Oscar e Sundance
por Roy Frenkiel
A maior festa do cinema comercial está a menos de dois meses daqui. A entrega do Oscar, esperada ansiosamente pelos fanáticos, conhecedores e apreciadores da arte cinematográfica já tem seu processo iniciado. Os melhores filmes já estão nomeados. Mas, nos Estados Unidos, em uma cidade nem tão distante do local da entrega do Oscar, Los Angeles, também existe um outro festival, um dos mais importantes do cinema independente, provavelmente perdendo em popularidade apenas para o Cannés.
Trata-se do Sundance Film Festival, realizado em Park City, um dos festivais de maior audiência nacional, mas que há alguns anos não tinha nem metade do tamanho atual. Com o mesmo pretexto do festival de Cannés, o Sundance traz à tona diretores, escritores, produtores, atores e coreografistas do cinema independente de grande qualidade. Dezenas ou centenas de filmes foram escolhidos entre dezenas de milhares, mas isto faz parte da inovação do cinema independente no geral. Afinal, há vinte anos entrar no Sundance significava não fazer parte das uniões de Hollywood, e quase ninguém se arriscava. Em comparação, atualmente há outros festivais com o mesmo propósito do Sundance. Em um deles, por exemplo, apenas entra quem obtiver uma carta de rejeição do próprio. Todos os festivais, ou quase todos, permanecem constantemente lotados. O motivo? A popularidade dos filmes alternativos tem mudado a face mundial do cinema.
Isso se deve à falta de originalidade iminente, expressa nos últimos anos em Hollywood, enquanto uma boa parte dos melhores filmes era apenas uma reconstrução de obras já feitas no passado. A moda seguiu, cresceu, e, aparentemente, encheu. Um outro quesito é a transformação das gerações de cinéfilos, procurando algo que desafie suas mentes, que proponha uma realidade fictícia menos superficial. O cinema internacional, com o desenvolvimento da globalização cibernética, também contribuiu para o fenômeno. Atualmente, ser um diretor de filmes independentes gera créditos similares aos dos diretores hollywoodianos. No Sundance, por exemplo, o mesmo estilo independente mudou, e cineastas procuram expressar menos suas próprias perspectivas de suas herméticas vidas, para expressar assuntos de importância global.
Há alguns filmes importantes para o Sundance, a maioria inéditos, e confesso que não os assisti. Assisti alguns dos ganhadores dos anos passados, como “Land of Plenty” (Wim Wenders, 2004), com a atuação da quase famosa Michelle Williams, e um elenco humilde. Trata-se de uma missionária, acostumada com os conflitos da Faixa de Gaza e a fronteira isralense, que volta para os Estados Unidos em busca de seu tio, e percebe que, enquanto na Faixa de Gaza critica-se os Estados Unidos pelo capitalismo cruel, pela ostenção de valores monetários e pela destruição dos valores alheios, os Estados Unidos em realidade se encontra em crises financeiras e sociais intensas, mas ignoradas em prol do que ocorre no Iraque. O filme não é dos melhores, mas definitivamente toca em pontos sensíveis e essenciais. A quem encontrar, recomendo.
Para o Oscar, a situação não é das piores este ano, pelo mesmo efeito, a necessidade de criar alternativas dentro do cinema comercial. “Babel,” por exemplo, de Alejandro Gonzáles Iñárritu (diretor de “Amores Perros,” 2005, um dos melhores filmes de humor negro que já assisti), é o favorito ao prêmio de melhor filme, ao lado de “Little Miss Sunshine” (2006, Jonathan Dayton e Valerie Faris), “The Departed” (Martin Scorsese, 2006), “Letters from Iwo Jima” (do veterano Clint Eastwood, 2006) e “The Queen” (Stephen Frears, 2006). No caso de “Little Miss Sunshine,” já se testemunha a mudança do ângulo escolhido para entreter uma audiência. O filme, de modo geral, trata da má sorte, da disfunção familiar e conceitos sociais descartáveis, bem como do ser humano, lidando com as dificuldades absurdas do cotidiano. Talvez os filmes de Scorsese, de Eastwood e de Frears, não tratem do ângulo mais original possível. Mesmo assim, certamente o fazem Alejandro Gonzáles em “Babel” (cujo tema prefiro deixar no ar) e os diretores de “Little Miss Sunshine”. Vale a pena assistir.
Quanto ao cinema, fiquem espertos: O mundo está mudando. O cinema faz parte do mundo. Logo, o cinema está mudando.
Aos abrax,
Roy Frenkiel
2 comentários:
Ah que bom saber de um prêmio para os alternativos. Particularmente, são os que gosto mais!
Concordo quanto à falta de originalidade dos filmes de Hollywood e por isso mesmo, há tempos deixei de frequentar os cinemas convencionais...
E torço para Little Miss Sunshine... já vi e adorei! Também vi Babel, mas a angústia que senti no cinema me faz preferir esquecê-lo... rs
Caros leitores e leitoras, e carissima Mariana,
Falhei em alguns pontos, nao dando as dicas mais importantes, dos filmes independentes que precisam ser vistos. Farei isso, sem compromisso, na proxima.
Quanto a Babel, eu sei o que as pessoas dizem, e eu mesmo nao assisti o filme inteiro... Pode ser que voce tenha razao. So lembro que assisti Apocalypto e esse sim 'da agonia' hehe. Babel ao lado da perversao de Gibson e Papai Noel.
Beijaumx e abraxaums a todos
Roy Frenkiel
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