19.10.06

Foto em Cena - A ilusão do real

A Ilusão do Real
por helô Louzada

Não há duvidas sobre as mudanças que ocorreram no mundo a partir do advento da fotografia. Desde o surgimento dos primeiros daguerreótipos, no fim do século XIX (que causaram o encantamento narcisista da burguesia por si própria), a influência da fotografia e do mundo imagem criado por ela foram determinantes na composição do mundo que começava a se desenhar com as revoluções industriais e técnico-científicas.

Com a difusão e popularização das câmeras fotográficas, também surge a mentalidade que compreende o mundo como algo composto de cenas esperando serem fotografadas; fragmentos de realidade transportados para o papel e lá imortalizados. Realidade, qual a diferença entre o real e o fotográfico?

A fotografia ilude por parecer ser a cópia perfeita e eterna da realidade fugaz dessa sociedade nostálgica de si mesma, que passa por mudanças cada vez mais violentas e rápidas. O olhar do fotógrafo que, inconscientemente ou não, corta, enquadra, expõe, controla a luz, não pode ser o retrato perfeito do real. É sempre subjetivo e estritamente ligado à visão de mundo de quem olha e fotografa; clica.
Qual a semelhança entre a fotografia e uma arma de fogo?
Click!

Em um sentido mais metafórico e sublime, a fotografia também assassina na medida em que viola a privacidade e individualidade do fotografado, impõe o ponto de vista do fotógrafo a algo de múltiplas interpretações, eterniza um momento que seria efêmero, transforma aquilo em parte do mundo-imagem, em objeto consumível, que pode ser possuído.

Hoje, a fotografia é parte indispensável do cotidiano, tornou-se um ritual social. Álbuns de família e viagens de turismo são exemplos simples de eventos que só fazem sentido se forem fotografados. Nessa sociedade nostálgica, o álbum de família mostra o espectro de uma família unida e feliz; e as fotos de turismo são entendidas como a prova incontestável da viagem, do status e do divertimento do viajante. Daí outra ilusão da fotografia, temos a sensação de poder possuir o mundo, poder guardá-lo em simples pedaços de papel ou arquivos de computador.

Pode-se dizer então que a sociedade contemporânea é, sem dúvidas, dependente e viciada em fotografia; uma vez que esta constitui um consumismo estético, uma ilusão de aproximação e de posse do mundo, ou até mesmo um simples prazer narcisista. Pensar o mundo atual sem a fotografia é então, impossível; as experiências, sejam elas individuais ou coletivas, só existem realmente se forem registradas, só fazem sentido se forem fotografadas. Que o digam os fotologgers.

Referência: Susan Sontag – Sobre fotografia

Helô Louzada é estudante de história

2 comentários:

Paulo disse...

Onde localizo o artigo: "Cartier-Bresson e o momento decisivo" de Helô Louzada ?
Enviar link para meu e-mail: imovelnaweb@gmail.com

Silvia disse...

Helô, mais uma vez gostei do que escreveu (sem corujisse!!!), pois revela seu amadurecimento intelectual, as reflexões que faz "no alto" dos seus 19 anos... Pois é, acho que você será, mais tarde, ou mais cedo, uma jornalista de primeira!
beijo, Silvia