Por Bruna
Piccazio
Tudo que há
de Paulo Leminski me interessa. Principalmente seus poemas. E me chamou a
atenção o fato de um livro dele, Catatau, estar inserido na programação da Casa
das Rosas, durante a Virada Cultural.
Saber que ele seria lido na integra, durante algumas horas,me causou inquietação.
Às vezes,
dentro de um poema inteiro de Leminski, uma ou duas palavras saltam do texto,
libertam-se do conteúdo poético abordado e tornam- se significativas para mim.
Estas poucas palavras realmente são transferíveis para os conteúdos de minha
própria existência e reflexão.
Assim penso
a leitura de um livro seu, usufruído lentamente, da maneira como algumas
expressões e frases são organizadas por ele.
Fui até a
Casa das Rosas, quis saber o que se passava e, por isso, fiz a seguinte
pergunta a Frederico Barbosa, o diretor do Espaço e organizador do evento:
"Fred, você acha que todo mundo vai
ficar aqui sentado do lado de fora da
Casa, das 22h da noite até as 10h da manhã ouvindo a leitura integral do
livro?"
Ele que,
também, e antes de mais nada, é um consagrado poeta, deu risada, e disse que o Catatau é um livro
especial e bem poético. Disse ainda que
não esperava mesmo que alguém ficasse do começo até o final. Imaginei, então,
que, o propósito fosse proporcionar pequenos momentos de fruição para quem lá
resolvesse assentar o traseiro.
A leitura
feita por três jovens em microfones, vomitava o livro todo, sem parar. O que
restava então era relaxar, e pescar algum
enredo. Na mesa dos leitores, café, guaraná e vinho.
Resolvi me
entregar, pesquei os micro enredos que me importavam e viajei nas portas que se
abriam para minha imaginação.
Na
programação, o show do compositor e
produtor musical Cid Campos, filho do grande poeta Augusto de Campos, e sua
banda. Segundo a descrição do evento: “A poesia concreta comparece com destaque
através da musicalização e/ou oralização de poemas de Augusto e Haroldo de
Campos, José Grunewald e Ronaldo Azeredo”.
De fato,
percebemos, ao longo do show, a convivência harmoniosa entre letra e melodia em
que ambas não ficam juntas a música inteira, uma cede à outra de vez em quando,
criando-se, assim, uma impressão de espaço de declamação. Parece, até, que a
poesia entra para descansar os músicos da porrada na bateria ou para descansar
os ouvidos de todos da quantidade de notas musicais arranjadas para as músicas.
Porém, a banda não perde o ritmo, seja dentro da melodia, ou na cadência das palavras.
O trabalho
do quarteto lembra muito as músicas de Tom Zé que têm essa relação com a
poesia. Aliás, Cid Campos também trabalhou com Tom Zé, e, entre outros: Adriana
Calcanhoto, Walter Franco, Péricles Cavalcanti.
Os
passantes da Casa das Rosas e o público sentado nas cadeiras, dentre eles,
crianças e velhos, ouviam de Cid Campos,de repente: “estuprou o meu hímem” e muitas outras sinceridades poéticas dos grandes poetas.Que,aliás, deveriam ser consideradas
palavras e conteúdos normais e usualmente abordados. Mas, não. Infelizmente.
A
irreverência dos músicos é, na verdade, a irreverência da poesia e de suas
críticas e denúncias. O que faz Cid Campos é dar voz à poesia, através da
música, que, das artes, é uma das menos periféricas e uma das mais consumidas.
A
apresentação foi um sucesso, na medida em que a poesia aflorou através da
oralização e conexão de sons com palavras. O mais impactante e significativo
que havia ali eram as palavras. O show foi feito a partir dos três Cds de Cid
Campos: Poesia é Risco, No Lago do Olho e Fala da Palavra. O músico participou,
também, dos grupos: Papa Poluição, Sexo dos Anjos, Zipertensão.
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