20.5.12

Dia Internacional dos Museus

GUGGENHEIM, UMA IMENSA INSTALAÇÃO
Por Helena Piccazio


Desço ao hall do hotel, vou até porta e olho o céu: cinza. Olho o ar: molhado. Olho pra direita: é pra lá que eu vou. Caminho em direção à ponte de Santiago Calatrava em forma de espinha de peixe e a atravesso olhando ainda pra direita e ainda com aquele vento meio garoa meio chuva, bem chato.


Um elevador me leva até a rua de cima. Ando mais um pouco dando a volta no prédio super modernoso, passo pela enorme escultura de flores em forma de cachorro e leio na placa: Sarrera - Entrada - Entrance, com uma flecha indicando a escada. As três línguas da placa são basco, espanhol e inglês, me dizendo que cheguei ao Museu Guggenheim de Bilbao.


Hoje todo o museu que se preza, em todo o mundo, está com a entrada gratuita. Eu tinha só três horas, então escolhi o mais badalado, o principal cartão de visitas da cidade basca e por ser ele mesmo uma obra de arte do arquiteto americano Frank Gehry. A arquitetura do Guggenheim de Bilbao é tão famosa que para muitos críticos de arte o show de verdade é o edifício e nem tanto as exposições.


O prédio do Guggenheim se vê de longe, com tijolos de metal amarelado (titânio) que sugerem escamas de peixes, vidros enormes, formas que lembram embarcações navegando nos profundos 30 centímetros dos espelhos d'água que contornam o prédio. É lindo! Mesmo! É tão lindo dentro quanto fora, muitos balcões em formato de mezanino conectando os ambientes, aumentando ainda mais o espaço e permitindo a exibição de obras de formas e tamanhos bem variados e que podem ser observadas de diferentes ângulos.

Na sala que entrei em seguida, a mesma coisa. Bom, dizer sala não era o caso, um lugar imenso, um galpão gigantesco. Na minha frente eu só via estruturas marrons enormes, como se fossem paredes de metal ou madeira - até agora não sei. Eram bem altas e tinham entradas que, como portas, nos convidavam. Irresistível, entrei! 
Exposição "A Matéria do Tempo", com obras 
feitas entre 2000 e 2005, de Richard Serra, EUA
Na direção oposta, um menininho todo contente brincava com os pais dentro da obra de arte. Segui meu trajeto e entrei em outra e mais outra escultura até descobrir que cada uma das obras fazia parte de uma única instalação, incluindo os painéis lá da frente. No andar de cima, um balcão de onde se podia ver toda a instalação do artista Richard Serra: os desenhos e labirintos que esses painéis formavam.


No ambiente seguinte, obras carregadas de questionamentos ideológicos, políticos, econômicos e sociais. Gostei muito do trabalho do britânico Richard Long, chamado Bilbao Circle - Delabole slate, de 2000. Centenas de pedaços de ardósia formando um círculo enorme no chão. 


Círculo de Bilbao - Ardósia de Delabole (2000) 
de Richard Long
Fazendo parte da coleção do museu, uma série de obras de um pintor cujo tema, só depois fui saber, eram Lênin e Stalin. Mas essa não prendeu muito minha atenção. No segundo andar, acima da dupla russa, a sala da exposição principal "David Hockney: Una Visión Más Amplia". Assim que entrei, dei de cara com uma tela enorme e coloridíssima do Grand Canyon, uau! Lindo! O britânico sempre foi fascinado por paisagens e aqui encontramos 50 anos delas. E muita cor, uma explosão maravilhosa de cores! Fico em posição para fotografar o Grand Canyon e logo no primeiro clique avisam que não é permitido. Fazer o quê? Guardei a câmera, olhei o resto da sala, ainda mais uma vez o lindo e colorido Grand Canyon e fui para o próximo ambiente, onde era exibido um vídeo estranho. 


David Hockney, suas cores e seus vídeos
Hockney transportou a idéia da foto-colagem para a era digital. Utilizou filmadoras posicionadas em seu jipe e saiu registrando paisagens em diversas épocas do ano. O resultado foi apresentado em 18 telas arrumadas em 3 fileiras horizontais de 6 telas cada, uma grudadinha na outra. Ele também filmou bailarinos no seu estúdio, em 18 perspectivas diferentes. As de natureza são bem mais bonitas... e a idéia muito interessante. 


Em meio às cores, me deparo com alguns esboços em carvão, preto no branco. As cores que o artista utiliza são lindas, mas meu fraco por preto e branco é muito forte, foram os que achei mais bonitos. É... além de colorir bem, ele também desenha bem.


Alcanço os últimos trabalhos expostos e quando vou observá-los, algo me parece estranho no traço. Chego mais perto, mas que técnica é essa que a pincelada parece um traço de caneta, mas não é pintura? Cadê a legenda? Vou atrás da explicação escrita na parede: iPad. São desenhos feitos no iPad e impressos em tamanho grande. Gostei mais das pinturas pinceladas (ok, os desenhos em carvão...).


Hockney visto, vamos ao último andar saber do que se trata "El Espejo Invertido". Imaginava ali escolher um trabalho de espelhos para uma foto bem legal de abertura da matéria no Arte free, mas na verdade a obra que dá título aos trabalhos contemporâneos - a única usando espelhos - é um espelhão normal, mas gigante, dividido em 4, apoiados na parede. Me detenho na legenda da obra que discute a questão dos reflexos, o que você reflete, no que você se reflete, do espelho que continua a refletir a imagem, mesmo quando ninguém está ali refletindo intencionalmente sua própria imagem (Einstein discutiria isso). Mesmo assim não achei a obra do artista suficientemente forte para discutir a questão, cansei de me olhar no espelho e fui ver o resto. 


Mesmo pequena em relação à mega exposição do Hockney, a parte de fotografias da mostra tinha algumas experimentações interessantes, e uma linda foto de uma mulher muito negra amamentando dois bebês, envolta num tecido muito vermelho, sentada numa cadeira antiga de ébano. Fiquei tão impactada que esqueci de anotar o nome do autor. Em relação às pinturas gostei das duas obras de Antoni Tàpies e um quadro de um pintor catalão. Eu tinha visto tudo, ou quase. 


O Museu estava lotado com gente de todos os cantos, idades e jeitos. As pessoas que ali trabalhavam eram gentis. Gostei das exposições e saí de lá feliz em conhecer um Museu e um artista novos (David Hockney). Passei na lojinha para alimentar minha coleção de cartões postais, depois fui ver a famosa aranha, enorme escultura símbolo do museu e da própria cidade e olhar novamente o prédio do lado fora.


É... talvez aqueles que dizem que o grande atrativo do Museu Guggenheim de Bilbao é a arquitetura tenham razão!




Nota: 8
Custo: 1,90 euros (por 2 cartões postais, 0,95 cada um), fui e voltei à pé.

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