A fila: esculpida e encarnada
É claro que a arte grátis do Brasil não é tão “free” assim. Pagamos imposto. Então, nada mais justo do que irmos atrás dos nossos direitos, reparando no que há de melhor e mais barato em Sampa.
Sim... dar uma volta na paulista talvez não seja tão barato, já que custa aos nossos olhos resistir a tantos lugares gostosos para comer, tantos cineminhas caros e mil propagandas estimulantes (ah...ia esquecendo a FNAC). Mas acho que devemos fazer uma forcinha, já que, em contraponto, temos o Itaú Cultural, o Sesc Av. Paulista, o Masp, um Sebinho escondido na brigadeiro e uma bela caminhada para ver gente bonita.
Além disso tudo, agora temos uma linda exposição na Avenida Paulista. Eis o nosso “motivo paulista”. O Sesc está com uma fila imensa. Sim, uma fila de bonecos coloridos na entrada. Os bonecos foram feitos de papel, cola, gesso e cimento, confeccionados por Gigi Manfrinato e Sandra Lee, dois artistas plásticos que já fizeram várias intervenções em São Paulo, mas nunca neste formato. São vinte e seis modelos, um mais simpático que o outro. O que mais chama atenção é o movimento que os bonecos têm. Adorei o malandro dando uma conferida no corpão da mulata à sua frente. Aliás, Mulata? Também não dá para saber... Os artistas não pintaram nenhum corpo e todos eles ficaram cinzas. Cor de cimento, mesmo. E, aparentemente, nenhum alemãozinho.
Janine e Raisa adoraram a exposição e acham que os artistas queriam mostrar uma fila com pessoas de classe baixa e muitas etnias: “Bem característico do Brasil”, diz Janine. Outros comentários apareceram no caderno de críticas que estava sobre uma das cadeiras da fila. Mariana Hiza escreveu que “parece que a qualquer momento, eles ganharão vida”. Já Eduardo Lauton não duvida: “A gente passou aqui também e trocamos uma idéia com a galera (bonecos). Foi um bom papo”. João reflete: “muito criativo esse lance de retratar o inativo. Chega a assustar quem passa desapercebido.” Inativo: será mesmo João? Já Eva não gostou: “O artista tem preconceito contra nariz?”. Ah, Eva, o seu também é grande? Paciência, amiga.
Patrícia Oakim escreveu: “Ao que todos estão esperando?”. A pergunta foi repassada a uma senhora animada, que observava os bonecos. E ela respondeu: “Como tem bastante velhinho, o pessoal deve tá na fila é do INSS!”. Triste, na verdade. Outra curiosidade foi um grupo de jovens surdo-quase-mudos que passava na frente do Sesc. Os jovens eram bem expressivos e imitavam as figuras perfeitamente. E como se divertiam! O fato da imitação ser perfeita me ajudou a ver como os bonecos tinham um movimento original.
Não lembro onde que eu li, mas sei que no Japão eles não fazem fila. Pois é, aqui no Brasil reina o caos e a gente ainda faz um “filinha”. E haja fila! Os orientais são organizados o suficiente para saber qual é a vez de quem. E quem nunca esperou mais de 1h em alguma fila? Fila de banco, nem se fala. E aquele show da sua vida? Cabaninha, na certa.
Além da “fila”, o preço é outro motivo para você dar uma conferida. É grátis. Quanto aos bonecos, concordo com Mariana e acho mesmo que há qualquer momento eles sairão andando! A fila: esculpida e encarnada.
Nota: 8
Custos – nada (fui e voltei a pé)
Por Bruna Piccazio
É claro que a arte grátis do Brasil não é tão “free” assim. Pagamos imposto. Então, nada mais justo do que irmos atrás dos nossos direitos, reparando no que há de melhor e mais barato em Sampa.
Sim... dar uma volta na paulista talvez não seja tão barato, já que custa aos nossos olhos resistir a tantos lugares gostosos para comer, tantos cineminhas caros e mil propagandas estimulantes (ah...ia esquecendo a FNAC). Mas acho que devemos fazer uma forcinha, já que, em contraponto, temos o Itaú Cultural, o Sesc Av. Paulista, o Masp, um Sebinho escondido na brigadeiro e uma bela caminhada para ver gente bonita.
Além disso tudo, agora temos uma linda exposição na Avenida Paulista. Eis o nosso “motivo paulista”. O Sesc está com uma fila imensa. Sim, uma fila de bonecos coloridos na entrada. Os bonecos foram feitos de papel, cola, gesso e cimento, confeccionados por Gigi Manfrinato e Sandra Lee, dois artistas plásticos que já fizeram várias intervenções em São Paulo, mas nunca neste formato. São vinte e seis modelos, um mais simpático que o outro. O que mais chama atenção é o movimento que os bonecos têm. Adorei o malandro dando uma conferida no corpão da mulata à sua frente. Aliás, Mulata? Também não dá para saber... Os artistas não pintaram nenhum corpo e todos eles ficaram cinzas. Cor de cimento, mesmo. E, aparentemente, nenhum alemãozinho.
Janine e Raisa adoraram a exposição e acham que os artistas queriam mostrar uma fila com pessoas de classe baixa e muitas etnias: “Bem característico do Brasil”, diz Janine. Outros comentários apareceram no caderno de críticas que estava sobre uma das cadeiras da fila. Mariana Hiza escreveu que “parece que a qualquer momento, eles ganharão vida”. Já Eduardo Lauton não duvida: “A gente passou aqui também e trocamos uma idéia com a galera (bonecos). Foi um bom papo”. João reflete: “muito criativo esse lance de retratar o inativo. Chega a assustar quem passa desapercebido.” Inativo: será mesmo João? Já Eva não gostou: “O artista tem preconceito contra nariz?”. Ah, Eva, o seu também é grande? Paciência, amiga.
Patrícia Oakim escreveu: “Ao que todos estão esperando?”. A pergunta foi repassada a uma senhora animada, que observava os bonecos. E ela respondeu: “Como tem bastante velhinho, o pessoal deve tá na fila é do INSS!”. Triste, na verdade. Outra curiosidade foi um grupo de jovens surdo-quase-mudos que passava na frente do Sesc. Os jovens eram bem expressivos e imitavam as figuras perfeitamente. E como se divertiam! O fato da imitação ser perfeita me ajudou a ver como os bonecos tinham um movimento original.
Não lembro onde que eu li, mas sei que no Japão eles não fazem fila. Pois é, aqui no Brasil reina o caos e a gente ainda faz um “filinha”. E haja fila! Os orientais são organizados o suficiente para saber qual é a vez de quem. E quem nunca esperou mais de 1h em alguma fila? Fila de banco, nem se fala. E aquele show da sua vida? Cabaninha, na certa.
Além da “fila”, o preço é outro motivo para você dar uma conferida. É grátis. Quanto aos bonecos, concordo com Mariana e acho mesmo que há qualquer momento eles sairão andando! A fila: esculpida e encarnada.
Nota: 8
Custos – nada (fui e voltei a pé)
Por Bruna Piccazio