29.1.07

Nação Zumbi, Tom Zé e Mutantes - Praça da Independência - 25/01/07


Um dia no Parque
Nação Zumbi, Tom Zé e Mutantes


Assim que desci do ônibus, começou a chover. Apenas uma grade me separava do Parque da Independência, mas ainda estava longe da entrada. Enquanto isso, conversava com Willian, um senhor de meia idade que veio comigo no ônibus. Ele ia declamando suas poesias enquanto tentávamos nos abrigar da chuva. Não que aquilo preocupasse muito.

Com sua garrafa plástica de vinho debaixo do braço, Willian andava desviando das pessoas que vinham em direção contrária, e ficou bem animado quando lhe disse que a primeira banda a tocar seria Nação Zumbi. Só sabia que os Mutantes tocariam. Quando falei em Tom Zé, não pareceu se animar tanto, mas Nação Zumbi... pelo visto gostava mais deste do que Mutantes.

Nos despedimos e fiquei abrigado em uma barraquinha de milho. O cheiro, aquele infeliz e delicioso cheiro de milho quentinho me obrigou a comê-lo. Fiz. Acabei de comer e eram quatro e meia da tarde. O show, programado para começar quatro horas, ainda nem dava sinais de vida. A chuva só fazia aumentar. Vi então uma amiga de faculdade e fui conversar com ela. Ela me emprestou um guarda-chuva reserva e me apresentou uma amiga bonita.

Conversamos um pouco sobre coisas comuns e decidimos tentar entrar. Era uma tarefa árdua, já que a polícia havia barrado a passagem e só deixava as pessoas entrarem a conta-gotas. Depois de alguns pontapés e cotoveladas, entramos. Nessa hora, faltando dez minutos pras cinco, já começava a parar de chover.

O segurança me revistou e pediu pra verificar minha mochila. Disse que não podia entrar com a garrafa de água, já que a Sabesp tinha instalado alguns postos de água grátis dentro do parque. Dei minha garrafa aos policiais, que, diga-se de passagem, culpa nenhuma têm por essa ordem sem nexo, apenas estão lá, suando e sendo odiados. Não preciso nem dizer que não vimos nenhum posto de água, e não fosse pelas minhas amigas entrarem com garrafas escondidas no fundo de suas malas, morreríamos de sede. Lá dentro, vendedores desfilavam com garrafas de vinho a preços “módicos”.

Atrás do palco a linda estátua da independência, mesmo coberta em grande parte pelo palco, não perdia sua imponência. Olhando para trás, do outro lado da rua, o Museu da Independência. É, sem dúvida, um dos lugares mais lindos de São Paulo, e um local perfeito para um daqueles festivais antológicos que os magnatas sempre sonham em realizar.

Nação Zumbi
Enquanto andávamos até o palco, o som começou a rolar. Um som que misturava um rock daqueles bons e pesados com percussões brasileiras, de maracatu. Quem ouve entende porque o estilo é chamado de Maracatu Atômico.

Muitas pessoas estavam lá só pra ouví-los, e foram embora quando acabou. Quem foi pra ver Mutantes ou Tom Zé, em geral, não se animou muito. O pessoal que estava na frente e havia enfrentado a chuva com coragem pulava e se esbaldava.

Uma mistura de sons novos com rits da época de Chico Science, um dos mais importantes músicos brasileiros do último século. Uma banda que continuou mesmo com a morte de seu criador.

De onde estava, um pouco pra frente da metade do parque, via alguns rostos dançantes e alguns chateados. Enquanto uns curtiam, outros só queriam que acabasse.

E acabou. Sem bis, a banda deixou o palco que começou a se preparar para seu próximo episódio: aquele do Tom Zé.

Tom Zé
Vestido de vitrola, entrou aquele que era underground entre os perseguidos pela ditadura. Aquele que em plena repressão militar - a qualquer um que respirasse liberdade - fez um disco cuja capa, que parece ser um olho, nada mais é do que um ânus com uma bola de gude no meio.

Este ser, até hoje novo e doido, começou a cantar. Atrás do palco, Zélia Duncan só vendo, curtindo, admirando Tom Zé.

Como um moleque, chegou pulando. Ensinava frases ao público, que as repetia, rindo. Parava as músicas no meio para ensinar os refrões. Novamente, o público mais perto do palco foi o que mais curtiu. Aquelas pessoas com cara de caneca (sabe aquela cara que você faz quando ganha uma caneca?) que não curtiram o show anterior também não manifestavam outro humor aqui.

Mas, com certeza, quem mais aproveitava o show era Tom Zé. Mais do que qualquer outro. Como disse Marcelo Rubens Paiva em Feliz Ano Velho, esse artista é um dos que ainda não foi integralmente reconhecido. Assim como Hermeto Paschoal. É o mal daqueles que inovam musicalmente; são taxados de esquisitos e por isso colocados em uma prateleira à parte.

O parque já estava totalmente tomado então. Andar era tarefa para os bons, mas mesmo assim era fácil encontrar amigos. Encontrei alguns, que me davam diferentes panoramas e opiniões sobre os shows. Depois que voltei pra casa, descobri tantos outros que também foram e não encontrei.

Então eu e as duas meninas que estavam comigo fomos em nossa longa migração para o mais perto do palco que conseguimos. Afinal, em pouco tempo começaria o show dos Mutantes. Um Mutantes sem Rita Lee, é verdade, mas Mutantes.

Os Mutantes
Conseguimos ficar relativamente perto. O suficiente para ver sua chegada triunfal. Vi aqueles antológicos músicos entrarem em roupas que condiziam com o lugar. Sérgio Dias estava vestido de Dom Pedro, Zélia Duncan de donzela. Segundo estimativas da polícia militar, cerca de 50 mil pessoas estavam lá para conferir o show.

Minha fidelidade à Rita Lee foi então quebrada. Apesar de fã dos Mutantes, e de ser um daqueles que não são muito adeptos a tais mudanças, tive de me render: nunca vi a banda como nesse dia. Zélia Duncan parece ter nascido para cantar com Sérgio Dias e Cia.

A cantora não conseguia tirar o sorriso do rosto. Mas não era aqueles sorrisos de pagodeiro em clipe da MTV não, era um sorriso de criança, como quem não se agüenta de tão feliz. Os outros Mutantes, com cara blasé, curtiam igualmente.

Um som inteiro, completo. Os fãs de Mutantes aguçavam a visão para ver seus ídolos, pulavam, gritavam. Parafraseando uma amiga, é como se Raul Seixas voltasse e fizesse um show. De graça.

Eles são a mais perfeita tradução da cidade de São Paulo, como já cantou Caetano. Uma cidade deste tamanho e que tem tão poucos referenciais na música. A única banda paulistana da noite. Cantaram parabéns pra você, já que era aniversário de Sampa, e todos acompanharam.

Uma mescla de Yes com Beatles, variando rifs de guitarra com teclados viajantes, os Mutantes tocaram e o público agradeceu. Mutantes clássico, como não poderia ser diferente. Mutantes para se ouvir três vezes. Principalmente quando chamaram Tom Zé para cantar uma música.

As músicas que tocaram foram as tradicionais: Ando meio desligado, Balada de um louco, Minha menina, Panis et Circensis, entre outras. Se faltasse alguma dessas, muitos fãs voltariam para casa desolados.

Para olhos e ouvidos atentos, foi um show para por no currículo. Valeu cada gota de chuva.

Nota
Nação Zumbi – 8,5
Tom Zé – 9
Mutantes – 9,5

Custos
Bolacha e água – R$ 2,50 (sim, a água que dei quase inteira)
Milho – R$ 1,00
Ônibus – R$ 4,60 (férias não tem bilhete único)

Total - R$ 8,10

Você estava lá? Deixe um comentário descrevendo o que você viu, qual sua opinião sobre os shows, críticas, apelos ou etcéteras!

19.1.07

De Puro Guapos – Fnac Av. Paulista – 18/01/2006

De puro talento


Uma pessoa corajosa, de fibra, que enfrenta e vence seus problemas e adversidades. Este é o significado da expressão “De Puro Guapos”, explicada assim pelo único argentino e líder do grupo, Martín Mirol. Trata-se de uma orquestra típica de tango, nascida em São Paulo, e que está lançando seu auto-intitulado primeiro CD, ao vivo, gravado no espaço Cachuera, na capital paulista. Superando as barreiras do preconceito e da rivalidade de culturas gerada ao longo dos anos entre Brasil e Argentina, os oito músicos têm conquistado seu espaço, apresentando-se também no Rio de Janeiro e Santa Catarina.


Aguardados por um público heterogêneo e surpreendentemente numeroso, entraram no pequeno palco da Fnac pontualmente. Após os devidos ajustes para que coubessem perfeitamente naquele pequeno espaço e distribuíssem o som da melhor forma possível, iniciaram a apresentação. Com três violinos, contrabaixo, violoncelo, clarinete, piano e o instrumento clássico do tango, o bandoneón, logo foi possível perceber que o som era denso e completo. Guiados na maioria das músicas pelo piano e o bandoneón, o entrosamento entre todos era admirável e torna-se o principal atrativo da música do De Puro Guapos.

Porém, os valores individuais também tiveram chances de aparecer e não se mostraram menos ricos e completos. O pianista Paulo Bricoli, impressionava a todos com uma técnica e velocidade singulares, mesmo tendo que usar um teclado por causa do espaço oferecido. Como é a base principal de algumas canções, revela-se fundamental a cada trecho de tango orquestrado. Outro destaque é Martín Mirol, responsável pelos arranjos e pelo bandoneón. Instrumento este, que foi apresentado pelo próprio músico como “um tipo de sanfona que está para o tango, como a guitarra está para o rock americano.”. Sendo assim, Martín é um ótimo solista, pois destaca-se facilmente em diversas canções, criando efeitos e sons impressionantes, com uma eficiente agilidade nos dedos e até muita presença de palco. É ele também quem conversa com o público nos intervalos das canções. Apesar do “portuñol”, consegue arrancar risos do público, acrescentar importantes informações e refletir uma simpatia evidente no rosto de todos integrantes.
“9 de Julio”, Quejas de Bandoneón” e “Libertango” foram as músicas mais aplaudidas e que mais chamaram atenção ao vivo. Com um repertório baseado no classicismo do século XX, o que chega a cansar em alguns momentos, De Puro Guapos liberta-se sutilmente desta característica quando toca a composição de Astor Piazzola (“Libertango”). É um tango modificado, com novas influências, mas que não deixa de ser interessante em nenhum momento. Requer uma técnica diferente, que é apresentada competentemente pela orquestra e só enriquece o show. No fim, aplausos fortes e sinceros, sorrisos no rosto e uma sensação clara de que uma pequena aula de música foi dada naqueles poucos minutos.


Custos:
R$ 0,00

Nota - 9

15.1.07

Ginger e Fred – CCSP – 14/01/06

Ginger e Fred


Saí de casa e não muito tempo depois estava no CCSP (antigo Centro Cultural Vergueiro). Sem filas peguei meu ingresso para a sessão de cinema das 6 e fui esperar na lanchonete do lugar. Cinco e meia fui pra fila (que já tinha bastante gente) e seis em ponto abriram as portas. Uma sala de cinema relativamente pequena, mas confortável.

Colocaram o DVD do filme em questão, Ginger e Fred, e, após algumas tentativas frustradas, conseguiram dar “play” no filme.

Obra de Federico Fellini, Ginger e Fred conta a história uma dupla que fazia um número imitando Ginger Rogers e Fred Astaire, dois grandes dançarinos de Hollywood, nos anos quarenta. Trinta anos depois se reencontram para participar de um programa de televisão e dançar juntos novamente.

O mais brega do mundo dos anos oitenta está lá. Desde os cabelos, as luzes, as propagandas, as roupas. Tudo nos remete ao que de pior teve o gosto daquela década. E é exatamente com esse pano de fundo que se reencontram Pippo e Amelia, os personagens principais.

A atuação de Marcello Mastroianni é de cair o queixo. O ator, já mais velho, valeria o filme por si só. Seu personagem é um bailarino que dormia com todas as mulheres, menos Amelia. E que ficou muito abatido quando a dupla acabou. Em meio a todo aquele mundo oitentista, uma volta ao passado no reencontro dos dois naquele programa de televisão.

No cinema, parecia que víamos um jogo de futebol na Copa do Mundo. As pessoas riam, choravam, torciam. Ao meu lado, uma menina a certa altura do filme não se agüentou: “mas o que ele vai fazer? O que ele vai fazer? Não!”. Divertido, pois o cinema ficou, por instantes, italiano.

Engraçado que as personagens principais, apesar de estarem vendo aquela Roma que se mostra decadente, reanimam-se nas lembranças e nos olhares daqueles passos que davam quando imitavam a dupla hollywoodiana. Era em outra Roma que estavam enquanto esperavam entrar em cena.

É um filme para alugar e ver uma, duas vezes. Para quem gosta de comédia italiana, com toques de beleza e sutileza, uma boa pedida. Fiquei com bastante curiosidade de ver mais e mais Fellini, e confesso que tentarei ver mais dessa Mostra Fellini que está rolando no CCSP. Valeu a pena.

Custos:
Coca-Cola: R$ 2,00
Transporte: Fui e voltei a pé
Total: R$ 2,00

Nota: 9,5

9.1.07

Pedra Branca – Sesc Av. Paulista – 09/01/07

Uma tarde em Itapoã

Sente, relaxe, pegue um copo de vinho. Pedra Branca não é um som para se tentar compreender; não de primeira. É um som para ouvir e viajar, vagar por aí.

Cheguei ao Sesc Paulista lá pelas seis e vinte, vinte minutos depois dos ingressos começarem a ser distribuídos. E tinham acabado de acabar. Como havia muita gente sem entradas, o pessoal da casa decidiu colocar mais trinta cadeiras no teatro e distribuir mais trinta ingressos. Consegui o meu.

Uma formação bem inusitada de banda, com instrumentos indianos, percussões das mais variadas, sintetizadores e outros apetrechos eletrônicos, clarinete e flauta transversal, flautas de bambu, baixo elétrico. Até um baixo acústico que nem chegou a ser usado.

A primeira música já deu a entender qual seria o tom da noite. Num estilo bem minimalista, os sons iam se somando na música aos poucos, elementos surgiam de leve e ficavam. Por vezes, só vinham falavam algo e iam embora.

Pedra Branca, em Tupi, quer dizer Itapuã. E é exatamente às tribos indígenas brasileiras que nos leva em primeiro lugar a sonoridade da banda. O toque de alaúde nos mandava, hora ou outra, para o mundo árabe, mas a percussão não deixava a passagem ser completa.

Depois da segunda música, uma pausa. O computador tinha dado problema, e todos correram para acudir. Uns vinte minutos de parada, o público dispersou um pouco. Voltaram a tocar, com a mesma energia de antes.

Todos os músicos da banda, em palco, aparentavam calma. A música em si já leva a esse estado de espírito, como se estivéssemos ouvindo mais a natureza do que uma banda em si. De fundo, enquanto a música rolava, cantorias indígenas, que continuavam quando as músicas acabavam. Esse vai e vem, as músicas que se assemelhavam umas às outras, chegava a confundir o público, que nunca sabia direito a hora de aplaudir.

Para ouvidos não preparados para esse tipo de som, como, confesso, estava o meu, Pedra Branca pode parecer um pouco cansativo, repetitivo. Mas, mesmo assim, não há como deixar de se render à proposta da banda, sua música. É algo que agrada e faz a imaginação viajar o tempo todo.

Banda:
Luciano Sallum (sitar, alaúde, samissen e armesk)
Aquiles Ghirelli (tabla, didgeridoo e voz)
João Ciriaco (DJ)
Porto Rico (percussão)
Ana Eliza (flauta e sax)
San (baixo)

Custos:
Transporte - R$0,00 (fui e voltei a pé)
Salgados - R$2,00
Café - R$0,50
total - R$2,50

Nota - 8

8.1.07

Novidade!!!

Novo colunista na área!

Roy Frenkiel é o mais novo colunista do Arte Free! Direto da terra do Tio Sam, Roy traz para nós análises precisas e afiadas sobre cinema, seja alternativo ou não. Já no primeiro texto de sua coluna, Cinema do Roy, Roy desce a lenha em Mel Gibson, diretor de A paixão de Cristo e Apocalypto.

Roy é editor do já consagrado Reação Cultural, revista eletrônica em formato de blog que vem crescendo consideravelmente na rede.

Para conferir seu primeiro texto para o Arte Free, Os Gênios do Crime, clique aqui!

Cinema do Roy - Os Gênios do Crime

Os Gênios do Crime
Por Roy Frenkiel

Um dos primeiros propósitos do cinema pós-edição, foi o da propaganda. Uma das primeiras e mais famosas propagandas massivas eficazes realizada, foi feita às ordens de Hitler, contra O Judeu, o ‘üntermentch’, ‘subumano’ responsável quase exclusivo dos males da Alemanha. Muitos de meus amigos próximos, judeus como eu, testemunharam posteriormente que a propaganda funcionaria, caso não conhecessem a realidade. O cinema, portanto, há décadas, já provou-se método não só eficaz, mas provavelmente a principal ferramenta do marketing de idéias, se não também de produtos e, eventualmente, da história.

Gibson procurou fazer exatamente isto quando lançou ‘A Paixão de Cristo’ em 2004, causando uma polêmica que, para ele e seus associados, serviu de sólida base a sólidos lucros. Independente da trama e da veracidade bíblica de sua narrativa, a direção e intenção do diretor espelham-se justamente na violência que, mesmo tendo ocorrido conforme a narrativa do filme, expressa-se com o intuito de causar desgosto, asco e repúdio aos olhos do espectador. Isso é eminente nas salas de cinema locais, onde o público ‘conversa’ com a gigantesca tela e a imagem do refletor, aplaudindo e vaiando conforme a causada impressão. O sangue do público lateja, verdeja insanamente, e a ‘torcida’ inicia um aquecimento que pode, muito bem, tornar-se concreto. Mel Gibson poderia perfeitamente inspirar o amor a Jesus com seu filme, amor religioso por seu sacrifício carnal em nome da raça humana, não apenas dos gregos ou dos troianos, mas de toda ela como uma só. Preferiu, no entanto, mostrar a tortura de sua pele, e um inimigo em comum, o traidor, o demoníaco Judas. A mensagem, é claro, torna-se mesclada à brilhante cinematografia, escolha de imagens, fala do ‘original’ Aramaico (hollywoodiano), e uma delineada trama profissionalmente selecionada para impressionar o público. Em outras palavras, a polêmica levou o público ao cinema, que com seu desgosto, mas inegável (e inexplicável, alguns clamam) prazer pelo bom filme, apenas atraiu mais público, e a mensagem, seja ela qual fosse, qual interpretasse o espectador, foi amplamente distribuída.

Agora, novamente, Gibson procura o mesmo ângulo com ‘Apocalypto’, lançado ao fim do ano passado, no misto da raiva do público à imagem do ator-diretor australiano-nova-iorquino. Aos desavisados, Mel conseguiu a proeza de ser preso dirigindo bêbado em Los Angeles, e enquanto era detido, insultou o ‘judeu, responsável exclusivo dos males dos Estados Unidos’. O filme conta a estória – e note-se o ‘e’ de ‘es’tória – da decadência da civilização Maya quando, em 1517, já sofriam pelo conflito entre 16 tribos ao controle total da região, enquanto muitos dos ex-habitantes das grandes cidades, procuravam a paz nas florestas regionais. Aqui, mais uma vez, o diretor escolhe a narrativa da violência, mesclada à sua genialidade cinematográfica inegável, para expressar um ponto que não se esconde, porque muito pelo contrário, aparece na frase de abertura do filme: ‘Uma grande civilização não se conquista por fora sem que antes se destrúa por dentro’, de Will Durant. Uso ‘estória’ não porque a película mente ou desmente a ‘história’, nem por sua fabricação, porque se muito, foi meramente editada, não modificada da crua e nua realidade. Uso-a, isto sim, justo pela injusta edição da história de uma civilização tão maior do que no momento de sua decadência, esta estendida por décadas sem fim, até a chegada verdadeiramente apocalíptica dos europeus colonizadores, vindos de uma Renascença marcada por Inquisições, Cruzadas, e total injustiça e opressão sociais. Por mais verídica, realista e perfeitamente elaborada a trama, Gibson escolheu filmá-la de modo a inspirar a torcida pela morte de índios, e ainda, quem sabe, o alívio do público quando, no horizonte, se aproximavam as caravelas de Hernández de Córdoba, capitão dos exploradores das terras Maya. Para quem conhece as consequências dessa chegada, não há possível alívio, e sim a consciência de que aquilo, e não a decadência do Império Maya, significou o fim de uma grande civilização.

Nada justifica a barbárie dos índios opressores, e ninguém pode descartar a realidade de que, entre eles e muitas de suas tribos, houve muitas guerras, muitas delas de extrema violência e crueldade, se em nome de sacrificios supersticiosos ou disputando territórios. Contudo, o genocídio ocasionado pelos europeus, de homens, mulheres, crianças e idosos, nada se compara ao primitivismo destas ditas tribos em suas batalhas. Mesmo que houvesse genocídio entre os índios, nenhuma tribo, nem as mais cruéis, procurava aniquilar crianças propositalmente, como fizeram e ainda fazem os pertencentes à Grande Civilização Ocidental. Em nenhuma de suas guerras houve a menor intenção de aniquilar toda uma raça, mesmo porque a guerra era, ou assim se pode afirmar paralelamente, ‘civil’, entre os Mayas, em seu próprio âmago. Aniquilar toda uma raça, como ainda se diz e se cochicha pelos ouvidos dos racistas, homofóbicos, anti-semitas e misógenos, significaria para os Mayas, naquela época, exterminar os próprios Mayas. Gibson, com a frase de Durant, quis expressar que as grandes civilizações sempre foram iguais, e que os europeus apenas lograram a conquista pela desunião das tribos locais. Não se pode negar que a desunião tivesse alguma influência, mas imaginemos que, por mais avançados em suas arquitetura e no modo de condução de suas vidas, em floresta ou nas restantes cidades, a surpresa dos índios foi extrema ao avistar os europeus em suas caravelas. Talvez, menos por seu avanço em infra-estrutura, e mais pelo atraso em suas superstições, a batalha dos europeus, desde a original ilha caribenha invadida por Colombo, até a desoladora conquista dos territórios Maya e Azteca, foi infinita e superiormente desproporcional ao nível dos índios, originais habitantes dos territórios colonizados, mais cruel, desumana e opressora, por motivos mais banais, sem cultura ou estrutura pensamental antropológica, apenas pelo mais básico instinto animal pela busca e consolidação de um terreno.

No futuro, não se espantem se Gibson resolver fazer um filme sobre os muçulmanos, expressando seu primitivismo e sua barbárie, e o declínio de sua civilização, que antes se auto-desestruturou para que fosse assim possível a destruição pelas mãos dos Estados Unidos militar e seus aliados. Ele é um bom diretor, afirmo com toda a certeza que pode ter um mero espectador, como outro qualquer. Nenhum dos demais participantes da sessão sequer piscou os olhos durante o muito longa-metragem. O filme é bem filmado, bem traçado, bem falado, bem legendado, e tudo de bom que se pode dizer de um filme. Assustadora nem é a mensagem... Assustadora é a intenção do diretor, espelhada na frase inicial. Gênio, ele talvez pudesse ser, sem a frase... Talvez, com a mesma, torne-se ele o que, segundo Bush e para seu secreto agrado, chamar-se-ia de ‘Gênio do Mal’.

Roy Frenkiel, direto do site Reação Cultural, exclusivo para o Arte Free
http://reacaocultural.blogspot.com/

5.1.07

Seis Meses de Arte Free!!!

Seis meses de Arte Free!!!

Seis meses de existência. Com a idéia de aproveitar ao máximo da cidade gastando o mínimo (afinal, ninguém tem grana pra nada, nem nós), saímos pelas ruas de São Paulo atrás de arte, e arte da boa. Somos exigentes, não aceitamos porcarias. A arte não pode ser apenas gratuita, tem que ser de ótima qualidade.

Neste período de vida, o Arte Free recebeu apoio de muita gente. Vários colaboradores escreveram e escrevem para nós, leitores nos mandam dicas, assessorias de casas de shows ligam para falar sobre suas programações, blogs e flogs nos indicam, sites fazem matérias a nosso respeito, nossa comunidade no Orkut conta com mais de 270 pessoas, e os próprios artistas, que passam em nosso blog para deixar seus comentários sobre as matérias... Enfim, todos empenhados em desvendar a melhor da arte.

Tivemos alguns momentos gloriosos. A entrevista com Lenine foi um deles: enquanto toda imprensa se digladiava por um lugar na entrevista coletiva, o Arte Free conseguiu uma exclusiva, um pouco antes, ao lado do auditório do Ibirapuera. Uns 15 minutos de um papo sensacional. E que prazer conversar com a Fernanda Porto! Foram horas de uma conversa descontraída em seu estúdio quando ela falou de tudo, sobre sua vida, carreira, planos, influências. Depois de publicada a entrevista no Arte Free, o site oficial da cantora, Baque Virado, nos mandou um e-mail elogiando e pedindo para publicar a entrevista também em seu site.

Outro bom momento foi a matéria da 27a Bienal da Casa da Xiclet. Fiquei realmente surpreso ao ver o quadro de Marcela Tiboni ali, exposto em um dos quartos da casa. Era um quadro que eu já tinha visto em uma exposição no Instituto Cervantes, e o tinha descrito como um dos melhores. Melhor mesmo foi ver que um dos Comentários na matéria era da própria Marcela Tiboni. Ela elogiava o site e nos convidava para visitar seu atelier.

Uma vez me perguntaram: como você faz para descobrir estes shows, essas coisas? A resposta é simples: vou atrás, bato perna, ligo, mando e-mail. Sei que a maioria das pessoas não tem tempo de fazer isso, e é exatamente por isso que passamos dois dias por mês preparando uma agenda com inúmeras atividades gratuitas de Sampa. Fica no link Programação.

Temos uma média de onze mil acessos por mês, o que é bastante. As pessoas acessam e indicam para outras, que indicam para outras e para outras

É isso aí! Continuamos contando com o seu apoio, que nos leia, nos indique, nos dê dicas. Mas, mais importante que tudo isso, que nós possamos ser um incentivo para aproveitar a vida cultural paulistana!

Abaixo, alguns dos sites que fizeram matéria sobre nós e blogs e flogs que nos indicam:

Fizeram matéria sobre o Arte Free:
http://www.tramauniversitario.com.br/
http://www.baquevirado.com/ (fã clube da Fernanda Porto)
http://www.aomestre.com.br/lin/lin.htm
http://www.avenidacultural.com.br/

Sites que nos recomendam:
http://www.alfaiates.org.br/
http://www.dicadeteatro.com.br/
http://centauropress.sites.uol.com.br/clipcentauro.html
http://movil.be/index.php?s=delicious.p&tag=saopaulo/
http://3846.936aany45.info/
http://del.icio.us/url/4f123ce413653f15d1c260416d26a744
http://pt.88of100c.info/Deuses_gregos

Blogs que nos recomendam:
http://lavieestbleu.zip.net/
http://poucaseboasdamari.blogspot.com/
http://quimeropolis.zip.net/
http://dtomiate.blogspot.com/
http://lenitondias.blogspot.com/
http://nati-nati.blog.uol.com.br/
http://fabio.poeta.blog.uol.com.br/
http://cyberflo69.blogspot.com/
http://calmariaefuria.blogspot.com/
http://reacaocultural.blogspot.com/
http://fotolog.terra.com.br/travessao:78
http://donizetti.wordpress.com/
http://www.escolar.net/MT/archives/2006/10/candidables_del.html
http://rascunho-virtual.blogspot.com/
http://www.fightforyourmind.blogger.com.br/
http://blog.comunidades.net/loirazen/index.php?op=arquivo&pagina=6&mmes=11&anon=2006


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