6.9.06

ENTREVISTAS: LENINE

Lenine:


Encostado na mureta lateral do auditório do Ibirapuera, Lenine fumava calmamente sua cigarrilha. Brilhava o olhar sempre que dizia algo. Parece que imagens passavam em sua cabeça e organizavam seu pensamento enquanto suas mãos mexiam bastante, quase como que para tentar segurar essas imagens. Sua fala é clara e objetiva, mas sem deixar de lado o tempero de todo bom artista. É um cronista visual; músico que queria ser Stanley Kubrick, que classifica suas composições como visuais e que escreve em sua fala tudo aquilo que suas canções escondem em versos e melodias.

Sucesso absoluto nos Estados Unidos, Europa e, principalmente, Brasil, Lenine é um pernambucano radicado no Rio de Janeiro, cujo som é uma mistura de maracatu, música popular e vários outros sotaques. Conversando com o artista, é fácil notar que suas influências vão muito além da música, ultrapassam a literatura e vão cair em terras estranhas, sem lei.

Entrevista:


Havia 12 mil pessoas lá (Parque do Ibirapuera, dia 3/9) te vendo de graça. Qual você acha que é a importância da arte ser de graça?

É fundamental. Aliás, eu acho que a arte, quando subsidiada, tem que ser assim.

Quais seus programas culturais prediletos em São Paulo?

Em São Paulo? São mais gastronômicos do que culturais. Porque eu geralmente venho a trabalho, então nunca consigo ficar um tempo maior. Fico muito de passagem. Então é assim, tem alguns restaurantes que eu não posso deixar de ir, que eu não abro mão. Cheguei até a arrumar pretexto para fazer alguma coisa em São Paulo por causa deles.

Qual a importância da vida cultural paulistana para a música brasileira?

A vida cultural de qualquer cidade. Acho que qualquer cultura tem a ver com a cidadania. Uma cidade como São Paulo, que congrega nichos de várias partes desse país, e não só do país, mas de fora dele, tem essa coisa de ser esse caldeirão gigantesco e de ter tantas opções culturais. Isso é o que mais me atrai na cidade, realmente.

Você acabou de voltar de uma mini-excursão pelos EUA, onde teve sucesso absoluto e foi destaque em jornais como o New York Times. O que você levou de melhor do Brasil para os outros países?

Esse desprendimento, esse despojamento. Essa sede de fazer e de entrega total que a gente tem, de não ter muito apego a tradições e de se apropriar de qualquer coisa pra fazer uma idéia. Porque somos somatórios dessas experiências todas, então, de alguma maneira, acho que a brasileira arte reflete esse tipo de... cosmopolitismo mesmo, de tantas influências numa vertente só.

Como é seu processo de criação?

Não tem muita regra. Depende muito do tipo de música que você tá criando. Pode ser uma letra que eu to fazendo pra uma música do Francis Hime ou do Ivan Lins. Pode ser ao contrário; uma música que eu estou fazendo pra uma letra do Paulo César Pinheiro ou de Carlos Rennó. Pode ser também músicas de parceiros como Lula Queroga, Bráulio, Ivan Santos, Dudu Falcão, que, como eu, trabalham tanto com música quanto com letra, e isso se confunde. E tem também as canções que eu chamo de psicofonadas; parece que já existia, você só foi um fio condutor e ela já chegou pronta.

Você já compôs mais de 500 músicas e produziu apenas 6 discos. Por que?

São dois trabalhos diferentes. Um é de intérprete, o outro é de composição. Mais de cinqüenta por cento do que eu produzo não é pra mim, é pra outras pessoas. Eu sou compositor.

É um outro tipo de prazer?

Não, é a mesma coisa. Tudo é derivado de uma mesma coisa. O que eu faço é compor. As ramificações disso é que deram em cantar, tocar, arranjar, produzir, gravar. Isso tudo é decorrência da composição.

Você se autodenomina um cronista musical. O que é ser um cronista musical?




Na verdade, um cronista é aquela pessoa que está dando a sua versão dos fatos. Eu acho que minha música tem este tipo de conotação, de ser jornalístico, de serem reportagens que eu faço em determinadas situações. É por isso que eu acho que é meio crônica mesmo. Tem a ver com o que eu vejo, não com o que eu ouço. É engraçado isso. Eu trabalho com música, mas minhas músicas são todas temas visuais, tem mais a ver com cinema do que com música. Eu acho, né?

Algumas influências artísticas...

Jorge Luiz Borges. Eu tinha maior vontade de ser Jorge Luiz Borges, como eu tinha a maior vontade de ser um Kubrick (Stanley). O cinema, para mim, é o maior olhar na história do cinema é esse cara que fez. Da mesma maneira, eu acho que o Jorge Luiz Borges é o maior ficcionista que eu já tive o prazer de ler.

10 comentários:

Carol Splendore Cameron disse...

Parabéns Lu! Pela matéria, pela estréia, pela perseverança.
Só quero registrar aqui o meu "Parabéns, Lu"...

Regina Santiago disse...

Parabéns pela matéria, Luciano.
É muito difícil encontrar entrevistas pertinentes e ao mesmo tempo leves e "lúdicas" por aí.
O Lenine é mesmo um cara especial e tua matéria soube reportar isso com extrema propriedade.

Anonymous disse...

Luciano, parabéns!!!! Sou jornalista e estou adorando o conteúdo do site de vocês, precisamos de profissionais assim que vão a luta.

Maricy

André disse...

Mandou bem sr Piccazio!

Dahanne disse...

Bela entrevista Luccio =)

Parabéns. Contiue assim entusiasmado com o projeto e, dentro de pouco tempo, isso irá realmente decolar.

Bjoes

Carmem Silvia disse...

Olha eu aqui de novo!
Gostei da entrevista. Respostas inteligentes para perguntas inteligentes.
Gosto disso!

Ju Fraldinha disse...

êêê adorei a entrevista!!! vc ta cada dia melhor, assim q eu gosto auhhuauha
beijaoooooooooooo

David disse...

Oi!gostei da entrevista apesar do ser fã do Lenine, tinha coisa que eu naum sabia e foco da entrevista foi muito bom parabens!!

Karol Sun disse...

Incrível!!! Sou fã do Lenine e amei a matéria! parabéns pelo blog! Abraçose muita luz nos projetos!

Anonymous disse...

Você já compôs mais de 500 músicas e produziu apenas 6 discos. Por que?
Rsrs