Samba com o manto sagrado
Vestidos de vermelho e branco, os Filhos de São Mateus acomodaram-se nas cadeiras dispostas em semi-círculo e começaram a tocar um samba. Eles são um grupo formado por jovens que acompanhariam a velha guarda. O péssimo som da Fnac atrapalhou, e atrapalhou muito. Quase não dava para entender o que os cantores diziam.
Depois da primeira música, chamaram aqueles a quem todos estavam lá para ver, a Velha Guarda da Camisa Verde e Branco. Vestidos com camisas brancas e coletes verdes, calças brancas e sapatos verde-brancos, os seis senhores espremeram-se no pequeno palco da Fnac e agradeceram ao público.
Não são palmeirenses, e seus produtores insistiram nesse quesito: “é uma escola de samba, não um time de futebol. E a maioria é são-paulina”. Apesar da decepção, continuei assistindo ao espetáculo que, se não primava pelo bom gosto futebolístico, primava pelo musical.
Canções daquelas de malandro, nas quais o sambista chega em casa altas horas da noite e tem que se ver com a patroa. Tristezas da vida, solidão e mágoas infindas. Exaltações da vida de pagode e cerveja, que leva em alegria a existência até o sol raiar. São o tipo de pessoas com quem você gostaria de estar num boteco por horas e horas a fio.
Enquanto os filhos de São Mateus tocavam os sambas, os vechi signori cantavam. A cada música um dos seis integrantes tomava as rédeas do microfone principal enquanto os outros ajudavam nos refrões. Ainda sim, o som abafado da casa nos deixava em grandes dificuldades para entender o que cantavam. Vale lembrar a banda não chegou a tempo para passar o som, então não se pode colocar toda a culpa na casa.
A Velha Guarda era formada por senhores negros vestidos de verde e branco. Todos, com disposição invejável, ensaiavam alguns passos de samba no pequeno palco, cantavam alto, puxavam palmas em todas as músicas, saiam do palco para ficar mais pertos do público. Quando o microfone de um deles parou de funcionar (fato que o deixou um tanto quando bravo, com razão), não teve galho. Levou no gogó a música e todos podiam ouví-lo, como se estivéssemos num bar.
Foram apenas quarenta minutos de apresentação para uma Fnac completamente lotada - tanto o espaço reservado aos shows quanto o café em frente. Ninguém sambou, pois o espaço não comportava, mas todos saíram de lá com um sorriso no rosto. Algo de mágico naqueles seis senhores vestidos com as cores do manto sagrado do futebol.
Repertório: Hino da Velha Guarda, Canto pra viver, baiana da Ribeira, Nata do Samba, Minha Preta, Quem censurar, Se fosse pra chorar, Sampa só samba, Se eu chorar, Quando, Lamento Negro, pot-pourri (sambas de enredo)
Integrantes da Velha Guarda: Dadinho, Nelson Primo, Airton Santa Maria, Mário Luz, Hailtinho, Paulo Henrique
Integrantes do Filhos de São Mateus: Emerson (cavaco), Leandro (Violão), Junior Alemão (repique), Tiago (pandeiro) e Hugo (surdo)
Produtores: Carmo Lima, Fernanda Thomaz
Custos:
Soda Italiana: R$ 3,10
Pão de queijo (cestinha): R$ 2,40
Transporte: fui e voltei a pé
Total: R$ 5,50
Nota: 8
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