18.2.07

De Corpo e Alma - CCSP - 15/02/07

A vida é assim mesmo

O dia estava esquisito, morno, mole e melancólico. Assim, indo a pé pelas ruas cheias de vento, cheguei ao Centro Cultural Vergueiro, às sete da noite, uma hora antes, para pegar o ingresso da sessão de cinema.

Ninguém por lá, sem fila. A bola da vez era uma peça de teatro, em promoção, a R$ 1,50. Ali sim, tinha fila, todo mundo sentado no chão esperando.

O filme que eu iria assistir faz parte do repertório do diretor americano Robert Altman, que morreu o ano passado aos 81 anos e dirigiu, entre outros, o inesquecível M.A.S.H.. O Centro Cultural Vergueiro começou a exibir os filmes de Altman, 19 ao todo, no dia 5 de fevereiro.

A sessão de De Corpo e Alma começou pontualmente às 20 horas e, quando terminou, a sensação mais forte era de que o filme não havia dramatizado o que interessava e também não dramatizara o que não interessava.

Parece complicado? Simples. Ali, mostrou-se essencial a relação entre a dançarina talentosa – mas que para sobreviver trabalha como garçonete em uma boate de balada - e o chef de cuisine. Porém, o romance entre os dois acontece de forma quase invisível, rápida, sem ruído ou conflitos marcantes, nos intervalos de um entorno multicolorido e semi glamuroso de uma companhia de dança – cujo trabalho ocupa a maior parte do filme.

A cena do Reveillon, quando Ry, a protagonista (Neve Campbell), chega em casa muito tarde e encontra o namorado dormindo, depois de ter arrumado uma mesa para os dois. Ela simplesmente deita-se ao lado dele no sofá e tudo bem. Tranqüilo, da vida.

Todas as situações que poderiam merecer, ou teriam chance de merecer, um ponto de tensão, seguem, quase ilesas. Altman deixa todas as deixas clichês se esvariem. Praticamente ninguém, por exemplo, interrompe o passo autoritário do diretor da Joffrey Ballet de Chicago, Alberto Antonelli (Malcolm McDowell, Laranja Mecânica) ele segue, também ileso. Sem drama. E da mesma forma, sem drama, são tratados os reveses do universo da dança, descontentamentos, rompimento de tendões, quedas...

Altman não coloca lente de aumento em nada, nem mesmo na apresentação dos espetáculos. E esse é o aspecto que mais chama atenção durante todo o filme.

De corpo e Alma vale para saber como o diretor desglamouriza o filme, do começo ao fim. O trabalho é competente principalmente porque se trata de um tema lotado de glamour

Nota 8

Custos
Fui e voltei a pé
Donuts – R$ 3,50

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