Por Helena Piccazio
Desço ao hall do hotel, vou até porta e olho o céu: cinza. Olho o ar: molhado. Olho pra direita: é pra lá que eu vou. Caminho em direção à ponte de Santiago Calatrava em forma de espinha de peixe e a atravesso olhando ainda pra direita e ainda com aquele vento meio garoa meio chuva, bem chato.
Um elevador me leva até a rua de cima. Ando mais um pouco dando a volta no prédio super modernoso, passo pela enorme escultura de flores em forma de cachorro e leio na placa: Sarrera - Entrada - Entrance, com uma flecha indicando a escada. As três línguas da placa são basco, espanhol e inglês, me dizendo que cheguei ao Museu Guggenheim de Bilbao.
Hoje todo o museu que se preza, em todo o mundo, está com a entrada gratuita. Eu tinha só três horas, então escolhi o mais badalado, o principal cartão de visitas da cidade basca e por ser ele mesmo uma obra de arte do arquiteto americano Frank Gehry. A arquitetura do Guggenheim de Bilbao é tão famosa que para muitos críticos de arte o show de verdade é o edifício e nem tanto as exposições.
O prédio do Guggenheim se vê de longe, com tijolos de metal amarelado (titânio) que sugerem escamas de peixes, vidros enormes, formas que lembram embarcações navegando nos profundos 30 centímetros dos espelhos d'água que contornam o prédio. É lindo! Mesmo! É tão lindo dentro quanto fora, muitos balcões em formato de mezanino conectando os ambientes, aumentando ainda mais o espaço e permitindo a exibição de obras de formas e tamanhos bem variados e que podem ser observadas de diferentes ângulos.
Na sala que entrei em seguida, a mesma coisa. Bom, dizer sala não era o caso, um lugar imenso, um galpão gigantesco. Na minha frente eu só via estruturas marrons enormes, como se fossem paredes de metal ou madeira - até agora não sei. Eram bem altas e tinham entradas que, como portas, nos convidavam. Irresistível, entrei!
Exposição "A Matéria do Tempo", com obras
feitas entre 2000 e 2005, de Richard Serra, EUA
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No ambiente seguinte, obras carregadas de questionamentos ideológicos, políticos, econômicos e sociais. Gostei muito do trabalho do britânico Richard Long, chamado Bilbao Circle - Delabole slate, de 2000. Centenas de pedaços de ardósia formando um círculo enorme no chão.
Círculo de Bilbao - Ardósia de Delabole (2000)
de Richard Long
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David Hockney, suas cores e seus vídeos |
Em meio às cores, me deparo com alguns esboços em carvão, preto no branco. As cores que o artista utiliza são lindas, mas meu fraco por preto e branco é muito forte, foram os que achei mais bonitos. É... além de colorir bem, ele também desenha bem.
Alcanço os últimos trabalhos expostos e quando vou observá-los, algo me parece estranho no traço. Chego mais perto, mas que técnica é essa que a pincelada parece um traço de caneta, mas não é pintura? Cadê a legenda? Vou atrás da explicação escrita na parede: iPad. São desenhos feitos no iPad e impressos em tamanho grande. Gostei mais das pinturas pinceladas (ok, os desenhos em carvão...).
Hockney visto, vamos ao último andar saber do que se trata "El Espejo Invertido". Imaginava ali escolher um trabalho de espelhos para uma foto bem legal de abertura da matéria no Arte free, mas na verdade a obra que dá título aos trabalhos contemporâneos - a única usando espelhos - é um espelhão normal, mas gigante, dividido em 4, apoiados na parede. Me detenho na legenda da obra que discute a questão dos reflexos, o que você reflete, no que você se reflete, do espelho que continua a refletir a imagem, mesmo quando ninguém está ali refletindo intencionalmente sua própria imagem (Einstein discutiria isso). Mesmo assim não achei a obra do artista suficientemente forte para discutir a questão, cansei de me olhar no espelho e fui ver o resto.
Mesmo pequena em relação à mega exposição do Hockney, a parte de fotografias da mostra tinha algumas experimentações interessantes, e uma linda foto de uma mulher muito negra amamentando dois bebês, envolta num tecido muito vermelho, sentada numa cadeira antiga de ébano. Fiquei tão impactada que esqueci de anotar o nome do autor. Em relação às pinturas gostei das duas obras de Antoni Tàpies e um quadro de um pintor catalão. Eu tinha visto tudo, ou quase.
O Museu estava lotado com gente de todos os cantos, idades e jeitos. As pessoas que ali trabalhavam eram gentis. Gostei das exposições e saí de lá feliz em conhecer um Museu e um artista novos (David Hockney). Passei na lojinha para alimentar minha coleção de cartões postais, depois fui ver a famosa aranha, enorme escultura símbolo do museu e da própria cidade e olhar novamente o prédio do lado fora.
É... talvez aqueles que dizem que o grande atrativo do Museu Guggenheim de Bilbao é a arquitetura tenham razão!
Nota: 8
Custo: 1,90 euros (por 2 cartões postais, 0,95 cada um), fui e voltei à pé.
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