22.9.06

Qioguem?! – CCSP – 21/09/2006

Humor clássico, o humor de verdade

Fui desconfiado até o Centro Cultural. Afinal, assistir a uma comédia japonesa do século XIV, com o estranho nome de Qiogem?! não é garantia de diversão. Mas a curiosidade me motivou e a surpresa realmente foi gratificante. O público compareceu e tomou os 110 lugares da casa, e um humor sem apelações e nem bobagens gratuitas - tão raro nos tempos atuais - apresentou-se vivo no palco da sala Paulo Emílio.

Kyogen significa, literalmente, palavras insensatas. E essa insensatez, presentes em todas personagens, era a graça do espetáculo. A interpretação do elenco é de chamar atenção: o entrosamento entre eles ficou evidente e havia sempre muita sincronia nas coreografias. Aqueles pequenos erros, tão normais em todas peças teatrais, não apareceram dessa vez. Os figurinos e as maquiagens são originais, conservando a cultura japonesa com quimonos e penteados típicos do Oriente.

Os temas apresentados são diferentes entre si e não buscam qualquer profundidade. Fazer rir é o objetivo. Desde os mais complexos, como o desejo pelo suicídio, até um simples caso amoroso: todos são retratados, buscando as piadas mais oportunas. Essa falta de coesão entre as cenas causa um ligeiro estranhamento, mas como os esquetes são bem montados, quase não se percebe este ponto fraco.

Personagens típicos da realidade e da imaginação se misturam em um grande folclore criado na mente de quem assiste. Os recursos cênicos são utilizados com extrema pontualidade e inteligência, como máscaras engraçadas e ótimos ajustes de iluminação. Outro ponto fraco é o cenário: simples em excesso.

Um grande diferencial da obra é a trilha sonora. Em sua maior parte é feita ao vivo por Gregory Silvar com a ajuda dos próprios atores. Os instrumentos são simples: canos de PVC, pedaços de madeira, vasos com água, entre outros. A criatividade sobra quando se trata de concepção sonora, chama sempre a atenção do público e, em alguns casos, é a própria piada.

O que parecia significar estranheza e falta de sincronia com os tempos atuais acabou servindo de grande trampolim para risadas de verdade. O humor clássico japonês provou ser muito competente e até mesmo contemporâneo. A adaptação da Caos Cia. De Teatro também ficou muito fiel e digna. O tempo pode passar, mas o talento resiste aos anos.

Custos:
Transporte – R$ 4,20 (ida e volta de metrô)
Salgado e refrigerante – R$ 4,00
Total – R$ 8,20

Nota – 9

Por Allan Brito

2 comentários:

Sheyla disse...

Pô, Allan (não sei se posso te chamar de filhão aqui! hauaha), ficou muito boa a matéria!

Deu até vontade de ver...=P

Beijo!

Arte Free disse...

huahuahua... pode sim!

a matéria ficou muito boa mesmo!