15.10.06

Causos - A bruxinha que era boa

Causos - A bruxinha que era boa
por Carol Bataier

Fazer teatro no interior é difícil. Requer paciência, criatividade, imaginação e muita paixão. E quando falo interior, não estou me referindo a Campinas, Rio Preto ou mesmo Bauru. Digo Dois Córregos, Duartina, Ubirajara, Guarapuã. Já ouviram falar?

Pois é. Existe teatro por esses lados também. É difícil. Falta ator, falta dinheiro, falta palco, falta público. Quando não é uma coisa é outra. Mas isso acaba gerando experiência. E muitas histórias!

Certa vez, um amigo reuniu um grupo de crianças e resolveu montar “A bruxinha que era boa”, da Maria Clara Machado. Ensaiaram, fizeram o cenário, pintaram, lixaram, cortaram. Ficou simples. Uma gracinha.

Apresentaram na cidade e foi um sucesso. Todas as crianças adoraram e queriam ver de perto a bruxinha. Queriam subir no palco. Queriam conversar com os atores. Algumas queriam bater no bruxo.

O diretor, empolgado e feliz com o resultado teve uma brilhante idéia: levar a peça para outras cidades. E a primeira apresentação não seria bem em uma cidade, mas em um distrito. Lugar de uns dois mil habitantes. Os pequenos atores aceitaram, igualmente empolgados com o sucesso.

Então veio a parte chata: ligar para a prefeitura, arrumar transporte. Depois de muita burocracia, conseguiram o que a prefeitura disse ser um ônibus.

Quando as crianças viram aquela coisa motorizada, empoeirada, sem calotas, sem uma das portas laterais e com a inscrição “RURAL”, se assustaram. E a personagem principal, uma loirinha com cara de boneca de porcelana, disse que não entrava naquilo lá de jeito nenhum. Fez bico, chorou. Depois de muita conversa, convenceram a menina a entrar no “ônibus”.

Chegaram na escola onde seria apresentação. Montaram tudo na correria, já que perderam no mínimo meia hora convencendo a princesinha-bruxinha a seguir viagem.

Em certa cena, a famosa bruxinha boa era presa no alto de uma torre. A torre era feita de papelão, e a menina colocava o rostinho na janela, e lá ficava, em cima de uma escada, fazendo carinha de tristeza. E não é que exatamente neste momento da peça a torre desabou?! E lá ficou a menininha em cima da escada! A cara de tristeza foi se intensificando, virou um beiço enorme, o nariz avermelhou-se e ela começou a gritar: - Ahhhh! Eu não quero maaaaiiiis! Dá tudo errado na minha viiidaaaa! Eu quero minha mãããeeee!

A platéia, composta de crianças, dividiu-se: parte dela começou a gargalhar; e outra parte ficou séria, entre o susto e o choro.

Depois do escândalo, a cena prosseguiu normalmente. E o diretor jura que até hoje não entende se aquilo foi um ataque de nervosismos que a menininha teve ou se foi um lance de uma atriz muito boa, que conseguiu com sua interpretação desviar a atenção da platéia, que, estarrecida, nem se deu conta da queda da torre, como se aquilo fosse parte da peça.

Anos depois, não mais no interior, a mesma menina ganhou prêmios de teatro. E jura que tudo o que sabe veio da experiência adquirida por esses lados.


Carol Bataier é estudante de jornalismo

2 comentários:

Anderson Ribeiro disse...

Que texto gostoso de ler. Leve, atrativo e envolvente.

Jeferson farias disse...

Também achei!Olha q o q eu procurava era a peça hem!Mas o texto me fez até me sentir melhor!
Pq vou faze o papel do Pedrinho!