Uma das coisas que me impressiona nesses tempos sombrios de pandemia é o fato de termos nos entregado, sem qualquer pudor ou constrangimento, ao paradoxo. Estamos vivendo o paradoxo em estado absoluto, em toda a sua plenitude. Sentimentos e ações chegam sem aquele intervalo de tempo e de reflexão em que podemos pender feito uma balança “ora penso num lado, ora penso no outro” ou “ora faço de um jeito e ora faço de outro”. Não. Estamos vivendo os lados ao mesmo tempo todo o tempo, sem nos darmos conta das escolhas ou da coerência. Esse viver tudo assim de supetão trouxe também a sensação de euforia, de liberdade.
Vi, nos primeiros dias de confinamento, pessoas que antes se colocavam discretas ao cumprir tarefas de serviços públicos e mesmo as que perambulavam nas calçadas de cabeça baixa esforçando-se para parecer invisíveis agora soltavam a voz pelas ruas em conversas corriqueiras, falando alto, se apropriando do espaço como que encantadas em escutar a própria voz, vivas, quase alegres, mesmo sob pressão iminente da morte. Nesses primeiros dias, fiquei da varanda, também encantada e temerosa, a olhar todas essas ressurgidas pessoas, o mais que eu podia.
O confinamento, por sua vez, e todo o seu conceito de aprisionamento veio com o desejo secreto, um prazer quase orgástico por poder parar. Um desejo que se arrastava pela existência, totalmente inconfessável e considerado imoral, à margem, ainda mais quando confrontado com um sistema econômico monstruoso, dilapidador de existências. Um desejo que foi apaziguado por essa reclusão compulsória e que aqueceu a alma.
Ao mesmo tempo que as artes vêm sofrendo um massacre, espremidas até o toco por forças completamente opressivas que imaginam destruí-las, elas nunca foram tão requisitadas. Aqueles que estão isolados em suas casas as sorvem como o ar para que possam se preencher de sanidade e sentido. E elas, as artes, se multiplicam exponencialmente em suas mais variadas expressões. Música, artes visuais, literatura, dança, teatro.... escancaram as portas de acesso e se replicam em palestras, cursos, lives, shows e encontros nas redes sociais, na web. E, por fim, saem às varandas e ruas. Sim, artistas por sobrevivência e muito amor se arriscam nas ruas e, claro, são muito aplaudidos. Sim, pode haver liberdade em meio a esse caleidoscópio gigante em que foi transformado o mundo (e de um jeito que nem dá pra pensar em fugir) e cujos movimentos nos assustam a cada segundo.
O que nos espera agora que não há mais o conforto das certezas? Elas ao que parece partiram. Não sabemos. Não há respostas. Podemos apenas e talvez nos preencher de beleza. Podemos apenas e talvez assistir um bom filme, ler um ótimo livro. Podemos apenas e talvez nos apoderarmos de nós mesmos. Podemos apenas e talvez olhar para o outro, confortá-lo, defendê-lo e acolher a ideia de que somos sim corresponsáveis pelo bem estar dele. Despertar amanhã também já parece um bom plano.
Vi, nos primeiros dias de confinamento, pessoas que antes se colocavam discretas ao cumprir tarefas de serviços públicos e mesmo as que perambulavam nas calçadas de cabeça baixa esforçando-se para parecer invisíveis agora soltavam a voz pelas ruas em conversas corriqueiras, falando alto, se apropriando do espaço como que encantadas em escutar a própria voz, vivas, quase alegres, mesmo sob pressão iminente da morte. Nesses primeiros dias, fiquei da varanda, também encantada e temerosa, a olhar todas essas ressurgidas pessoas, o mais que eu podia.
O confinamento, por sua vez, e todo o seu conceito de aprisionamento veio com o desejo secreto, um prazer quase orgástico por poder parar. Um desejo que se arrastava pela existência, totalmente inconfessável e considerado imoral, à margem, ainda mais quando confrontado com um sistema econômico monstruoso, dilapidador de existências. Um desejo que foi apaziguado por essa reclusão compulsória e que aqueceu a alma.
Ao mesmo tempo que as artes vêm sofrendo um massacre, espremidas até o toco por forças completamente opressivas que imaginam destruí-las, elas nunca foram tão requisitadas. Aqueles que estão isolados em suas casas as sorvem como o ar para que possam se preencher de sanidade e sentido. E elas, as artes, se multiplicam exponencialmente em suas mais variadas expressões. Música, artes visuais, literatura, dança, teatro.... escancaram as portas de acesso e se replicam em palestras, cursos, lives, shows e encontros nas redes sociais, na web. E, por fim, saem às varandas e ruas. Sim, artistas por sobrevivência e muito amor se arriscam nas ruas e, claro, são muito aplaudidos. Sim, pode haver liberdade em meio a esse caleidoscópio gigante em que foi transformado o mundo (e de um jeito que nem dá pra pensar em fugir) e cujos movimentos nos assustam a cada segundo.
O que nos espera agora que não há mais o conforto das certezas? Elas ao que parece partiram. Não sabemos. Não há respostas. Podemos apenas e talvez nos preencher de beleza. Podemos apenas e talvez assistir um bom filme, ler um ótimo livro. Podemos apenas e talvez nos apoderarmos de nós mesmos. Podemos apenas e talvez olhar para o outro, confortá-lo, defendê-lo e acolher a ideia de que somos sim corresponsáveis pelo bem estar dele. Despertar amanhã também já parece um bom plano.