Eu Nunca! (Será?)
O frio não assustou. Espetáculo lotado. Os cinqüenta lugares seriam todos ocupados. A insistência dos que chegaram tarde demais.“Não, não tem mais nenhum ingresso, estão todos esgotados. Tem sido assim desde a estréia.”
A peça seria apresentada em uma sala do andar superior e, portanto, deveríamos aguardar, naquela sala de vidro, até que fôssemos liberados para subir de elevador em três ou quatro grupos de pessoas. A fila, formada por jovens e adultos, folheava os panfletos com a divulgação da peça que assistiríamos dali alguns minutos.
Entramos. O espaço era um longo corredor, forrado de tapete vermelho. Diferente do que se possa imaginar, quem ficava no meio éramos nós, o público, devidamente sentados em banquinhos fixados no chão. Os atores? Estes ficavam próximos às paredes, andando por todo espaço. E, por isso, podíamos nos esticar, agachar, girar...o dinamismo corporal não ficava só por conta dos artistas.
“Ética, ética, ética...ética?”. O menino que rouba o “pirocóptero”. A menina que leva o namorado, escondido, pra ficarem no quarto. A vizinha velha e doente que será visitada amanhã. Os queijos de cabra. O assalto na joalheria. As mentiras e os riscos no braço. O esquema do relógio de quarenta conto. A mulher que acordou honesta. O dinheiro ressarcido no banco. O convite no restaurante do hotel. O vaso de decoração. O cara infiel mas leal. O caso com o chefe. A empregada e os biscoitos. As bitucas. Parece um índice, não é? A diferença é que essas pequenas histórias não são independentes umas das outras e tão pouco falam dos mesmos personagens. São ligadas, principalmente, pelo tema: a ética. Mas o fio condutor dessas esquetes são as coreografias, o jogo de luzes precisas, o posicionamento específico dos atores, as músicas e o canto.
Ética é uma “idéia muito complexa pela própria extensão e profundidade do tema”, como afirma a diretora, Renata Melo, na introdução do folheto de divulgação da peça. Mas o grupo foge das grandes questões de ordem pública, política e institucionais para se focar no cotidiano, em situações que geram proximidade com a rotina, as escolhas e, também, os segredos da platéia. E conseguem essa identificação - comprovada pelas risadas, comentários e troca de olhares entre o público. Ainda que houvesse alguém isento de identificação com as situações interpretadas, essa pessoa não escaparia do paredão que os atores formaram na finalização do espetáculo: de forma alternada e iniciando a pergunta sempre por “Quem nunca...” eles questionaram uma sucessão de pequenos desvios éticos que comumente cometemos.
Aplaudidos de pé. O público ri e repete as falas. Alguns confessam, outros negam. “Eu Nunca!”. Será?
Custos:
Transporte - R$ 0,00 (Ida e Volta de carona)
Total - R$ 0,00
Nota - 9,0
Grupo:
Direção e Adaptação - Renata Melo
Texto - Grupo Ethos
Elenco - Apoena Gurgel, Bia Borin, Bruno Guilda, Carlos Gomes, Carol Lima, Dinah Feldman, Íris Yazbek, João Lorenzo, Leo Abel, Luana Jimenes, Marcia de Oliveira, Paula Sassi, Priscilla Herreiras.
7 comentários:
Belo texto!!
Juro que me deu vontade de ir ver...
e os horários da peça???
A peça acaba agora dia 01 de abril e não é mentira.
Uma das melhores peças que já vi dentro e fora do país. Vale a pena passar às 11h na bilheteria para pegar os ingressos.
Valeu a dica, a peça é ótima... E ocara que fala do banco? É lindo...
Gostei muito do elenco feminino...são ótimas!
O tema me tocou profundamente.
Valeu a pena esperar para ver esta obra de arte!
olá obrigado por divulgar nosso trabalho!!
Reestreiamos no SESI Leopoldina com uma nova versão para palco italiano, ingressos também gratuitos, até dezembro!!
Apareça
Abraços
Ana Carolina
Uau! O espetáculo é excelente! Eu fui com alguns alunos meus no dia 07 de dezembro de 2007 e, apesar da nove horas de viagem, o texto e atuações valeram cada minuto presos na estrada!
Todos estão de parabéns!
Quem ainda não viu, não perca tempo!
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