21.10.06

27a Bienal da Casa da Xiclet - Casa da Xiclet - 20/10/06

Vivendo longe

Cheguei à Casa da Xiclet. Não havia nenhuma campaínha e o portão estava trancado. Então bati palmas, gritei, e nada. Perguntei ao mecânico do outro lado da estreita rua como chamar alguém da casa, e me disse que havia uma campaínha em cima do muro. Apoiei com minha mão esquerda no muro e descobri que, além da campainha já não estar mais lá, no muro havia um pouco de tinta fresca. Depois de alguns minutos, apareceu alguém de dentro da casa e consegui chamá-lo.

O rapaz chama a Xiclet (Adriana Matos Alves Duarte) e ela vem me abrir o portão. Pede desculpas, diz que o portão normalmente fica aberto e me indica uma torneira para lavar a minha mão, nessa hora, branca de tinta.

É uma casa espaçosa, um terreno agradável incrustado na Vila Madalena. Lá, expõe obras de vários artistas. Abriu a sua casa para visitação, já que, segundo diz, as exposições e ateliês têm apadrinhamentos e ciclos viciosos que impedem a exibição de novos artistas.

E é exatamente em cima da maior feira de exposições do ano, a 27a Bienal de São Paulo – Como Viver Junto, que Xiclet faz a sua propaganda. O nome da exposição que ocorre em sua casa? 27a Bienal da Casa da Xiclet – Como Viver Longe. O movimento, como a própria me disse, não vai exatamente contra a Bienal, mas sim usa a força daquela para promover os novos artistas. Claro que têm divergências de alguns métodos de seleção da Bienal oficial, mas seu caminho paralelo não necessariamente se choca com aquele.

Interessante é o ato de Xiclet. Abrir sua casa, sua privacidade, para que a arte possa se desenvolver. É não ficar parado quando as coisas apertam e criar boas alternativas para que mais e mais artistas bons possam surgir. Ganha dinheiro apenas com as inscrições dos artistas que querem expor, já que não cobra entradas.

E há artistas ótimos lá. Perdi levemente os sentidos ao me deparar com a obra Entrecorpos, de Marcela Tiboni (ao lado). Já havia visto o retrato numa exposição do Instituto Cervantes e indicado-o na ocasião como um dos melhores daquela mostra (leia aqui). Estava lá, colocado no chão ao lado de obras igualmente boas. Deu vontade de abraçar, de embrulhar e levar pra casa. O preço, porém, me fez rir de tal idéia tola (R$1.500).

Outro destaque: as fotografias do publicitário Paulo Falcão, que expõe tampas de bueiro numa coloração meio fosca, trazendo arte àquilo que nem classificaríamos como parte de nosso repertório cotidiano. Bueiros e afins são partes dos “objetos invisíveis” de uma cidade.

A contra-bienal de Xiclet é fantástica. A idéia da arte sem porquês, da arte pelo amor à tinta, à tela, ao choque. Enquanto conversávamos, um dos amigos da galerista subiu as escadarias da casa com uma latinha de spray. Minuto depois voltou bem feliz, chamando a todos. Aquele muro em que eu havia me sujado serviu de tela para o moço, que fez um belo desenho com vários círculos em forma de rosto. Enquanto conversávamos!

Não adianta. Se todas as mãos e pés de todos os artistas do mundo forem cortadas, começarão a desenhar com o umbigo.

Nota – 10

Custos
Transporte – R$ 2,00 (ida e volta no bilhete único)
Café e salgado – R$ 1,70
Total – R$ 3,70

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Luciano....quando me perco em pensamentos enlouquecedores sobre a necessidade de fazer arte, alguém me estende o braço e me propõe uma troca...
Fiquei muito feliz em ler o seu comentário sobre o meu trabalho. As vezes eu também acho difícil os sonhos e as vontades terem um preço, mas te convido a vir ao meu atelier acompanhar mais de perto o que eu faço e te ofereço um café..=).
Grande abraço Marcela Tiboni.