21.9.06

Foto em Cena – Henri Cartier-Bresson

O Momento Decisivo
por Helô Louzada

Henri Cartier-Bresson. Não há como iniciar uma coluna sobre fotografia sem falar do fotógrafo que mais influenciou a produção moderna e contemporânea. De certo, a maioria dos leitores já teve oportunidade de entrar em contato com algumas das fotografias de Bresson. O instante exato em que o homem que está pulando sobre uma poça d’água e encosta a ponta de seu sapato na água ou o casal que se beija sob o olhar atento de um cachorro.

Para a construção dessas e de tantas outras imagens fantásticas, Cartier-Bresson parte do conceito do que ele chama de momento decisivo. Ao contrário do que possa se pensar, esse momento não é apenas um flagrante inusitado ou um instantâneo.

O momento decisivo é o instante que resume uma realidade ou um acontecimento, e que pode ser percebido através das diversas relações e entre as diferentes dimensões dessa própria realidade. Ou seja, é uma construção imagética que mostra essa realidade ou acontecimento.

Ao observar a foto do homem pulando na poça d’água (cujo nome é Atrás da Estação Saint-Lazare) pode-se enxergar a relação entre o homem e a bailarina no cartaz ao fundo, que estão praticamente na mesma pose; ou o rebatimento das formas do fundo na própria poça, a divisão da realidade em duas dimensões, etc. Essa fotografia é a perfeita explicação do que é o momento decisivo.

Outras fotografias do mestre Bresson ainda brincam com jogos de olhares que envolvem não só os personagens da cena, mas o olhar do próprio fotógrafo e do observador da imagem, como é o caso da foto do casal se beijando (Boulevard Diderot), entre outras.

Para Cartier-Bresson, o momento decisivo é a justificativa da fotografia, e o fotógrafo é o profissional que tem a sensibilidade para capturar e perceber esse instante. Essa definição influencia toda a produção fotojornalística desde os primórdios da revista norte-americana Life até a produção documental e engajada de Sebastião Salgado.

Há uma discussão em torno da veracidade ou não da espontaneidade desses momentos decisivos, ou se são ou não fotos posadas. O que se sabe é que havia sempre um estudo minucioso da imagem antes da captura do tal momento, “rascunhos” sobre os possíveis enquadramentos e longas esperas desse instante mágico e fugaz em que a realidade estaria explícita.

Se isso tira ou não a aura mágica do instante decisivo, é uma discussão menos relevante do que a revolução causada pelas fotos e o conceito lançado pela tendência humanista francesa, na qual Bresson se encaixa.

Henri Cartier-Bresson é, sem dúvidas, o grande mestre da fotografia moderna, sem o qual não há como pensar a produção contemporânea. Nas palavras do próprio fotógrafo: “Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”. Que assim seja.


Helô Louzada é estudante de História. As quatro primeiras fotos são de Henri Cartier-Bresson. A última é um retrato do próprio fotógrafo.

5 comentários:

Silvia disse...

Muito, muito bommmmmm.
Você está escrevendo muitíssimo bem e, como gosta desse assunto, escreve com gosto, explica o inexplicável (foto?).
Beijo

Luciano Piccazio Ornelas disse...

oi! A coluna da Helô tá sendo bastante discutida na comunidade "Fotografia Digital". o link é http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=44652&tid=2488475219188098296/


também na comunidade "Fotógrafos": http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=62277&tid=2488486961628685560&start=1/

luciano disse...

nessa tb http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=1361094&tid=2488524448108861073

Anonymous disse...

por que teve um comentário excluído?
cadê a liberdade de expressão?

Luciano Piccazio Ornelas disse...

eu exclui... tinha escrito, mas escrevi errado. Por isso apaguei