Beijo Beat
por Carol Bataier
Sabe Geração Beat? Drogas, poesia, jazz e sexo livre? Jack Kerouac? Pois é, nós tínhamos um trabalho pra fazer sobre os caras. Teríamos que apresentar algo muito bom e que de alguma forma resumisse em, no máximo 30 minutos, o que foi a Beat Generation.
O trabalho era pra faculdade, mas a galera do grupo fazia teatro. E, atores narcisistas que somos, não nos contentamos em fazer somente um filminho no movie maker sobre o movimento e a vida dos caras. Resolvemos fazer uma apresentaçãozinha meio assim teatral. Cenário de bar, vinhos e cigarros sobre a mesa, e nós em meio a fumaça e luz vermelha lendo poesias beatniks.
O auge da loucura seria o poema “O Uivo”, de Allen Ginsberg.
É um poema escancarado, louco, erótico, tudo. Uma viagem.
E foi ai que tivemos a idéia: seria legal se, no meio do poema, dois caras se beijassem. A intenção não era exagerar ou apelar. Somente mostrar o que realmente foi o movimento e talvez causar em alguns o espanto, assim como os beats causaram com toda a sociedade norte-americana dos anos 50/60.
E a idéia evoluiu. Decidimos chamar dois caras aleatórios, desconhecidos da turma (já que seria apresentado na faculdade), e deixá-los no “bar”. Todos imaginariam que eles fossem meros figurantes, somente acentuando o climinha de boteco. Então, no auge do poema, quando um dos atores gritasse: “que transaram pela manhã e ao cair da tarde em roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livremente seu sêmem para quem quisesse ver”, os garotos se beijariam.
Mas tínhamos que arranjar os garotos. Depois de mil telefones e de ouvir “nãos”, “não dá”, “tenho vergonha”, tivemos uma idéia mais prática: ir até uma outra Universidade e procurar alunos do curso de artes cênicas que estivessem dispostos a nos ajudar. Encontramos um rapaz muito legal. Faltava o segundo. Procuramos, procuramos e nada. Fomos dormir e a apresentação seria na noite seguinte. .
Acordamos já pensando no segundo ator. E o encontramos assim, bem por acaso, recrutando pessoas na faculdade: “Oi, nós temos uma trabalho e blabla...”
Explicamos tudo e os garotos só se encontraram na hora da apresentação e pouco puderam conversar a respeito da cena. Nós, do grupo, explicamos assim: “Vocês ficam livres para conduzirem da maneira que acharem melhor. Podem somente insinuar um beijo, um selinho, se quiserem...”
Chegou a hora. Fumaça, jazz e luz vermelha. Mesinhas de bar, tudo como o planejado. Eu na mesa ao lado, fumando. Um dos atores se levanta, recita, grita, dá a deixa enquanto direciona seu olhar para os garotos, conduzindo assim o olhar do público. Os garotos se abraçam, mãos na nuca, se puxam, se pegam, se beijam, quase caem da cadeira. A cena comove até nós do grupo, que esperávamos leves carícias.
Olhares espantados por todos os lados. A poesia continua no ritmo do jazz. Aplausos. No final o professor, um ser quase inatingível, desses que a gente nunca vê pelos corredores da faculdade, diz, emocionado, que foi maravilhoso. E assim, meio que no susto, todo mundo sentiu bem o clima beat, esse desbunde escancarado, essa loucura inebriante.
por Carol Bataier
Sabe Geração Beat? Drogas, poesia, jazz e sexo livre? Jack Kerouac? Pois é, nós tínhamos um trabalho pra fazer sobre os caras. Teríamos que apresentar algo muito bom e que de alguma forma resumisse em, no máximo 30 minutos, o que foi a Beat Generation.
O trabalho era pra faculdade, mas a galera do grupo fazia teatro. E, atores narcisistas que somos, não nos contentamos em fazer somente um filminho no movie maker sobre o movimento e a vida dos caras. Resolvemos fazer uma apresentaçãozinha meio assim teatral. Cenário de bar, vinhos e cigarros sobre a mesa, e nós em meio a fumaça e luz vermelha lendo poesias beatniks.
O auge da loucura seria o poema “O Uivo”, de Allen Ginsberg.
É um poema escancarado, louco, erótico, tudo. Uma viagem.
E foi ai que tivemos a idéia: seria legal se, no meio do poema, dois caras se beijassem. A intenção não era exagerar ou apelar. Somente mostrar o que realmente foi o movimento e talvez causar em alguns o espanto, assim como os beats causaram com toda a sociedade norte-americana dos anos 50/60.
E a idéia evoluiu. Decidimos chamar dois caras aleatórios, desconhecidos da turma (já que seria apresentado na faculdade), e deixá-los no “bar”. Todos imaginariam que eles fossem meros figurantes, somente acentuando o climinha de boteco. Então, no auge do poema, quando um dos atores gritasse: “que transaram pela manhã e ao cair da tarde em roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livremente seu sêmem para quem quisesse ver”, os garotos se beijariam.
Mas tínhamos que arranjar os garotos. Depois de mil telefones e de ouvir “nãos”, “não dá”, “tenho vergonha”, tivemos uma idéia mais prática: ir até uma outra Universidade e procurar alunos do curso de artes cênicas que estivessem dispostos a nos ajudar. Encontramos um rapaz muito legal. Faltava o segundo. Procuramos, procuramos e nada. Fomos dormir e a apresentação seria na noite seguinte. .
Acordamos já pensando no segundo ator. E o encontramos assim, bem por acaso, recrutando pessoas na faculdade: “Oi, nós temos uma trabalho e blabla...”
Explicamos tudo e os garotos só se encontraram na hora da apresentação e pouco puderam conversar a respeito da cena. Nós, do grupo, explicamos assim: “Vocês ficam livres para conduzirem da maneira que acharem melhor. Podem somente insinuar um beijo, um selinho, se quiserem...”
Chegou a hora. Fumaça, jazz e luz vermelha. Mesinhas de bar, tudo como o planejado. Eu na mesa ao lado, fumando. Um dos atores se levanta, recita, grita, dá a deixa enquanto direciona seu olhar para os garotos, conduzindo assim o olhar do público. Os garotos se abraçam, mãos na nuca, se puxam, se pegam, se beijam, quase caem da cadeira. A cena comove até nós do grupo, que esperávamos leves carícias.
Olhares espantados por todos os lados. A poesia continua no ritmo do jazz. Aplausos. No final o professor, um ser quase inatingível, desses que a gente nunca vê pelos corredores da faculdade, diz, emocionado, que foi maravilhoso. E assim, meio que no susto, todo mundo sentiu bem o clima beat, esse desbunde escancarado, essa loucura inebriante.
Carol Bataier é estudante de jornalismo
5 comentários:
Nossa, adorei a história!
parabéns
beijos
Célia
Quando se acha que se tem pouco tempo para alguma coisa, sempre surge algo que resume, de maneira surpeendentemente simples, toda a essência da coisa (num achei palavra mió).
Resumindo: LOKO!!!!
Parabéns pela idéia!! Mesmice cansa e não consegue dar exaltação ao trabalho... E graças a Deus os artistas existem e fazem a vida mais emocionante!
Parabéns pela idéia!! Mesmice cansa e não consegue dar exaltação ao trabalho... E graças a Deus os artistas existem e fazem a vida mais emocionante!
Parabéns pela idéia!! Mesmice cansa e não consegue dar exaltação ao trabalho... E graças a Deus os artistas existem e fazem a vida mais emocionante!
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