história vivida em sua imaginação, do principio ao fim. 

É na sala de estar do homem da poltrona que a comédia se desenvolve. Solitário e rodeado de seus discos, mesmo desperto, ele sonha com os musicais do final dos anos 20.


A Madrinha Embriagada em sua versão original foi exibida na Broadway, em 2006, com o título de Drowsy Chaperone. Para a estreia no Brasil, ganhou tratamento vip na adaptação de Miguel Falabella. O também diretor fez a festa e dedicou-se a transformar a comédia musical em uma revista modernista, “percebeu a proximidade de 1928 com a Semana da Arte Moderna” e sem ferir a estrutura do texto original trouxe a história para São Paulo. Saíram as referências americanas, entraram as paulistanas e com muito savoir faire Falabella recriou o universo de personagens.   

A partir daí, todo o tom da montagem. Inspirado na obra da pintora Tarsila do Amaral, na fachada das fábricas, no Teatro São Pedro, no Edificio Martinelli, o espetáculo ganhou sua identidade visual. Da cenografia de Renato Theobaldo e Beto Rolnik, do figurino de Fause Raten, da iluminação de Fábio Retti, da sonorização de Gabriel D’Angelo ao visagismo de Dicko Lorenzo estava recriada a São Paulo endinheirada e culturalmente efervescente da década. 

Um elenco craque no gênero oferece ao público deliciosos momentos como o do efeito do disco riscado que obriga os atores a repetir o mesmo movimento, as cenas de sapateado, e, claro, a entrada do hilário “zelador” do prédio com seu sotaque peculiar trazendo um balde de realidade para o nosso homem da poltrona.   
  
O aeroplano de Dôra, a aviadora (Adriana Caparelli) que aterrissa no palco, o espelho vazado, a cama embutida na parede são alguns dos recursos de cena que somam graça ao musical. E, por fim, a alma do espetáculo, a música ao vivo. Destaque para a direção musical de Carlos Bauzys que junto à maestrina Laura Visconti, comanda a orquestra suspensa, distribuída nos dois lados do palco. A entrada da orquestra, logo no início, é vigorosa e alegre e se mantém assim até o final quando, mesmo depois de terminado o espetáculo, como numa antiga sala de cinema, acompanha a saída do público.

Há ainda aspectos importantes nos bastidores dessa mega produção orçada em 12 milhões de reais (FIESP – SESI e Atelier de Cultura).  O primeiro deles é que A Madrinha Embriagada, em cartaz até junho de 2014, abre o Projeto Educacional SESI–SP em teatro musical cujo objetivo é formar atores e plateias para espetáculos do gênero. E o segundo aspecto, igualmente importante, é a gratuidade, o público tem entrada franca e desta forma o acesso a uma categoria de trabalho que normalmente, por causa dos custos de produção, estabelece preços bem elevados pelos seus ingressos – tanto aqui quanto fora do país.

Miguel Falabella (e toda a equipe) soube honrar a proposta do projeto e deixou claro o seu respeito pelo público através da qualidade que imprimiu  nos mais minúsculos detalhes de todo o trabalho, mesmo e principalmente, por se tratar de entretenimento ou como diria o homem da poltrona  “...cumpre aquilo que se espera de uma comédia musical. Faz com que você esqueça por algum tempo da dura realidade que nos espera lá fora”.



Custos:
Cafezinho: R$ 3,50
Transporte: zero (fui e voltei a pé)

Nota:10

Um comentário:

Unknown disse...

Simplesmente encantador!!!