“Gente, a peça vai atrasar uns 10 minutos. É que a luva de boxe está vindo. Está descendo a Rebouças”. Nós, que estávamos esperando começar a peça de teatro, rimos ante o absurdo da afirmação. Mas é o teatro. Teatro tem sempre um “quê” de surrealismo, e a aura imaginativa nos toma mesmo antes do espetáculo começar.
Calmamente, um homem caminhou com o tão esperado par de luvas de boxe e foi-se bilheteria adentro. Dois minutos depois, anunciaram que poderíamos entrar. Fomos, então, subindo as escadas e tomando nossos assentos.
O espetáculo, Angel City, era uma adaptação feita pelo diretor Rudson Marcello e pelos quatro atores da peça ao texto original de Sam Shepard. São estudantes do curso de teatro do Espaço Recriarte, e a peça foi algo como seu “trabalho de conclusão de semestre”.
Uma cadeira, um ou dois holofotes, e aí estava o cenário. Os atores, três mulheres e um homem, revezavam-se nas falas, gestos e cantos. Estão aprendendo a interpretar, e isto é claro, mas havia momentos em que nos esquecíamos disso.
A transformação que sofre o personagem de Luis Medaglia é impressionante: do tímido escritor ao homem que faz a revolução. Assim como a beleza inegável de Laura Novaes, cujos monólogos levavam o público a ficar em suspenso. Gabi Lopes, com uma apresentação impecável, desfilava, em seu salto alto, toda a raiva que sua personagem trazia. Não por acaso, era ela quem empunhava as tão esperadas luvas de boxe.
O texto, via-se logo de cara, dizia algo aos atores. Falava sobre fama, sobre querer ser um ator conhecido, uma estrela. E sobre a dura realidade do anonimato, do fracasso. Para estes, que estão começando a aprender o que é o teatro, é uma viva necessidade. Ponto para o diretor.
Rudson Marcello ao final da peça sentou os atores no palco, pediu ao público que ficasse para um bate-papo. Interessante, informal e breve, como devem ser tais bate-papos. Certamente, um bom programa para o domingo a tarde.
Preço: um kg de alimento (fui e voltei a pé)
Nota: 7,5
por Luciano Piccazio Ornelas
3 comentários:
De fato o espetáculo foi marcante, não pela sua moldura em torno da arte final, mas pelo envolvimento do grupo (Gabi, Isabela, Laura e Medaglia) e da condução de Rudson Marcello. De fato percebemos que a educação é tudo, é tudo na vida, é tudo na arte!
Ai que vontade de ir ver!
Finalmente este blog voltou!
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