Sinatra está resfriado
“Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem combustível – só que pior. Porque um resfriado comum despoja Sinatra de uma jóia que não dá para pôr no seguro – a voz dele -, mina as bases de sua confiança...”.
Gay Talese falava de Sinatra, o homem conhecido como A Voz. Havia marcado com seu empresário uma entrevista há mais de um mês, mas, ao chegar para conversar com o cantor, obteve a negativa: Sinatra está resfriado. Pensou no porque daquilo tudo: “Porque não quer falar comigo só por causa de uma gripe?” A resposta que obteve foi simples: a gripe despojava Sinatra de seu único bem verdadeiro, sua voz.
Heloísa Petri (Lolô), soprano do grupo Carmina, teve um problema. Quando estava em casa engasgou e ficou alguns segundos sem ar. Sua voz, único patrimônio, teve algumas avarias temporárias, como arranhões na garganta. Cantaria no mesmo dia, lançamento do cd Na trilha do novo mundo.
E assim a apresentação começou.
Imagine-se num mundo medieval, no meio do povo, cantando e dançando alegremente na rua. A viagem do cd consiste exatamente neste caminho. Depois de cantar com amigos, a viagem te leva para um quarto, onde as tristezas e agruras da vida aparecem. Te leva para lugares que podem ser tanto imaginados visualmente, como sentidos. Viagem da alma e viagem dos olhos.
O público, que lotou o Teatro Brincante (aquele do Antônio Nóbrega), adorava. A maioria era de músicos e amigos, e comentavam sobre os aspectos musicais da apresentação. - Gostei do agudo. Ela vai cantar na ópera, você viu?
Quando, a certa altura, Picasso ficou sem tinta. Lolô parou toda a apresentação e dirigiu-se para perto do público. “Desculpe, gente, mas acho que vamos ter de parar por aqui”. Ficamos na platéia todos atônitos. “Acontece o seguinte: eu estou completamente rouca, e estou estragando a festa. Nós fizemos um cd tão bonito, eu não quero que fiquem com a impressão errada dele, desculpem”. A voz de Lolô estava bela. É bela. Mas a cantora sentia que algo estava errado.
Na platéia, aquela platéia de especialistas, ninguém entendia. Gritos de apoio e elogios à cantora ecoavam, e todos pediam que voltasse. Mas Lolô não poderia voltar. A cantora, professora de canto há anos, sabe bem os cuidados básicos com a sua voz. Forçá-la, naquela situação, seria suicídio.
Então, voltou e sentou em sua cadeira, querendo chorar. O resto da banda, desconcertado, começou a tocar a música Bendito, e depois mais uma ou duas instrumentais. Acabou por aí.
A apresentação foi realmente boa, o cd vendeu bastante e as taças de champagne pós show eram esvaziadas e preenchidas constantemente. Conversas leves sobre política ou futebol podiam ser ouvidas no hall do belo teatro. Picasso reavera suas tintas.
Custos
R$ 2,80 – café e sanduíche
R$ 2,00 – ida e volta de ônibus com bilhete único de estudante
Total – R$ 4,80
Nota - 8
Grupo
“Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem combustível – só que pior. Porque um resfriado comum despoja Sinatra de uma jóia que não dá para pôr no seguro – a voz dele -, mina as bases de sua confiança...”.
Gay Talese falava de Sinatra, o homem conhecido como A Voz. Havia marcado com seu empresário uma entrevista há mais de um mês, mas, ao chegar para conversar com o cantor, obteve a negativa: Sinatra está resfriado. Pensou no porque daquilo tudo: “Porque não quer falar comigo só por causa de uma gripe?” A resposta que obteve foi simples: a gripe despojava Sinatra de seu único bem verdadeiro, sua voz.
Heloísa Petri (Lolô), soprano do grupo Carmina, teve um problema. Quando estava em casa engasgou e ficou alguns segundos sem ar. Sua voz, único patrimônio, teve algumas avarias temporárias, como arranhões na garganta. Cantaria no mesmo dia, lançamento do cd Na trilha do novo mundo.
E assim a apresentação começou.
Imagine-se num mundo medieval, no meio do povo, cantando e dançando alegremente na rua. A viagem do cd consiste exatamente neste caminho. Depois de cantar com amigos, a viagem te leva para um quarto, onde as tristezas e agruras da vida aparecem. Te leva para lugares que podem ser tanto imaginados visualmente, como sentidos. Viagem da alma e viagem dos olhos.
O público, que lotou o Teatro Brincante (aquele do Antônio Nóbrega), adorava. A maioria era de músicos e amigos, e comentavam sobre os aspectos musicais da apresentação. - Gostei do agudo. Ela vai cantar na ópera, você viu?
Quando, a certa altura, Picasso ficou sem tinta. Lolô parou toda a apresentação e dirigiu-se para perto do público. “Desculpe, gente, mas acho que vamos ter de parar por aqui”. Ficamos na platéia todos atônitos. “Acontece o seguinte: eu estou completamente rouca, e estou estragando a festa. Nós fizemos um cd tão bonito, eu não quero que fiquem com a impressão errada dele, desculpem”. A voz de Lolô estava bela. É bela. Mas a cantora sentia que algo estava errado.
Na platéia, aquela platéia de especialistas, ninguém entendia. Gritos de apoio e elogios à cantora ecoavam, e todos pediam que voltasse. Mas Lolô não poderia voltar. A cantora, professora de canto há anos, sabe bem os cuidados básicos com a sua voz. Forçá-la, naquela situação, seria suicídio.
Então, voltou e sentou em sua cadeira, querendo chorar. O resto da banda, desconcertado, começou a tocar a música Bendito, e depois mais uma ou duas instrumentais. Acabou por aí.
A apresentação foi realmente boa, o cd vendeu bastante e as taças de champagne pós show eram esvaziadas e preenchidas constantemente. Conversas leves sobre política ou futebol podiam ser ouvidas no hall do belo teatro. Picasso reavera suas tintas.
Custos
R$ 2,80 – café e sanduíche
R$ 2,00 – ida e volta de ônibus com bilhete único de estudante
Total – R$ 4,80
Nota - 8
Grupo
Ana Cristina Rossetto e Marília Macedo - Flautas doces e krummhorner
Abel Vargas - Viola da Gamba
Gisela Nogueira - Viola de Arame
Terezinha Saghaard - Cravo e krummhorner
Dalga Larrondo - Percussão
Heloísa Petri e Mauro Wrona - Canto
2 comentários:
que beleza...
que beleza...
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