Da Relação entre Arte e Sujeito
Uma sala da pinacoteca tingida de azul, em vários tons. No espaço ao lado, as fotografias intrigantes de Klaus Mitteldorf. Pessoas curiosas, estudantes, famílias e fotógrafos vagam pelos corredores da Pinacoteca sábado à tarde.
A responsável por criar o efeito azul na sala em forma de octógono da Pinacoteca é Regina Silveira, artista já consagrada por suas instalações e intervenções urbanas. Aqui ela instalou vidros formando o desenho de um céu azul com uma grande lua cheia no centro no teto da sala: conforme a luz passa, em suas diversas intensidades, colore a sala de um modo único e muito bonito. No chão dessa mesma sala há um tipo de poço, e, no fundo dele, a mesma imagem do teto. Vertigem.
A artista brinca com a luz e com o “observador”, que aqui não só observa, mas participa da obra de arte. Ele também é personagem do cenário criado por Regina. A aproximação da arte com as pessoas é o mais interessante em uma instalação. Desperta interesse, curiosidade e transforma o conceito que muitos tem a respeito do que é uma “obra de arte”.
A iluminação ultrapassa os limites da sala-octógono e chega até o espaço onde estão expostas as fotos de Klaus Mitteldorf, criando uma atmosfera onírica para as já surreais fotos do artista.
Utilizando-se de lentes, lupas, filtros, transparências, espelhos e água Klaus constrói imagens desfocadas, contrastadas, coloridas, que parecem até ter movimento próprio, mesmo dentro das molduras. Confesso que fiquei intrigada; demorei para entender a proposta de Klaus. Aquelas imagens de quem parece que não conseguiu focar são de propósito, visam enxergar a realidade de outros prismas, e pensar o próprio conceito de “realidade”. Será que o real não pode ser considerado como tal se não for focado e estático? As fotografias são a materialização dessa pergunta.
“Introvisão”, como é chamada a exposição, também quer enxergar a realidade através de outras óticas, literalmente: a ótica do sujeito fotografado; através de seus olhos, de seus óculos, das distorções próprias de cada um, de cada realidade particular. Os olhares individuais captados por Klaus brincam com a relação entre fotógrafo e objeto, transformando um pouco o fotografado em fotógrafo também.
Com essas duas exposições, a Pinacoteca criou um espaço muito interessante para a discussão da arte e sua relação com seus objetos, com o sujeito e com o público. Além disso, está lá a arte contemporânea exposta de forma bela, intrigante e gratuita. Vale a pena conferir.
Custos – R$ 5,95 (4,20 de metrô para ir e voltar + 1,75 por um sorvete).
Nota - 10
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