5.10.06

Foto em Cena - Robert Capa

Fotojornalismo Heróico
por Helô Louzada

Desembarcar com as tropas aliadas na Normandia; não para combater o inimigo nazi-facista, mas sim para registrar aquele momento único, arriscando sua própria vida em troca de imagens que o consagrariam.

Foi assim que Robert Capa imortalizou o chamado fotojornalismo heróico: desembarcando na Normandia em pleno dia D sob tiros das tropas inimigas. Foi assim que Robert Capa imortalizou os muitos soldados mortos em combate e engrandeceu o mito criado em torno do dia D e de toda a sua própria produção fotográfica, que também inclui o registro da Guerra Civil Espanhola.

Criar mitos, influenciar no imaginário e principalmente estetizar a guerra, no sentido de criar o “belo” em situações de miséria, degradação e sofrimento humano. O papel do fotojornalismo heróico é estritamente ligado ao engajamento político e ideológico do fotógrafo, que produz imagens com o intuito de serem difundidas na sociedade através da imprensa para que ela veja, saiba, pense (ou seja, levada a pensar) de determinada maneira, contra ou a favor de tal país envolvido na guerra, de tal posicionamento político, etc.

O próprio Robert Capa sempre fotografou guerras incorporado-se a exércitos, usando o uniforme dos mesmos; denotando uma clara posição política ligada a um ou outro lado. A guerra fica mais próxima das pessoas, encantando-as com a morbidez presente no fato de ver-se representado numa fotografia, ainda que esta evidencie um espetáculo de autodestruição.

E o fotojornalismo heróico rendeu frutos: não foi só Robert Capa que arriscou sua vida para mostrar ao mundo cenas de guerra que estavam “esperando para serem transformadas em fotografias”, nas palavras do mesmo. O que dizer da transmissão ao vivo e 24 horas da Guerra do Iraque e das conseqüentes dezenas de jornalistas mortos ou seqüestrados?

O fotojornalista-herói torna-se, por assim dizer, um mito, da mesma maneira que as imagens produzidas por ele. As fotografias tornam-se o ponto central (e mais chocante) da reportagem, dando a ela um caráter próximo do cinematográfico.

As fotografias produzidas para serem vistas pela massa, ou seja, com o propósito da divulgação intensa, carregam em si uma forte mensagem a ser facilmente percebida; bem diferente das fotografias mais conceituais das vanguardas. Quem não percebe a monumentalização do oprimido nas fotografias de Sebastião Salgado? É claro e sem disfarces; Salgado quer mostrar ao mundo realidades duras, com o objetivo de conscientizar as pessoas.

Quanto a Capa, pode-se dizer que foi o grande responsável por eternizar o dia D, o massacre das tropas aliadas e sua vitória no nosso imaginário. As imagens tremidas e embaçadas só contribuem para dar ainda mais veracidade ao momento captado pelas lentes desse fotógrafo, que morreu ao pisar numa mina terrestre quando cobria a Guerra da Indochina (ou Vietnã) do lado das tropas francesas.

Helô Louzada é jornalista e estudante de História

(As três primeiras imagens são de Robert Capa, a quarta é de Sebastião Salgado)

2 comentários:

du ribeiro disse...

porra devia ser foda tirar fotos na guerra.... heuheu deve ser maior adrenalina!!...
otimos artigos helo
ta escrevendo bem :)

Allan Brito disse...

é esse jornalismo que fascina!!!
E não me refiro somente ao heroísmo do Capa, mas também ao belo texto, parabéns Helô Louzada!