E então nasceu o violão...
Metade do auditório do Auditório do Instituto Cervantes estava cheio - pessoas conversam baixinho, adolescentes procuravam um bom lugar e luzes eram testadas.
Entrou da porta lateral esquerda, em meio a aplausos, um sujeito jovem, de cavanhaque e camisa social colorida. No palco, lhe esperavam três instrumentos: um alaúde renascentista, uma teorba e uma guitarra barroca.
O recital comentado de Guilherme de Camargo foi quase um workshop de música. Passeando pelos instrumentos, Guilherme explicava a evolução do violão, desde quando o alaúde chegou à Espanha trazido pelos árabes até a forma moderna. Guitarra, em todos os países que não Brasil.
Mais da primeira metade do show foi dedicado ao alaúde. Nesse instrumento as músicas trabalham muito com contraponto – vozes diferentes que caminham juntas.
Seus dedos tremiam no início das primeiras músicas. Provavelmente reflexo do nervosismo que há em tocar para um público não tão grande - havia lá cerca de trinta pessoas. Apesar disso, quase não errava e ia se acalmando conforme as músicas se desenvolviam.
Explicava as canções, as evoluções, nuances. O repertório foi montado com músicas renascentistas – aquele clima de ninfas vagando por jardins floridos numa tarde de primavera. Com algumas poucas modificações, ia seguindo o repertório escrito no programa da casa, que incluía obras espanholas, italianas e francesas.
Mudou então para a teorba, um instrumento que mais parece um navio. Engraçado nele que as cordas mais graves estão fora do braço do instrumento, o que obriga que se toquem estas cordas apenas soltas.
A teorba foi feita para acompanhar os cantores, por isso tem um repertório vasto de linhas de baixo que se repetem infinitamente enquanto a melodia se desenvolve. O esquema lembra um pouco o do jazz, principalmente porque nelas notamos dissonâncias e notas de passagem.
Guitarra barroca, último instrumento da noite, é o que mais se aproximava do violão. Um violão mais frágil, segundo Guilherme.
Já estávamos no final da apresentação quando nossos ouvidos se tornaram de súbito mais aguçados. O senhor à minha direita reclinou levemente seu corpo para frente e via-se nos olhos das pessoas um brilho diferente. A música, renascentista e dedilhada, tomou corpo e se transformou num belíssimo flamenco. Belo final de espetáculo para este músico e musicólogo, que recebeu com cara de tímido os aplausos entusiásticos de uma platéia inteira de pé.
Set List
Obras para alaúde: 1. !Ay linda amiga! - 2. Pavana española 3. Calata ala Spagnola 4. Piva – 5. Fantasia nº1 – 6. Pavana “La Bella Franceschina” - 7. Fantasia nº3 - 8. Diferencias sobre el passemezzo - 9. Fantasia
Obras para teorba: 1.Le silvan - 2. Canário - 3. Kapsberger – 4. Prelúdio - 5. La Muzette em Rondeau
Obras para guitarra barroca: 1. Gran Duque – 2.Jácaras – 3.Canarios
Nota – 8
Custos
Transporte – R$ 2,00 (ônibus ida e volta no bilhete único)
Café – R$ 0,70
Total – R$ 2,70
Entrou da porta lateral esquerda, em meio a aplausos, um sujeito jovem, de cavanhaque e camisa social colorida. No palco, lhe esperavam três instrumentos: um alaúde renascentista, uma teorba e uma guitarra barroca.
O recital comentado de Guilherme de Camargo foi quase um workshop de música. Passeando pelos instrumentos, Guilherme explicava a evolução do violão, desde quando o alaúde chegou à Espanha trazido pelos árabes até a forma moderna. Guitarra, em todos os países que não Brasil.
Mais da primeira metade do show foi dedicado ao alaúde. Nesse instrumento as músicas trabalham muito com contraponto – vozes diferentes que caminham juntas.
Seus dedos tremiam no início das primeiras músicas. Provavelmente reflexo do nervosismo que há em tocar para um público não tão grande - havia lá cerca de trinta pessoas. Apesar disso, quase não errava e ia se acalmando conforme as músicas se desenvolviam.
Explicava as canções, as evoluções, nuances. O repertório foi montado com músicas renascentistas – aquele clima de ninfas vagando por jardins floridos numa tarde de primavera. Com algumas poucas modificações, ia seguindo o repertório escrito no programa da casa, que incluía obras espanholas, italianas e francesas.
Mudou então para a teorba, um instrumento que mais parece um navio. Engraçado nele que as cordas mais graves estão fora do braço do instrumento, o que obriga que se toquem estas cordas apenas soltas.
A teorba foi feita para acompanhar os cantores, por isso tem um repertório vasto de linhas de baixo que se repetem infinitamente enquanto a melodia se desenvolve. O esquema lembra um pouco o do jazz, principalmente porque nelas notamos dissonâncias e notas de passagem.
Guitarra barroca, último instrumento da noite, é o que mais se aproximava do violão. Um violão mais frágil, segundo Guilherme.
Já estávamos no final da apresentação quando nossos ouvidos se tornaram de súbito mais aguçados. O senhor à minha direita reclinou levemente seu corpo para frente e via-se nos olhos das pessoas um brilho diferente. A música, renascentista e dedilhada, tomou corpo e se transformou num belíssimo flamenco. Belo final de espetáculo para este músico e musicólogo, que recebeu com cara de tímido os aplausos entusiásticos de uma platéia inteira de pé.
Set List
Obras para alaúde: 1. !Ay linda amiga! - 2. Pavana española 3. Calata ala Spagnola 4. Piva – 5. Fantasia nº1 – 6. Pavana “La Bella Franceschina” - 7. Fantasia nº3 - 8. Diferencias sobre el passemezzo - 9. Fantasia
Obras para teorba: 1.Le silvan - 2. Canário - 3. Kapsberger – 4. Prelúdio - 5. La Muzette em Rondeau
Obras para guitarra barroca: 1. Gran Duque – 2.Jácaras – 3.Canarios
Nota – 8
Custos
Transporte – R$ 2,00 (ônibus ida e volta no bilhete único)
Café – R$ 0,70
Total – R$ 2,70
3 comentários:
Guilherme de Camargo é um excelente musico, resultado de muita aplicacao nos seus estudos.
Porém, de timido nao tem nada, é na verdade muito egocêntrico e seguro de si mesmo.
Mas, sem duvida, talento nao lhe falta!
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