3.12.06

O Brasil de Marc Ferrez - Sesi - 03/12/06

O Brasil de Marc Ferrez

Sábado, caia uma chuvona. Saio do metrô Trianon e dou de cara com a imensa vitrine da Galeria do Sesi tingida de bordô, cor de caixas de bombons de antigamente, aquelas em veludo ou então camurça. Uma cor sofisticada, que sinaliza elaboração, luxo clássico, discreto, exatamente como as imagens expostas do fotógrafo carioca Marc Ferrez “O mais importante fotógrafo brasileiro do século XIX e inicio do século XX”

Entro na galeria e suas paredes estão ainda mais bordô e, no meio da cor, as fotos em preto e branco, expostas em diversos corredores e em pequenas salas que obedecem a uma ordem, um labirinto no qual somos orientados a seguir. Fico pensando na importância de Ferrez , mais até pela sua ausência. E se aquelas imagens não existissem? Perderíamos uma obra documental valiosa de um artista que registrou dois séculos em 50 anos de produção.

Saberíamos muito menos sobre as paisagens naturais e urbanas do Brasil, principalmente do Rio de Janeiro, as prediletas, e de São Paulo. E menos ainda sobre a vida daqueles anos registrados sob a perspectiva de suas lentes

Porque as imagens de Ferrez não se mostram meramente paisagens, o elemento humano, quase sempre presente, legitima a cena e dá informações valiosas sobre o comportamento da época. O fotografo constrói um cenário que ultrapassa, em muito, a própria imagem. Nesse sentido é imperdível a foto de um terreiro de café onde escravos trabalham. Lá eles estão com roupas diferentes entre si, alguns de chapéu semelhante a chapéu coco, alguns de paletó, e outros ainda com vestimentas diversas. As informações passadas na foto são muito interessantes principalmente para quem está habituado a associar escravos à calças enroladas até o joelho e torso nu.

Entro em uma das primeiras salas onde três painéis de cinco metros de altura cobrem todas as paredes. Neles, a tentativa de transmitir a sensação de magnitude de cachoeiras que despejam suas águas. Mas, o curioso é justamente o elemento humano nas fotos dos painéis, confrontado com aquela natureza. Moçoilas com vestidos fechadíssimos, longuíssimos, com direito a laço e almofadinha , chapéu e sombrinha, posam em pé. Em uma das imagens, um rapaz languidamente sentado sobre uma pedra tem boa parte da barra de sua calça molhada pelas águas, não fosse isso, seu traje poderia ser confundido com qualquer outro apropriado para um evento social.

Fotógrafo da Marinha Imperial e da Comissão Geográfica e Geológica do Império, Ferrez viajou por todo o país. Registrou as minas de ouro de Minas Gerais, os serviços de captação de água e as instalações urbanas do Rio de Janeiro. Em São Paulo, fotografou as fazendas de café, a cidade de Santos e o porto, além dos panoramas da capital. Não faltaram retratos da família real, de celebridades da época, de índios e negros

Nas saletas da Galeria do Sesi espalham-se 350 imagens do acervo de 5.500 do Instituto Moreira Salles (IMS). São registros que datam a partir de 1860, ano em que o fotógrafo iniciou suas atividades e produziu panoramas da cidade do Rio de Janeiro em negativos de grande formato (40 x 110 cm).

Quando chego bem ao centro da galeria, encontro a grande câmera que Ferrez utilizava para fazer as tais panorâmicas. Junto a ela estão todos os equipamentos usados por ele. Passo pelas vitrines que exibem negativos originais em vidro e paro nas reproduções de imagens feitas pela IMS em papel albuminado, técnica do século 19 realizada a partir de clara de ovo e exposição da imagem ao sol.
Saio dali com a sensação de que não vi tudo que deveria. Marc Ferrez conta muitas histórias. É para se ler devagar.


Custos

Uma passagem de metrô 2.10
Voltei para casa a pé

Nota 10

Serviço:
Exposição: O Brasil de Marc Ferrez – Fotografias do Acervo do Instituto Moreira Salles
Local: Galeria de Arte do SESI – Av. Paulista, 1313 – metrô Trianon-Masp
Exposição: até 4 de março de 2007
Horário: de terça a sábado, das 10h às 20h; domingos, das 10h às 19h

Por Claudia Piccazio

2 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo, mae!

Nena

Anônimo disse...

bom demais!
quem sabe sabe
Luccio