Por Claudia Piccazio
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foto Mauren Ercolani SESI/SP |
Não importa se a pé, de carro, bicicleta ou de ônibus, toda vez que passo em frente a Galeria de Arte do Sesi, na av. Paulista, sou atraída pelas imagens colocadas na enorme parede de vidro anunciando as exposições. Desta vez, como de tantas outras, não resisto e entro para ver a Arte da Tapeçaria Tradição e Modernidade que, até 10 de março, exibe os trabalhos das tecedeiras de Portalegre, cidadezinha portuguesa, de 15 mil habitantes, no Alentejo, que constituiu fama internacional justamente pelas mãos habilidosas de suas artesãs.
Na verdade, houve bem mais do que a habilidade nos teares para que as tapeçarias de Portalegre fossem consideradas as melhores do mundo. Uma rápida pesquisa no Google e encontro a deliciosa história, com enredo semelhante a um conto de Grimm, sobre como Guy Fino e Celestino Peixeiro, os fundadores da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, criada em 1946, usaram de astucia para desbancar as tapeçarias francesas até então primeirissimas do mundo.
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foto Mauren Ercolani SESI/SP |
Os portugueses Guy Fino e Celestino Peixeiro convenceram o francês Jean Lurçat, artista top da época, a visitá-los. Ao chegar, Lurçat foi surpreendido por dois trabalhos idênticos, um feito na França e outro, uma réplica autorizada, tecida em Portalegre. Os portugueses então o desafiaram a descobrir qual dos dois trabalhos seria o de origem francesa. Para verdadeiro deleite dos dois tapeceiros, Lurçat errou e apontou a tapeçaria portuguesa como a original atestando irrevogavelmente toda a excelência do trabalho. A partir daí, foi só correr para o abraço! O próprio Lurçat rendeu-se e tempos depois declarou publicamente que Portalegre era a melhor tapeçaria do mundo. A fama internacional dos murais pegou um atalho graças a artimanha dos tapeceiros.
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Arte Nini Andrade Silva/Foto Atelier Nini Andrade Silva |
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Tecedeiras Portalegre/
Foto Atelier Nini Andrade Silva |
Há muito o que ver nessa exposição! São 48 belissimas peças, algumas delas acompanhadas dos cartões originais, obras de arte exclusivas que servem como ponto de partida dos trabalhos. Cartões que depois de prontos são entregues a desenhistas especializados em manufatura para ampliação em escala e para a minuciosa determinação dos códigos das cores (são mais de 7 mil mesclas), terminada essa etapa, os mapas seguem para as mãos habilidosas das tecedeiras. É quase impossível não se deter nos detalhes das tapeçarias e avaliar o quão semelhantes são à pintura original. Uma das coisas que mais me impressionou foi a reprodução em lã dos traços “sujos” das pinceladas de tinta impressas nos cartões.
As tapeçarias, quando ainda nos teares, avançam cerca de três centímetros ao dia e podem demorar até um ano para ficarem prontas. A assinatura do artista em lã é o ponto final do trabalho e o certificado de obra de arte. Próximo a entrada da galeria, Partida de Emigrantes de Almada Negreiros impressiona pela grandiosidade mas sua beleza não difere das outras peças da mostra. Assinam os cartões e os tapetes 39 artistas portugueses e nove de outras nacionalidades, entre eles, Burle Max.
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Partida de Emigrantes,Almada Negreiros
Foto Mauren Ercolani SESI SP |
A curadoria de Arte da Tapeçaria Tradição e Modernidade é de Luís Neves e a iniciativa da exposição da Espirito
Santo Cultura e SESI
Custo: Nenhum, fui e voltei a pé
Nota: 10