O duo A canção de combinar pessoas não chega a ter um minuto de duração mas carrega em si a riqueza de mais de uma década de pesquisa do compositor húngaro Béla Bartók. Assim como ele, outros 26 duos para violino, também de Bartók, agora fazem parte da programação Arte Presente no Theatro Municipal de São Paulo. Sob o título de Círculo Bartók acaba de ser lançada uma série de três vídeos que podem ser acessados gratuitamente.
As 26 peças, com cerca de um minuto cada, escolhidas da obra "44 duos para dois violinos", foram executadas por músicos da Orquestra do Theatro Municipal de São Paulo. São composições eruditas que revelam a beleza de melodias populares e pontuam o grandioso trabalho de pesquisa realizado por Bartok, considerado um dos mais importantes compositores do século 20.
A pesquisa de campo de Bartók foi determinante não apenas para a trajetória musical e para a obra dele mas para História da Música. Os métodos usados pelo compositor húngaro foram tão importantes que estabeleceram as bases da chamada etnomusicologia moderna.
Numa Hungria subjugada pela Áustria, Bartók, aos 24 anos, juntamente com o amigo e compositor Zoltán Kodály, iniciou viagens ao interior da Hungria em busca de uma riqueza musical que ele sabia existir mas que não se ouvia nos centros urbanos.
Bartók acreditava que iria encontrar a verdadeira música húngara em aldeias do interior, entre os camponeses e suas antigas canções.
As viagens nem sempre foram tranquilas. Ele enfrentava estradas precárias e perigosas para alcançar lugarejos de difícil acesso, dormia em locais inóspitos, no chão, na palha, por vezes dividindo um quarto com toda uma família.
O que não o impediu de ir adiante. Depois de cobrir a Hungria, o compositor estendeu a pesquisa a outras culturas, percorreu aldeias da Europa Central chegando até norte da África e parte da Ásia.
A saída do circuito da Hungria lhe rendeu severas críticas mas sobre isso Bartók foi categórico: o compromisso do compositor não estava com o sentimento estreito de nacionalismo e sim com a Música. Ele sabia que era preciso banhar-se de diferentes gêneros e etnias para que a Música pudesse evoluir, avançar. Nas próprias palavras dele: “O pesquisador deve esforçar-se para esquecer todo sentimento nacional” e “querer se preservar de influências estrangeiras é retroceder”.
Assim, Bartók não apenas trouxe à luz o que de melhor havia nas canções camponesas da Hungria e de outras regiões mas usou os elementos melódicos e harmônicos para construir a modernidade que tanto desejava na música erudita, incluindo a quebra dos padrões vigentes já saturados.
O resultado da pesquisa foi impressionante, em 10 anos, com o auxílio de um fonógrafo, ele registrou, transcreveu, catalogou e classificou mais de 10 mil canções.
Os três vídeos apresentados lindamente pelos violinistas da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo trazem peças encantadoras em que é possível reconhecer o gigantesco trabalho de pesquisa de Béla Bartók.
Aproveitem!!!!