O diabo é a cidade
A CadoPo (Casa do Politécnico) passaria despercebida como mais um prédio antigo e mal cuidado, mas, ao entrar, já foi possível identificar as modificações decorativas de autoria dos próprios atores que lá trabalham: paredes grafitadas, quadros pitorescos, móveis antigos e outros detalhes que criam uma sensação de aconchego e curiosidade.
Após subir alguns lances da escada estreita, cheguei à sala onde a peça seria apresentada às 20h. As cadeiras estavam dispostas lado a lado em duas fileiras paralelas formando um corredor forrado por um tapete vermelho, que viria a ser o palco. Acima das duas fileiras de acentos, bastante confortáveis, havia varais ocupados por cabides e roupas que seriam utilizadas na troca de figurino dos atores durante a encenação. Ao fundo, uma placa de trânsito “Pare” e, no chão, quatro aparelhos de televisão completavam o cenário.
Jovens atores formam o grupo teatral: Bruna Amado, Cristiane Avelar, Danilo Minharro e Marcos Cruz. A trama é construída a partir da obra “Macário”, de Álvares de Azevedo, e permeada por outras histórias cuja autoria é do diretor, José Fernando. A temática que liga todas as histórias é sempre relacionada ao comportamento do jovem na cidade. O grupo expõe aspectos e visões críticas bastante interessantes a respeito. Faltou um pouco de dinâmica nas cenas em que recitaram textos de outros autores, tornando-as menos envolventes. No entanto, é justamente a utilização de histórias e citações que enriquece o conteúdo da peça.
O grupo mostrou entrosamento e criatividade. Uma mesa de som atrás de uma das fileiras de cadeiras intercalou o fundo musical com um piano infantil e um violino (tocados por Cristiane Avelar durante a encenação), um violão (tocado por Marcelo Cruz, que permaneceu fora do palco e participou apenas de algumas cenas) e a voz dos atores, acompanhada por danças.
Em alguns momentos o público foi incluído na encenação (fosse para acender um cigarro ou para segurar um documento de identidade). Um dos momentos mais interessantes contou com tal inclusão: os atores sentaram-se, cada um de frente para um grupo diferente de pessoas, e simultaneamente narraram histórias de sua adolescência, tão delicadas e curiosas, que deixaram a dúvida se ouvíamos um personagem ou o próprio ator.
Aplaudidos de pé, os atores ainda permaneceram no palco cumprimentando os dezenove espectadores e agradecendo o apoio. Em seguida, recolheram as roupas espalhadas pelo chão, retiraram os televisores e desceram as escadas comentando animados a apresentação.
A dedicação e engajamento do grupo ficam evidentes na luta para que o CadoPo se torne um pólo cultural. Para isso dependem do apoio da prefeitura e de seu público para que dêem continuidade à arte que produzem. Vale a pena prestigiá-los!
Custos
Transporte: R$ 2,00 reais de ônibus com Bilhete Único de Estudante
Total – R$ 2,00
Nota – 8,0
Quando: aos sábados e domingos às 20h.
Onde: CadoPo, na Rua Afonso Pena, nº 272, Jardim da Luz– Próximo ao metrô Tiradentes.
matéria por Fernanda de Almeida Silva
3 comentários:
parabéns pela matéria, fê!
ficou muito boa mesmo!!
beijo
Bem assistir a peça várias vezes, é realmente boa, com uma qualidade musical, e com a dinâmica entre o texto clássico e os depoimentos dos atores....
Vale a pena...
criatividade, boa vontade são aspectos notorios nesse espetaculo, feito com pertences do proprio grupo, produzido com recursos proprios eles mostram que se tivessemos mais incentivo a cultura teriamos muito mais diversão e espetaculos de qualidade.
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